Neste blogue discutiremos 4 temas: 1. A linguagem enganosa. 2 As estruturas e os processos de desumanização criados pelas oligocracias contra a democracia. 3. A economia política (e.g. Petty, Smith, Ricardo, Sismondi), remodelada e crismada (no fim do século XIX) de "economia matemática", a qual teria o direito de se proclamar "ciência económica" (Ingl. economics) — um direito que não lhe será reconhecido aqui. 4. A literatura imaginativa (prosa e poesia).

30 novembro, 2025

 

OLHOS QUE NOS OLHAM

Luís M. Loureiro [*]

 

Quando olho para os vinte e poucos anos de idade da maior parte dos estudantes, a quem tento passar umas noções daquilo que o Jornalismo deveria ser, interrogo-me.

Acerca dos olhos que olho.

Acerca do futuro que eles vêem.

Quando, eu próprio, tinha os vinte e poucos anos que elas e eles têm, os meus olhos viam um mundo onde se desfaziam muros, onde as barreiras geopolíticas se pareciam despedaçar a cada notícia que, avidamente, eu lia, escutava e via, da primeira à última palavra.

Os meus olhos são os de um privilegiado. Mostraram-me, mesmo que hoje eu saiba que fui ludibriado, um mundo onde eu e todos à minha volta podíamos ter um futuro. Melhor ainda: os meus olhos mostravam-me um mundo onde eu podia sonhar.

Um mundo que eu podia sonhar.

Será que é isso que vêem os olhos dos estudantes que tenho, todos os dias, à frente dos meus? Será que é isso que olham os olhos que me olham?

Talvez eu ainda veja pelos olhos do miúdo de vinte e poucos anos que via futuros e sonhos. Acho que é por causa disso que recuso a ideia de que a nossa humanidade se tenha perdido de tal forma, que já não haja esperança para o humano. Pelo contrário, os meus olhos de miúdo ainda crêem que há, naquilo que em nós é profundamente humano, a força para nos resgatarmos.

Foi isso, certamente, que me levou a dizer sim, sem reservas, aos proponentes da Conferência Europeia e Cidadã para a Paz na Ucrânia, na Rússia e na Europa, que amanhã [22 de Novembro de 2025] se realiza em Lisboa [2]. Porque são gente que pensa, de facto, a Paz. Gente que a procura, tão avidamente como eu, quando a olhava no meu futuro e nos meus sonhos de miúdo de vinte e poucos anos.




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Notas editoriais

[1] Luís M. Loureiro é professor auxiliar e investigador no Departamento de Ciências da Comunicação da Universidade do Minho. Este texto ⎼ que aqui reproduzi com a devida vénia e com um forte abraço de amizade ⎼ foi originalmente publicado no seu painel de Facebook [JCS]

[2] Luís M. Loureiro participou nesta conferência de duas maneiras: como um dos 62 signatários iniciais da sua convocatória e como moderador do seu primeiro painel temático, intitulado: Testemunhos da guerra e vida quotidiana na Donbass, no qual participaram Guy Mettan (Suíça), Christelle Néant (França), Benoît Paré (França), Jean-Christophe Emmeneger (Suíça) e  Patrik Baab (Alemanha).

 [v. https://citizenpeaceineurope2025.blogspot.com/2025/11/testimonies-of-war-and-life-in.html]

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