OLHOS QUE NOS OLHAM
Luís M. Loureiro [*]
Quando
olho para os vinte e poucos anos de idade da maior parte dos estudantes, a quem
tento passar umas noções daquilo que o Jornalismo deveria ser, interrogo-me.
Acerca
dos olhos que olho.
Acerca
do futuro que eles vêem.
Quando,
eu próprio, tinha os vinte e poucos anos que elas e eles têm, os meus olhos
viam um mundo onde se desfaziam muros, onde as barreiras geopolíticas se
pareciam despedaçar a cada notícia que, avidamente, eu lia, escutava e via, da
primeira à última palavra.
Os
meus olhos são os de um privilegiado. Mostraram-me, mesmo que hoje eu saiba que
fui ludibriado, um mundo onde eu e todos à minha volta podíamos ter um futuro.
Melhor ainda: os meus olhos mostravam-me um mundo onde eu podia sonhar.
Um
mundo que eu podia sonhar.
Será
que é isso que vêem os olhos dos estudantes que tenho, todos os dias, à frente
dos meus? Será que é isso que olham os olhos que me olham?
Talvez
eu ainda veja pelos olhos do miúdo de vinte e poucos anos que via futuros e
sonhos. Acho que é por causa disso que recuso a ideia de que a nossa humanidade
se tenha perdido de tal forma, que já não haja esperança para o humano. Pelo
contrário, os meus olhos de miúdo ainda crêem que há, naquilo que em nós é
profundamente humano, a força para nos resgatarmos.
Foi
isso, certamente, que me levou a dizer sim, sem reservas, aos proponentes da Conferência Europeia
e Cidadã para a Paz na Ucrânia, na Rússia e na Europa, que amanhã [22 de Novembro de 2025] se realiza em Lisboa [2]. Porque são
gente que pensa, de facto, a Paz. Gente que a procura, tão avidamente como eu,
quando a olhava no meu futuro e nos meus sonhos de miúdo de vinte e poucos
anos.
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Notas editoriais
[1] Luís
M. Loureiro é professor auxiliar e investigador no Departamento
de Ciências da Comunicação da Universidade do Minho. Este texto ⎼ que aqui reproduzi com a
devida vénia e com um forte abraço de amizade ⎼ foi
originalmente publicado no seu painel de Facebook [JCS]
[2] Luís M. Loureiro participou nesta conferência de duas maneiras: como um dos 62 signatários iniciais da sua convocatória e como moderador do seu primeiro painel temático, intitulado: Testemunhos da guerra e vida quotidiana na Donbass, no qual participaram Guy Mettan (Suíça), Christelle Néant (França), Benoît Paré (França), Jean-Christophe Emmeneger (Suíça) e Patrik Baab (Alemanha).
[v. https://citizenpeaceineurope2025.blogspot.com/2025/11/testimonies-of-war-and-life-in.html]

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