TERTÚLIA ORWELLIANA

Neste blogue discutiremos 4 temas: 1. A linguagem enganosa. 2 As estruturas e os processos de desumanização criados pelas oligocracias contra a democracia. 3. A economia política (e.g. Petty, Smith, Ricardo, Sismondi), remodelada e crismada (no fim do século XIX) de "economia matemática", a qual teria o direito de se proclamar "ciência económica" (Ingl. economics) — um direito que não lhe será reconhecido aqui. 4. A literatura imaginativa (prosa e poesia).

03 outubro, 2025

 Temas 1 e 2

Alargamento da OTAN:

O que foi dito a Gorbachev

(Parte III)

(Tradução de Fernando Oliveira [*])

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12 de Setembro de 1990, em Moscovo. As Quatro Potências ocupantes da Alemanha  e garantes do estatuto quadripartido de ocupação estabelecido em 1945, juntamente com representantes das duas Alemanhas (a de Oeste [RFA] e a de Leste [RDA]) assinam o Tratado «Dois Mais Quatro» sobre o Acordo Final relativo à Alemanha, selando o estatuto internacional definitivo da Alemanha “reunificada”. Da esquerda para a direita, em segunda fila, a partir do terceiro homem: Eduard Shevardnadze (ministro dos Negócios Estrangeiros da URSS), James Baker (ministro do Negócios Estrangeiros dos EUA), Hans-Dietrich Genscher (ministro dos Negócios Estrangeiros da RFA) e  Douglas Hurd (Ministro dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido). Na primeira fila, da esquerda para a direita: Roland Dumas (ministro dos Negócios Estrangeiros da França), Mikhail Gorbachev (presidente da URSS), Lothar de Maizière (ministro dos Negócios Estrangeiros da RDA). Fonte: Presse- und Informationsamt der Bundesregierung (BPA), 10117 Berlin, Dorotheenstr. 84. http://www.bundesregierung.de/Webs/Breg/DE/ Homepage/home.html.

Documento 15

Sir R. Braithwaite (Moscovo). Telegrama N. 667: “Reunião do Secretário de Estado com o Presidente Gorbachev.”

11 de Abril de 1990

Fonte

Documents on British Policy Overseas, series III, volume VII: German Unification, 1989-1990(Foreign and Commonwealth Office. Documents on British Policy Overseas, edited by Patrick Salmon, Keith Hamilton e Stephen Twigge, Oxford and New York, Routledge 2010), pp. 373-375.

 

O telegrama do Embaixador Braithwaite [embaixador do Reino Unido em Moscovo] resume a reunião entre o Ministro dos Negócios Estrangeiros e da Commonwealth, Douglas Hurd, e o Presidente Gorbachev, registando o “humor expansivo” de Gorbachev. Este pede ao Ministro que lhe transmita o seu apreço pela carta que Margaret Thatcher lhe enviou após a cimeira com Kohl, na qual, segundo Gorbachev, ela seguiu as linhas de política que Gorbachev e Thatcher discutiram na sua recente conversa telefónica, com base na qual o governante soviético concluiu que «as posições britânicas e soviéticas eram de facto muito próximas». Hurd avisa Gorbachev de que as suas posições não são 100% concordantes, mas que os britânicos «reconheceram a importância de não fazer nada que prejudicasse os interesses e a dignidade soviéticos». Gorbachev, tal como reflectido no resumo de Braithwaite, fala da importância de construir novas estruturas de segurança como forma de lidar com o problema das duas Alemanhas:

«Se estamos a falar de um diálogo comum sobre uma nova Europa que se estende do Atlântico aos Urais, essa era uma forma de lidar com a questão alemã

Isso exigiria um período de transição para acelerar o ritmo do processo europeu e «sincronizá-lo com a procura de uma solução para o problema das duas Alemanhas». Contudo, se o processo fosse unilateral – apenas a Alemanha na OTAN e sem ter em conta os interesses de segurança soviéticos – seria muito pouco provável que o Soviete Supremo aprovasse essa solução e a União Soviética questionaria a necessidade de acelerar a redução das suas armas convencionais na Europa. Na sua opinião, a adesão da Alemanha à OTAN sem progressos nas estruturas de segurança europeias «poderia perturbar o equilíbrio da segurança, o que seria inaceitável para a União Soviética.»

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5 de Maio de 1990. Imagem de grupo num prado no rio Reno: da esquerda para a direita: Markus Meckel (RDA), Hans-Dietrich Genscher (RFA), Eduard Schewardnadse (URSS), James Baker (EUA), Roland Dumas (França) e Douglas Hurd (Grã-Bretanha). A primeira ronda da conferência Dois mais Quatro” dos ministros dos Negócios Estrangeiros dos dois Estados alemães e das quatro forças aliadas (Reino Unido, França, EUA, URSS) teve início em 5 de Maio de 1990. Foto: dpa


Documento 16

Memorando de Valentin Falin para Mikhail Gorbachev (excertos)

18 de Abril de 1990

Fonte

Mikhail Gorbachev i germanskii vopros, editado por Alexander Galkin e Anatoly Chernyaev, (Moscow: Ves Mir, 2006), pp. 398-408

Este memorando do mais alto especialista do Comité Central sobre a Alemanha soa como uma chamada de atenção para Gorbachev. Falin coloca a questão em termos directos: embora a política europeia soviética tenha caído na inactividade e mesmo na “depressão” após as eleições de 18 de Março na Alemanha de Leste, e Gorbachev tenha deixado Kohl acelerar o processo de reunificação, os seus compromissos em relação à Alemanha na OTAN só podem levar ao afastamento do seu principal objectivo para a Europa — a casa comum europeia.

«Resumindo os últimos seis meses, é forçoso concluir que a ‘casa comum europeia’, que costumava ser uma tarefa concreta que os países do continente estavam a começar a implementar, está agora a transformar-se numa miragem

Enquanto o Ocidente se dirige a Gorbachev com falinhas mansas para que aceite a reunificação alemã na OTAN, Falin observa (correctamente) que «os Estados ocidentais já estão a violar o princípio do consenso ao fazerem acordos preliminares entre si» relativamente à reunificação alemã e ao futuro da Europa que não incluem uma «longa fase de desenvolvimento construtivo». Falin nota que o Ocidente está a «cultivar intensamente não só a OTAN, mas também os nossos aliados do Pacto de Varsóvia» com o objectivo de isolar a URSS no quadro do ‘Dois-Mais-Quatro’ e da CSCE.

Comenta ainda que já não se ouvem vozes razoáveis:

«Genscher continua, de tempos a tempos, a discutir a aceleração do movimento em direcção à segurança colectiva europeia com a ‘dissolução da OTAN e do Pacto de Varsóvia na mesma’... Mas muito poucas pessoas ...ouvem Genscher».

Falin propõe a utilização dos direitos das quatro potências para conseguir um acordo formal juridicamente vinculativo, equivalente a um tratado de paz, que garanta os interesses de segurança soviéticos, como «a nossa única hipótese de encaixar a reunificação alemã no processo pan-europeu». Sugere também a utilização das negociações de controlo de armamento em Viena e Genebra como alavanca se o Ocidente continuar a tirar partido da flexibilidade soviética. O memorando sugere disposições específicas para o acordo final com a Alemanha, cuja negociação demoraria muito tempo e proporcionaria uma janela para a construção de estruturas europeias. Mas a ideia principal do memorando é alertar Gorbachev para não ser ingénuo quanto às intenções dos seus parceiros americanos:

«O Ocidente está a derrotar-nos, prometendo respeitar os interesses da URSS, mas na prática, passo a passo, está a separar-nos da ‘Europa tradicional’».

Documento 17

James A. Baker III, Memorando para o Presidente, “A minha reunião com Shevardnadze.”

4 de Maio de 1990

Fonte

Biblioteca Presidencial George H. W. Bush, NSC Scowcroft Files, Box 91126, Folder “Gorbachev (Dobrynin) Sensitive 1989 – June 1990 [3]”

 

O Secretário de Estado acabara de passar quase quatro horas reunido com o Ministro dos Negócios Estrangeiros soviético em Bona, a 4 de Maio de 1990, abordando uma série de assuntos, mas centrando-se na crise na Lituânia e nas negociações sobre a reunificação alemã. Tal como nas conversações de Fevereiro e ao longo do ano, Baker esforçou-se por dar garantias aos soviéticos sobre a sua inclusão no futuro da Europa. Baker relata:

«Utilizei também o seu discurso e o nosso reconhecimento da necessidade de adaptar a OTAN, política e militarmente, e de desenvolver a CSCE para tranquilizar Shevardnadze de que o processo não produziria vencedores nem vencidos. Produziria, isso sim, uma nova estrutura europeia legítima – que seria inclusiva, não exclusiva».

A resposta de Shevardnadze indica que «a nossa discussão sobre a nova arquitectura europeia era compatível com grande parte do pensamento deles, embora o seu pensamento ainda estivesse a ser desenvolvido». Baker relata que Shevardnadze «sublinhou mais uma vez a dificuldade psicológica que eles têm – especialmente o público soviético – de aceitar uma Alemanha reunificada na OTAN». Com perspicácia, Baker prevê que Gorbachev não «assumirá agora este tipo de questão política de grande carga emocional» e só o fará provavelmente depois do Congresso do Partido em Julho.

Documento 18

Registo da conversa entre Mikhail Gorbachev e James Baker em Moscovo.

18 de Maio de 1990

Fonte

Arquivo da Fundação Gorbachev, Fond 1, Opis 1.

Esta conversa fascinante abrange uma série de questões de controlo de armamento em preparação para a cimeira de Washington e inclui discussões extensas, embora inconclusivas, sobre a reunificação alemã e as tensões nos países bálticos, em especial o impasse entre Moscovo e a Lituânia secessionista.

Gorbachev faz uma tentativa acalorada de persuadir Baker de que a Alemanha deve reunificar-se fora dos principais blocos militares, no contexto do processo totalmente europeu. Baker dá a Gorbachev uma garantia de nove pontos para provar que a sua posição está a ser tida em conta. O ponto oito é o mais importante para Gorbachev – que os Estados Unidos estão «a fazer um esforço em vários fóruns para acabar por transformar a CSCE numa instituição permanente que se tornaria numa pedra angular importante de uma nova Europa

Apesar desta garantia, quando Gorbachev menciona a necessidade de construir novas estruturas de segurança para substituir os blocos, Baker deixa escapar uma reacção pessoal que revela muito sobre a verdadeira posição dos EUA sobre o assunto:

«É bom falar de estruturas de segurança pan-europeias, do papel da CSCE. É um sonho maravilhoso, mas apenas um sonho. Entretanto, a OTAN existe...»

Gorbachev sugere que, se os EUA insistirem na adesão da Alemanha à OTAN, então ele «anunciará publicamente que também queremos aderir à OTAN». Shevardnadze vai mais longe, oferecendo uma observação profética:

«se a Alemanha reunificada aderir à OTAN, a Perestroika vai rebentar. O nosso povo não nos vai perdoar. As pessoas dirão que acabámos por ser os perdedores e não os vencedores

Documento 19

Registo da conversa entre Mikhail Gorbachev e Francois Mitterrand (excertos).

25 de Maio de 1990

Fonte

Mikhail Gorbachev i germanskii vopros, editado por Alexander Galkin e Anatoly Chernyaev, (Moscow: Ves Mir, 2006), pp. 454-466

 

Gorbachev sentia que, de todos os europeus, o Presidente francês era o seu aliado mais próximo na construção de uma Europa pós-Guerra Fria, porque o dirigente soviético acreditava que Mitterrand partilhava o seu conceito de casa comum europeia e a ideia de dissolver os dois blocos militares a favor de novas estruturas de segurança europeias. E Mitterrand partilhava, até certo ponto, essa opinião.

François Mitterrand (presidente a República francesa) recebe Mikhail Gorbatchev (presidente da URSS) no palácio do Eliseu (Paris), em 1985. Foto: AFP.



Mikhail Gorbachev recebe o Presidente francês François Mitterrand em Moscovo em 9 de Julho de 1986. Foto:  Alexis DUCLOS/Gamma-Rapho via Getty Images


Nesta conversa, Gorbachev continua a tentar persuadir o seu homólogo a juntar-se a ele na oposição à reunificação alemã na OTAN. Mitterrand é bastante directo, dizendo a Gorbachev que é demasiado tarde para lutar contra esta questão e que não daria o seu apoio, porque «se eu disser ‘não’ à adesão da Alemanha à OTAN, ficarei isolado dos meus parceiros ocidentais».

No entanto, Mitterrand sugere a Gorbachev que exija «garantias adequadas» da OTAN. Fala do perigo de isolar a União Soviética na nova Europa e da necessidade de «criar condições de segurança para vós, bem como para a segurança europeia no seu conjunto. Este foi um dos meus objectivos orientadores, especialmente quando propus a minha ideia de criar uma confederação europeia. É semelhante ao vosso conceito de uma casa comum europeia»

Nas recomendações que faz a Gorbachev, Mitterrand está basicamente a repetir as linhas do memorando Falin (ver Documento 16). Diz que Gorbachev deve esforçar-se por chegar a um acordo formal com a Alemanha utilizando os direitos que lhe assistem nas Quatro Potências e usar a influência das negociações de controlo de armamento das convenções:

«Não deve abandonar um trunfo como as negociações de desarmamento.»

Dá a entender que a OTAN não é a questão fundamental neste momento e que pode ser abafada em futuras negociações; o importante é assegurar a participação soviética no novo sistema de segurança europeu. Repete que é «pessoalmente a favor do desmantelamento gradual dos blocos militares

Gorbachev manifesta a sua desconfiança e suspeita em relação aos esforços dos EUA para «perpetuar a OTAN», para «usar a OTAN na criação de uma espécie de mecanismo, uma instituição, uma espécie de directório para gerir os assuntos mundiais». Fala a Mitterrand sobre a sua preocupação de que os EUA estejam a tentar atrair os europeus de Leste para a OTAN:

«Disse a Baker: “estamos cientes da sua atitude favorável em relação à intenção manifestada por alguns representantes de países da Europa Oriental de se retirarem do Pacto de Varsóvia e, subsequentemente, aderirem à OTAN”. E quanto à adesão da URSS?»

Caminhada pelo bosque circundante dos presidentes russo e francês, Mikhail Gorbachev e François Mitterrand, em Latche, nas Landes (França) em 30 de Outubro de 1991. Foto:  Archives Michel Lacroix/ “Sud Ouest”

Mitterrand aceita apoiar Gorbachev nos seus esforços para encorajar os processos pan-europeus e assegurar que os interesses de segurança soviéticos são tidos em conta, desde que não tenha de dizer “não” aos alemães. Afirma:

«Sempre disse aos meus parceiros da OTAN: comprometam-se a não deslocar as formações militares da OTAN do seu actual território na RFA para a Alemanha Oriental

Documento 20

Carta de Francois Mitterrand para George Bush

25 de Maio de 1990

Fonte

Biblioteca Presidencial George H. W. Bush, NSC Scowcroft Files, FOIA 2009-0275-S

Fiel à sua palavra, Mitterrand escreve uma carta a George Bush descrevendo a situação de Gorbachev sobre a questão da reunificação alemã na OTAN, chamando-lhe genuína e não «falsa ou táctica». Adverte o Presidente americano para que não o faça como um facto consumado sem o consentimento de Gorbachev, insinuando que Gorbachev poderia retaliar sobre o controlo de armas (exactamente o que o próprio Mitterrand – e Falin antes – sugerira na sua conversa). Mitterrand defende um «acordo de paz formal de acordo com o direito internacional» e informa Bush de que, na sua conversa com Gorbachev, este «indicou que, do lado ocidental, não recusaríamos certamente pormenorizar as garantias que ele teria o direito de esperar para a segurança do seu país». Mitterrand considera que «devemos tentar dissipar as preocupações do Sr. Gorbatchev» e oferece-se para apresentar «um certo número de propostas» sobre essas garantias quando ele e Bush se encontrarem pessoalmente.

Documento 21

Registo da conversa entre Mikhail Gorbachev e George Bush. Casa Branca, Washington D.C.

31 de Maio de 1990

Fonte

Arquivo da Fundação Gorbachev, Moscovo, Fond 1, opis 1.[13]

 

Nesta famosa discussão das “duas âncoras”, as delegações americana e soviética deliberam sobre o processo de reunificação alemã e, em especial, sobre a questão da adesão de uma Alemanha reunificada à OTAN. Bush tenta persuadir o seu homólogo a reconsiderar os seus receios em relação à Alemanha, baseados no passado, e a encorajá-lo a confiar na nova Alemanha democrática. O Presidente dos EUA afirma:

«Acreditem, não estamos a empurrar a Alemanha para a reunificação e não somos nós que determinamos o ritmo deste processo. E, claro, não temos qualquer intenção, nem mesmo nos nossos pensamentos, de prejudicar a União Soviética de qualquer forma. É por isso que nos pronunciamos a favor da reunificação alemã na OTAN, sem ignorar o contexto mais vasto da CSCE, tendo em consideração os laços económicos tradicionais entre os dois Estados alemães. Tal modelo, na nossa opinião, corresponde também aos interesses soviéticos

1 de Junho de 1990. Os Presidentes George H. W. Bush e Mikhail Gorbachev assinam acordos entre ao Estados Unidos e a União Soviética na Sala Leste da Casa Branca. Foto: Biblioteca e Museu Presidencial George Bush.


Baker repete as nove garantias feitas anteriormente pela Administração, incluindo que os Estados Unidos concordam agora em apoiar o processo pan-europeu e a transformação da OTAN para eliminar a percepção soviética de ameaça. A posição preferida de Gorbachev é a Alemanha com um pé na OTAN e no Pacto de Varsóvia – as “duas âncoras” – criando uma espécie de membro associado.

Baker intervém, dizendo que «as obrigações simultâneas de um mesmo país para com o Pacto de Varsóvia e a OTAN cheiram a esquizofrenia». Depois de o Presidente dos EUA enquadrar a questão no contexto do acordo de Helsínquia, Gorbachev propõe que o povo alemão tenha o direito de escolher a sua aliança – o que, no fundo, já tinha afirmado a Kohl durante o encontro de Fevereiro de 1990.

Neste ponto, Gorbachev excede significativamente o seu mandato e incorre na ira de outros membros da sua delegação, especialmente do drigente com a pasta alemã, Valentin Falin, e do marechal Sergey Akhromeyev. Gorbachev lança um aviso importante sobre o futuro:

«Se o povo soviético ficar com a impressão de que somos ignorados na questão alemã, todos os processos positivos na Europa, incluindo as negociações em Viena [sobre as forças convencionais], correrão um sério risco. Isto não é apenas bluff. É simplesmente o facto de o povo nos obrigar a parar e a olhar em volta».

É um reconhecimento notável das pressões políticas internas sobre o último dirigente soviético.

Documento 22

Carta de Mr. Powell (N. 10) para Mr. Wall: Memorando da conversa Thatcher-Gorbachev.

8 de Junho de 1990

Fonte

Documents on British Policy Overseas, series III, volume VII: German Unification, 1989-1990 (Foreign and Commonwealth Office. Documents on British Policy Overseas, editado por Patrick Salmon, Keith Hamilton e Stephen Twigge, Oxford and New York, Routledge 2010), pp 411-417

Margareth Thatcher visita Gorbachev logo após este regressar a casa depois da cimeira com George Bush. Entre as muitas questões abordadas na conversa, o centro de gravidade é a reunificação alemã e a OTAN, sobre as quais, observa Powell, as «opiniões de Gorbachev ainda estavam a evoluir». Em vez de concordar com a reunificação alemã na OTAN, Gorbachev fala da necessidade de a OTAN e o Pacto de Varsóvia se aproximarem, passando do confronto à cooperação para construir uma nova Europa:

«Temos de moldar as estruturas europeias para que nos ajudem a encontrar a casa comum europeia. Nenhuma das partes deve ter medo de soluções pouco ortodoxas


Embora Thatcher se oponha às ideias de Gorbachev, que não incluem a adesão plena da Alemanha à OTAN, e sublinhe a importância de uma presença militar dos EUA na Europa, também considera que «a CSCE poderia servir de guarda-chuva para tudo isto, para além de ser o fórum que levaria a União Soviética a participar plenamente na discussão sobre o futuro da Europa». Gorbachev diz que quer «ser completamente franco com a Primeira-Ministra», dizendo que se os processos se tornassem unilaterais, «poderia haver uma situação muito difícil [e a] União Soviética sentiria a sua segurança em perigo». Thatcher responde com firmeza que não era do interesse de ninguém pôr em causa a segurança soviética:

«Temos de encontrar formas de dar à União Soviética a confiança de que a sua segurança será salvaguardada».

 8 de Junho de 1990. A primeira-ministra do Reino Unido, Margaret Thatcher, aperta a mão do presidente soviético, Mikhail Gorbachev, no Palácio do Kremlin, em Moscovo, onde se reuniram para conversar no início da sua visita de quatro dias à URSS. Foto: Barry Batchelor/PA Archive/PA Images

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A Parte IV (a última) deste arquivo será publicada oportunamente neste blogue.

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NOTAS

[13] Publicado em inglês pela primeira vez em Savranskaya e Blanton, The Last Superpower Summits (2016), pp. 664-676.

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A Parte II deste arquivo pode ser lida aqui:

https://tertuliaorwelliana.blogspot.com/2025/09/alargamento-da-otan-o-que-foi-dito.html

A Parte I deste arquivo pode ser lida aqui:

https://tertuliaorwelliana.blogspot.com/2025/09/nota-editorial-introdutoria-ao-arquivo.html

O arquivo original encontra-se em:

https://nsarchive.gwu.edu/briefing-book/russia-programs/2017-12-12/nato-expansion-what-gorbachev-heard-western-leaders-early

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[*] O tradutor seguiu a ortografia anterior ao (des)acordo Ortográfico de 1990

 

20 setembro, 2025

 Temas 1 e2

Alargamento da OTAN:

O que foi dito a Gorbachev

(Parte II)

(Tradução de Fernando Oliveira [*])

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A PARTE I deste arquivo pode ser lida aqui:

https://tertuliaorwelliana.blogspot.com/2025/09/nota-editorial-introdutoria-ao-arquivo.html

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Washington DC. O ministro dos Negócios Estrangeiros da União Soviética, Eduard Shevardnadze (sentado à esquerda), e o Secretário de Estado dos EUA, James Baker III (sentado à direita) trocam canetas depois de terem assinado vários Tratados numa cerimónia que teve lugar na Casa Branca em 6-01-1990. O presidente da União Soviética,  Mikhail Gorbachev (em pé, à esquerda) e o presidente dos EUA, George Bush (em pé, à direita), observam o ritual. Foto da UPI. Fotógrafo Cliff Owen.

LEITURA DOS DOCUMENTOS

Documento 01

Telegrama confidencial da Embaixada dos EUA em Bona para o Secretário de Estado sobre o discurso do Ministro dos Negócios Estrangeiros Alemão: Genscher descreve a sua visão de uma Nova Arquitectura Europeia.

1 de Fevereiro de 1990

Fonte

U.S. Department of State. FOIA Reading Room. Case F-2015 10829

Um dos mitos relacionados com as discussões de Janeiro e Fevereiro de 1990 sobre a reunificação alemã é o de que estas conversações ocorreram muito cedo no processo, com o Pacto de Varsóvia ainda presente, que ninguém estava a pensar na possibilidade de os países da Europa Central e Oriental, ainda na altura membros do Pacto de Varsóvia, poderem no futuro tornar-se membros da OTAN.

Pelo contrário, a fórmula de Tutzing do Ministro dos Negócios Estrangeiros da RFA, no discurso proferido a de 31 de Janeiro de 1990 e amplamente divulgado pelos meios de comunicação social na Europa, em Washington e em Moscovo, abordou explicitamente a possibilidade de alargamento da OTAN, bem como da adesão da Europa Central e Oriental à OTAN — e negou essa possibilidade, como parte do seu ramo de oliveira dirigido a Moscovo. Este telegrama da Embaixada dos EUA em Bona, enviado a Washington, descreve em pormenor as duas propostas de Hans-Dietrich Genscher — que a OTAN não se alargaria para Leste e que o antigo território da RDA numa Alemanha reunificada seria tratado de forma diferente dos restantes territórios da OTAN.

Documento 02

Mr. Hurd para Sir C. Mallaby (Bona). Telegrama N. 85: Chamada do Secretário de Estado sobre Herr Genscher: Reunificação alemã.

6 de Fevereiro de 1990

Fonte

Documents on British Policy Overseas, series III, volume VII: German Unification, 1989-1990. (Foreign and Commonwealth Office. Documentos sobre a política externa britânica, editados por Patrick Salmon, Keith Hamilton e Stephen Twigge, Oxford and New York, Routledge 2010). pp. 261-264

A visão posterior do Departamento de Estado dos EUA sobre as negociações de reunificação alemã, expressa num telegrama de 1996 enviado a todos os postos, afirma erradamente que todo o processo de negociação sobre o futuro da Alemanha limitou as discussões relativas ao futuro da OTAN aos acordos específicos sobre o território da antiga RDA. É provável que os diplomatas americanos tenham perdido o diálogo inicial entre britânicos e alemães sobre esta questão, apesar de ambos terem compartilhado os seus pontos de vista com o Secretário de Estado dos EUA.

Como foi publicado na história documental oficial de 2010 do Ministério dos Negócios Estrangeiros e da Commonwealth da Grã-Bretanha sobre o contributo do Reino Unido para a reunificação alemã, este memorando da conversa entre o Ministro dos Negócios Estrangeiros britânico Douglas Hurd e o Ministro dos Negócios Estrangeiros da RFA Genscher, em 6 de Fevereiro de 1990, contém uma especificidade notável sobre a questão da futura adesão da Europa Central à OTAN. O memorando britânico cita especificamente Genscher como tendo dito

«que quando ele referiu que não pretendia alargar a OTAN isso se aplicava a outros Estados para além da RDA. É preciso dar aos russos alguma garantia de que se, por exemplo, o governo polaco um dia abandonar o Pacto de Varsóvia, não vai aderir à OTAN no dia seguinte».

Genscher e Hurd disseram o mesmo ao seu homólogo soviético Eduard Shevardnadze e a James Baker.[8]

Documento 03

Memorando de Paul H. Nitze para George H. W. Bush sobre a reunião do “Fórum para a Alemanha” em Berlim.

6 de Fevereiro de 1990

Fonte

Biblioteca Presidencial George H. W. Bush

Esta breve nota dirigida ao Presidente Bush por um dos arquitectos da Guerra Fria, Paul Nitze (baseado na sua homónima Escola de Estudos Internacionais da Universidade John Hopkins), capta o debate sobre o futuro da OTAN no início de 1990. Nitze conta que os governantes da Europa Central e Oriental presentes na conferência Fórum para a Alemanha, em Berlim, defendiam a dissolução dos dois blocos de superpotências, a OTAN e o Pacto de Varsóvia, até que ele (e alguns europeus ocidentais) inverteram essa opinião e, em vez disso, sublinharam a importância da OTAN como base da estabilidade e da presença dos EUA na Europa.

Documento 04

Memorando da conversa entre James Baker e Eduard Shevardnadze em Moscovo.

9 de Fevereiro de 1990

Fonte

U.S. Department of State, FOIA 199504567 (National Security Archive Flashpoints Collection, Box 38)

Apesar de ter sido alvo de uma profunda reescrita em comparação com os relatos soviéticos destas conversas, a versão oficial do Departamento de Estado quanto às garantias dadas pelo Secretário [de Estado dos EUA]  Baker ao Ministro dos Negócios Estrangeiros soviético Shevardnadze, imediatamente antes da reunião formal com Gorbachev em 9 de Fevereiro de 1990, contém uma série de frases reveladoras.

Eduard  Shevardnadze (à esquerda) e James Baker III (à direita), no primeiro de dois dias de conversações em Houston, EUA, em 10 de Dezembro de1990. Foto: AP Laserphoto.

Baker propõe a fórmula “Dois Mais Quatro”, em que os dois são as Alemanhas e os quatro as potências ocupantes do pós-guerra; argumenta contra outras formas de negociar a reunificação; e defende a ancoragem da Alemanha na OTAN. Além disso, Baker diz ao Ministro dos Negócios Estrangeiros soviético:

«Uma Alemanha neutral adquiriria sem dúvida a sua própria capacidade nuclear independente. No entanto, uma Alemanha firmemente ancorada numa OTAN modificada, ou seja, uma OTAN que é muito menos uma organização militar e muito mais uma organização política, não teria necessidade de uma capacidade independente».

Teria, evidentemente, de haver garantias irrefutáveis de que a jurisdição ou as forças da OTAN não se deslocariam para leste. E isto teria de ser feito de uma forma que satisfizesse os vizinhos da Alemanha a leste.

Documento 05

Memorando da conversa entre Mikhail Gorbachev e James Baker em Moscovo.

9 de Fevereiro de 1990

Fonte

U.S. Department of State, FOIA 199504567 (National Security Archive Flashpoints Collection, Box 38)

Mesmo com as sucessivas reescritas (injustificadas) por parte dos responsáveis pela classificação dos EUA, esta transcrição americana da talvez mais famosa garantia dos EUA aos soviéticos sobre o alargamento da OTAN confirma a transcrição soviética da mesma conversa. Repetindo o que Bush dissera na cimeira de Malta em Dezembro de 1989, Baker diz a Gorbachev: «O Presidente e eu deixámos claro que não procuramos qualquer vantagem unilateral neste processo» da inevitável reunificação alemã. Baker prossegue dizendo: «Compreendemos a necessidade de dar garantias aos países de Leste. Se mantivermos uma presença numa Alemanha que faça parte da OTAN, as forças da OTAN não alargarão a sua jurisdição para Leste nem um centímetro».

Mais adiante, na conversa, Baker reitera a mesma posição sob a forma de uma pergunta:

«preferiria uma Alemanha reunificada fora da OTAN, independente e sem forças americanas, ou uma Alemanha reunificada com ligações à OTAN e garantias de que não haveria alargamento da actual jurisdição da Organização para Leste?»

Moscovo, Kremlin, 1990. James Baker III (à esquerda) com Mikhail Gorbachev.
 

Os responsáveis pela desclassificação deste memorando reescreveram a resposta de Gorbachev de que, de facto, um tal alargamento seria “inaceitável” — mas a carta de Baker a Kohl no dia seguinte, publicada em 1998 pelos alemães, apresenta a citação.

Documento 06

Registo da conversa entre Mikhail Gorbachev e James Baker em Moscovo. (Excertos)

9 de Fevereiro de 1990

Fonte

Arquivo da Fundação Gorbachev, Fond 1, Opis 1.

Este registo da Fundação Gorbachev sobre o encontro do governante soviético com James Baker, a 9 de Fevereiro de 1990, é público e está disponível para os investigadores da Fundação desde 1996, embora só tenha sido publicado em inglês em 2010, quando saiu o volume Masterpieces of History dos presentes autores, pela Central European University Press. O documento centra-se na reunificação alemã, mas também inclui uma discussão franca de Gorbachev sobre os problemas económicos e políticos da União Soviética e os “conselhos gratuitos” de Baker («por vezes, desperta o Ministro das Finanças que há em mim») sobre preços, inflação e até sobre a política de venda de apartamentos para absorver os rublos que os cautelosos cidadãos soviéticos guardam debaixo do colchão.

Passando à reunificação alemã, Baker garante a Gorbachev que «nem o Presidente nem eu tencionamos extrair quaisquer vantagens unilaterais dos processos que estão em curso» e que os americanos compreendem a importância para a URSS e para a Europa das garantias de que «nem um centímetro da actual jurisdição militar da OTAN se alargará para Leste». Baker defende as conversações ‘Dois Mais Quatro’ utilizando a mesma garantia: «

Acreditamos que as consultas e discussões no âmbito do mecanismo ‘dois + quatro’ devem garantir que a reunificação da Alemanha não levará a que a organização militar da OTAN se estenda para Leste

Gorbachev responde citando o Presidente polaco Wojciech Jaruzelski: «que a presença de tropas americanas e soviéticas na Europa seja um elemento de estabilidade

A troca de impressões decisiva ocorre quando Baker pergunta se Gorbachev preferiria «uma Alemanha reunificada fora da OTAN, absolutamente independente e sem tropas americanas; ou uma Alemanha reunificada mantendo as suas ligações à OTAN, mas com a garantia de que a jurisdição ou as tropas da OTAN não se alargariam para Leste da actual fronteira

Ou seja, nesta conversa, o Secretário de Estado dos EUA oferece por três vezes garantias de que se a Alemanha reunificada aderisse à OTAN, preservando a presença dos EUA na Europa, então a Organização não se alargaria para Leste. Curiosamente, nem uma única vez utiliza o termo RDA ou Alemanha de Leste, nem sequer menciona a presença de tropas soviéticas na Alemanha de Leste. Para um negociador hábil e um advogado cuidadoso, parece muito improvável que Baker não utilizasse uma terminologia específica se, de facto, se estivesse a referir apenas à Alemanha Oriental.

O governante soviético responde que «vamos reflectir sobre tudo isso. Tencionamos discutir todas estas questões em profundidade ao nível da direcção. Escusado será dizer que um alargamento da zona da OTAN não é aceitável [pelo PCUS] ”. Baker afirma: “Estamos de acordo.”

Documento 07

Memorando da conversa entre Robert Gates e Vladimir Kryuchkov em Moscovo.

9 de Fevereiro de 1990

Fonte

Biblioteca Presidencial George H. W. Bush, NSC Scowcroft Files, Box 91128, Folder “Gorbachev (Dobrynin) Sensitive.”

Esta conversa é especialmente importante porque investigadores posteriores especularam que o Secretário de Estado Baker poderá ter ultrapassado o seu mandato ao afirmar «nem um centímetro para Leste» na sua conversa com Gorbachev. Robert Gates, antigo destacado analista de informações da CIA e especialista na URSS, afirma aqui ao seu homólogo, o chefe do KGB, no seu gabinete no quartel-general do KGB em Lubyanka, exactamente o que Baker disse a Gorbachev nesse dia no Kremlin: nem um centímetro para Leste.

Nessa altura, Gates era o principal adjunto do conselheiro de segurança nacional do Presidente, o general Brent Scowcroft, pelo que este documento refere uma abordagem coordenada do governo dos EUA a Gorbachev. Kryuchkov, que Gorbachev nomeara para substituir Viktor Chebrikov no KGB em Outubro de 1988, surge aqui como surpreendentemente progressista em muitas questões de reforma interna. Fala abertamente das deficiências e dos problemas da Perestroika, da necessidade de abolir o papel de chefia do PCUS, do errado abandono a que as questões étnicas foram votadas pelo governo central, do “atroz” sistema de preços e de outros temas internos.

Quando a discussão passa para a política externa, em particular para a questão alemã, Gates pergunta:

«O que é que Kryuchkov pensa da proposta Kohl/Genscher, segundo a qual uma Alemanha reunificada seria associada à OTAN, mas em que as tropas da OTAN não se deslocariam mais para Leste das posições actuais? Parece-nos ser uma boa proposta

Kryuchkov não dá uma resposta directa, mas refere como a questão da reunificação alemã é sensível para a opinião pública soviético e sugere que os alemães deveriam oferecer algumas garantias à União Soviética. Kohl e Genscher têm ideias interessantes, mas «mesmo os pontos das suas propostas com os quais concordamos teriam de ter garantias. Aprendemos com os americanos, nas negociações de controlo de armamento, a importância da verificação e teríamos de ter certezas

Documento 08

Carta de James Baker para Helmut Kohl

10 de Fevereiro de 1990

Fonte

Deutsche Enheit Sonderedition und den Akten des Budeskanzleramtes 1989/90, eds. Hanns Jurgen Kusters e Daniel Hofmann (Munich: R. Odenbourg Verlag, 1998), pp. 793-794

Este documento fundamental apareceu pela primeira vez na edição académica dos documentos da chancelaria de Helmut Kohl sobre a reunificação alemã, publicada em 1998. Na altura, Kohl estava envolvido numa campanha eleitoral que iria colocar ponto final ao seu mandato de 16 anos como Chanceler e queria recordar aos alemães o seu papel fundamental no triunfo da reunificação.[9] O grande volume (mais de 1000 páginas) incluía textos em alemão dos encontros de Kohl com Gorbachev, Bush, Mitterrand, Thatcher e outros – todos publicados sem qualquer consulta aparente a esses governos, apenas oito anos após os acontecimentos. Alguns dos documentos de Kohl, como este, aparecem em inglês, representando os originais americanos ou britânicos em vez de notas ou traduções alemãs. Aqui, Baker informa Kohl no dia seguinte ao seu encontro de 9 de Fevereiro com Gorbachev. (Está previsto que o Chanceler tenha a sua própria sessão com Gorbachev a 10 de Fevereiro em Moscovo). O americano informa o alemão sobre as “preocupações” soviéticas em relação à reunificação e sintetiza a razão pela qual uma negociação “Dois Mais Quatro” seria a sede mais adequada para as conversações sobre os «aspectos externos da reunificação», dado que os «aspectos internos... eram estritamente um assunto alemão

Baker comenta em especial a resposta não comprometedora de Gorbachev à pergunta sobre uma Alemanha neutra versus uma Alemanha OTAN com compromissos contra o alargamento para Leste, e adverte Kohl de que Gorbachev «pode estar disposto a aceitar uma abordagem sensata que lhe dê alguma cobertura...» Mais tarde nesse mesmo dia, Kohl reforça esta mensagem na sua própria conversa com o dirigente soviético.

Documento 09

Memorando da conversa entre Mikhail Gorbachev e Helmut Kohl

10 de Fevereiro de 1990

Fonte

Mikhail Gorbachev i germanskii vopros, editada por Alexander Galkin e Anatoly Chernyaev, (Moscow: Ves Mir, 2006)

Segundo Kohl, este encontro em Moscovo foi o momento em que ouviu pela primeira vez de Gorbachev que o dirigente soviético via a reunificação alemã como inevitável, que o valor da futura amizade alemã numa “casa comum europeia” superava a rigidez da Guerra Fria, mas que os soviéticos precisariam de tempo (e dinheiro) antes de poderem reconhecer as novas realidades.

Junho de 1989. Helmut Kohl com Mikhail Gorbachev em Bad Godesberg (Foto: Governo da RFA. Fotógrafo: Burkhard Jüttner)

Preparado pela carta de Baker e pela fórmula de Tutzing do seu próprio Ministro dos Negócios Estrangeiros, Kohl assegura a Gorbachev, logo no início da conversa, que «acreditamos que a OTAN não deve alargar a sua esfera de actividades. Temos de encontrar uma solução razoável. Compreendo perfeitamente os interesses de segurança da União Soviética e sei que o senhor Secretário-geral e os dirigentes soviéticos terão de explicar claramente ao povo soviético o que se está a passar.» Mais tarde, os dois dirigentes discutiram sobre a OTAN e o Pacto de Varsóvia, com Gorbachev a comentar: «Dizem o que é a OTAN sem a RFA. Mas também poderíamos perguntar: o que é a Organização do Pacto de Varsóvia (OPV) sem a RDA?». Quando Kohl discorda, Gorbachev apela simplesmente a «soluções razoáveis que não envenenem a atmosfera das nossas relações» e diz que esta parte da conversa não deve ser tornada pública.

Andrei Grachev, assessor de Gorbachev, escreveu mais tarde que o dirigente soviético compreendeu desde cedo que a Alemanha era a porta para a integração europeia e que «todas as tentativas de negociação [de Gorbachev] sobre a fórmula final para a associação da Alemanha à OTAN eram, portanto, muito mais uma questão de forma do que de conteúdo sério; Gorbachev estava a tentar ganhar o tempo necessário para permitir que a opinião pública interna se adaptasse à nova realidade, ao novo tipo de relações que estavam a tomar forma nas relações da União Soviética com a Alemanha, bem como com o Ocidente em geral. Ao mesmo tempo, esperava obter dos seus parceiros ocidentais uma compensação política, pelo menos parcial, por aquilo que considerava ser a sua principal contribuição para o fim da Guerra Fria.»[10]

Documento 10-1

Notas de Teimuraz Stepanov-Mamaladze na Conferência sobre o Regime de Céu Aberto, Otava, Canadá.

12 de Fevereiro de 1990

Fonte

Hoover Institution Archive, Stepanov-Mamaladze Collection.

O Ministro dos Negócios Estrangeiros soviético, Shevardnadze, estava particularmente descontente com o ritmo acelerado dos acontecimentos relativos à reunificação alemã, sobretudo quando uma reunião dos Ministros dos Negócios Estrangeiros da OTAN e do Pacto de Varsóvia, previamente agendada para Otava, no Canadá, de 10 a 12 de Fevereiro de 1990, e destinada a discutir o tratado ‘Céu Aberto’, se transformou numa ampla negociação para resolver os pormenores sobre a Alemanha e a instalação do processo ‘Dois Mais Quatro’.

O adjunto de Shevardnadze, Teimuraz Stepanov-Mamaladze, redigiu notas sobre as reuniões de Otava numa série de cadernos de apontamentos e manteve também um diário menos telegráfico, que tem de ser lido em conjunto com os cadernos de apontamentos para um conhecimento mais completo. Arquivados agora na Hoover Institution, estes excertos das notas e do diário de Stepanov-Mamaladze registam a desaprovação de Shevardnadze pela rapidez do processo, mas, mais importante, reforçam a importância das reuniões de 9 e 10 de Fevereiro em Moscovo, onde foram proferidas as garantias ocidentais sobre a segurança soviética e onde o consentimento de Gorbachev, em princípio, para uma eventual reunificação alemã fez parte do acordo.

As notas dos primeiros dias da conferência são muito breves, mas contêm uma linha importante que mostra que Baker ofereceu em Otava a mesma fórmula de garantia que em Moscovo:

«E se a Alemanha [reunificada] ficar na OTAN, devemos ter cuidado para que não haja alargamento da sua jurisdição para Leste

 Shevardnadze não está pronto a discutir as condições para a reunificação alemã; diz que tem de consultar Moscovo antes de aprovar qualquer condição. Em 13 de Fevereiro, segundo as notas, Shevardnadze queixa-se: «Estou numa situação idiota – estamos a discutir o ‘Céu Aberto’, mas os meus colegas falam da reunificação da Alemanha como se fosse um facto.» As notas mostram que Baker foi muito persistente na tentativa de fazer com que Shevardnadze definisse as condições soviéticas para a reunificação alemã na OTAN, enquanto Shevardnadze ainda se sentia desconfortável com o termo “reunificação”, insistindo no termo mais geral “unidade.”

Documento 10-2

Diário de Teimuraz Stepanov-Mamaladze, 12 de Fevereiro de 1990.

12 de Fevereiro de 1990

Fonte

Hoover Institution Archive, Stepanov-Mamaladze Collection.

Esta entrada do diário de 12 de Fevereiro contém uma descrição muito sucinta da visita de Kohl e Genscher a Moscovo, a 10 de Fevereiro, sobre a qual Stepanov-Mamaladze nada tinha escrito anteriormente (uma vez que não estivera presente).

Compartilhando a opinião do seu ministro, Shevardnadze, Stepanov reflecte sobre a natureza apressada e as insuficientes considerações dadas às discussões em Moscovo:

«Antes da nossa visita aqui, Kohl e Genscher fizeram uma visita apressada a Moscovo. E com a mesma pressa – na opinião de E. A. [Shevardnadze] – Gorbachev aceitou o direito dos alemães à unidade e à autodeterminação

 Esta entrada no diário é prova, numa perspectiva crítica, de que os Estados Unidos e a Alemanha Ocidental deram garantias concretas a Moscovo sobre a manutenção da OTAN na dimensão e no âmbito que possuíam na altura. De facto, o diário indica ainda que, pelo menos na opinião de Shevardnadze, essas garantias equivaliam a um acordo — que Gorbachev aceitou, mesmo quando as coisas já se começavam a arrastar.

Documento 10-3

Diário de Teimuraz Stepanov-Mamaladze, 13 de Fevereiro de 1990.

13 de Fevereiro de 1990

Fonte

Hoover Institution Archive, Stepanov-Mamaladze Collection.

No segundo dia da conferência de Otava, Stepanov-Mamaladze descreve as difíceis negociações quanto à formulação exacta da declaração conjunta sobre a Alemanha e o processo ‘Dois Mais Quatro’.

Shevardnadze e Genscher discutiram durante duas horas sobre os termos “unidade” e “reunificação”, numa altura em que Shevardnadze tentava abrandar o ritmo das negociações sobre a Alemanha e fazer com que os outros ministros se concentrassem no ‘Céu Aberto’.

O dia foi bastante intenso: «Ao longo do dia, houve jogos activos entre todos eles. E. A. [Shevardnadze] encontrou-se cinco vezes com Baker, duas vezes com Genscher, falou com Fischer [Ministro dos Negócios Estrangeiros da RDA], Dumas [Ministro dos Negócios Estrangeiros francês] e com os ministros dos países ATS” e, finalmente, o texto do acordo foi estabelecido, utilizando a palavra “unidade”. A declaração final também considerou o acordo sobre as tropas americanas e soviéticas na Europa Central como a principal conquista da conferência. Mas para os delegados soviéticos, «o ‘Céu Aberto’ [estava] ainda fechado pela nuvem de tempestade da Alemanha

Documento 11

Departamento de Estado EUA, “Dois Mais Quatro: Vantagens, Possíveis Preocupações e Pontos Contestados.”

21 de Fevereiro de 1990

Fonte

State Department FOIA release, National Security Archive Flashpoints Collection, Box 38.

Este memorando, provavelmente da autoria de Robert Zoellick, um dos principais assessores de Baker no Departamento de Estado, contém a franca visão americana do processo ‘Dois Mais Quatro’, com as vantagens de «manter o envolvimento americano no debate sobre a reunificação (e mesmo algum controlo sobre ele)

O receio americano era que os alemães ocidentais fizessem o seu próprio acordo com Moscovo para uma rápida reunificação, abdicando de algumas das linhas de fundo para os EUA, principalmente a adesão à OTAN. A título de exemplo, Zoellick salienta que Kohl tinha anunciado os seus 10 Pontos sem consultar Washington e após sinais de Moscovo, e que os EUA tinham sabido da ida de Kohl a Moscovo pelos soviéticos e não pelo próprio Kohl.

 O memorando responde antecipadamente às objecções quanto à inclusão dos soviéticos, salientando que estes já se encontravam na Alemanha e que era preciso lidar com eles. O acordo ‘Dois-Mais-Quarto’ inclui os soviéticos, mas impede-os de ter direito de veto (o que um processo de Quatro Potências ou um processo das Nações Unidas poderia permitir), enquanto uma conversa efectiva ‘Um-Mais-Três’ antes de cada reunião permitiria à Alemanha Ocidental e aos EUA, com os britânicos e os franceses, chegar a uma posição comum. Especialmente reveladores são os sublinhados e a caligrafia de Baker nas margens, nomeadamente a sua frase exuberante: «quem não conhece vai poder assistir a uma aquisição com recurso a capitais alheios!»

Documento 12-1

Memorando da conversa entre Vaclav Havel e George Bush em Washington.

20 de Fevereiro de 1990

Fonte

Biblioteca Presidencial George H. W. Bush, Memcons e Telcons (https://bush41library.tamu.edu/)

Estas conversas podem ser chamadas de “a educação de Vaclav Havel,”[10] uma vez que o antigo dissidente que se tornou Presidente da Checoslováquia visitou Washington apenas dois meses depois de a Revolução de Veludo o ter levado da prisão para o Castelo de Praga.

Havel foi aplaudido de pé durante um discurso proferido a 21 de Fevereiro numa sessão conjunta do Congresso e manteve conversações com Bush antes e depois da sua presença nesta sessão. Havel fora já citado pelos jornalistas como tendo apelado à dissolução dos blocos da Guerra Fria, tanto da OTAN como do Pacto de Varsóvia, e à retirada das tropas, pelo que Bush aproveitou a oportunidade para dar um sermão ao governante checo sobre o valor da OTAN e o seu papel essencial como base da presença dos EUA na Europa.

Ainda assim, Havel mencionou duas vezes no seu discurso ao Congresso a esperança de que «os soldados americanos não tenham de ser separados das suas mães» só porque a Europa não conseguiu manter a paz, e apelou a uma «futura Alemanha democrática em vias de se reunificar numa nova estrutura pan-europeia que possa decidir sobre o seu próprio sistema de segurança.» Mas depois, ao falar novamente com Bush, o antigo dissidente tinha claramente percebido a mensagem. Havel disse que talvez tivesse sido mal interpretado, que via certamente o valor do empenhamento dos EUA na Europa. Por seu lado, Bush levantou a possibilidade, assumindo uma maior cooperação da Checoslováquia nesta questão, de investimento e ajuda dos EUA.

Documento 12-2

Memorando da conversa entre Vaclav Havel e George Bush em Washington.

21 de Fevereiro de 1990

Fonte

Biblioteca Presidencial George H. W. Bush, Memcons and Telcons (https://bush41library.tamu.edu/)

Este memorando escrito após o discurso triunfante de Havel ao Congresso contém o pedido de Bush a Havel para que transmita a Gorbachev a mensagem de que os americanos o apoiam pessoalmente e que “não nos comportaremos de forma errada dizendo ‘nós ganhamos, vocês perderam’.” Sublinhando a questão, Bush diz: “diga a Gorbachev que... peço-lhe que diga a Gorbachev que não nos comportaremos em relação à Checoslováquia ou a qualquer outro país de forma a complicar os problemas que ele tão francamente discutiu comigo.”

O dirigente da Checoslováquia acrescenta a sua própria advertência aos americanos sobre a forma de proceder à reunificação da Alemanha e de lidar com as inseguranças soviéticas. Havel diz a Bush: “É uma questão de prestígio. Esta é a razão pela qual falei do novo sistema de segurança europeu sem mencionar a OTAN. Porque, se surgisse a partir da OTAN, teria de ter outro nome, quanto mais não fosse por causa do elemento de prestígio. Se a OTAN tomar conta da Alemanha, parecerá uma derrota, uma superpotência a conquistar outra. Mas se a OTAN se conseguir transformar – talvez em conjunto com o processo de Helsínquia – parecerá um processo pacífico de mudança, não uma derrota.” Bush respondeu de forma positiva: “Suscitou uma boa questão. A nossa opinião é que a OTAN continuaria com um novo papel político e que nos basearíamos no processo da CSCE. Iremos reflectir sobre a forma como podemos proceder.”

Documento 13

Memorando da conversa entre Helmut Kohl e George Bush em Camp David.

4 de Fevereiro de 1990

Fonte

Biblioteca Presidencial George H. W. Bush, Memcons and Telcons (https://bush41library.tamu.edu/)

Em Fevereiro de 1990, a principal preocupação do governo Bush em relação à reunificação alemã, à medida que o processo ia acelerando, era que os alemães ocidentais pudessem fazer o seu próprio acordo bilateral com os soviéticos (ver Documento 11) e pudessem estar dispostos a negociar a adesão à OTAN. O Presidente Bush comentou mais tarde que o objectivo da reunião de Camp David com Kohl era “manter a Alemanha na reserva da OTAN”, e foi isso que determinou a agenda deste conjunto de reuniões.

O Chanceler alemão chega a Camp David sem Genscher porque este último não compartilha inteiramente a posição Bush-Kohl sobre a adesão plena da Alemanha à OTAN e, recentemente, irritara os dois governantes ao falar publicamente sobre a CSCE como o futuro mecanismo de segurança europeu.[12]

No início desta conversa, Kohl agradece o apoio de Bush e de Baker durante as suas conversações com Gorbachev em Moscovo no início de Fevereiro, especialmente a carta de Bush em que este afirmava o forte empenho de Washington na reunificação alemã na OTAN. Ambos os dirigentes expressaram a necessidade de uma cooperação mais estreita entre si para alcançar o resultado desejado.

A prioridade de Bush é manter a presença dos EUA na Europa, em especial a protecção nuclear: «se as forças nucleares americanas forem retiradas da Alemanha, não vejo como poderemos persuadir qualquer outro aliado no continente a manter essas armas.» O Presidente refere sarcasticamente as críticas oriundas do Capitólio: «Temos ideias estranhas no nosso Congresso hoje em dia, ideias como este dividendo de paz. Não podemos fazer isso nestes tempos de incerteza».

Ambos os governantes estão preocupados com a posição que Gorbachev poderá adoptar e concordam com a necessidade de o consultar regularmente. Kohl sugere que os soviéticos precisam de ajuda e que o acordo final sobre a Alemanha pode ser uma “questão de dinheiro”. Prenunciando a sua relutância em contribuir financeiramente, Bush responde: «vocês têm bolsos fundos». A certa altura, Bush parece ver o seu homólogo soviético não como um parceiro, mas como um inimigo derrotado. Referindo-se ao facto de nalguns bairros soviéticos se falar contra a permanência da Alemanha na OTAN, diz: «Que se lixe isso. Nós vencemos e eles não. Não podemos deixar que os soviéticos retirem uma vitória das garras da derrota

Documento 14

Memorando da conversa entre George Bush e Eduard Shevardnadze em Washington.

6 de Abril de 1990

Fonte

Biblioteca Presidencial George H. W. Bush, Memcons and Telcons (https://bush41library.tamu.edu/)

O Ministro dos Negócios Estrangeiros [da União Soviética] Shevardnadze entrega a Bush uma carta de Gorbachev, na qual o Presidente soviético passa em revista as principais questões antes da próxima cimeira. As questões económicas estão no topo da lista para a União Soviética, especificamente o estatuto de ‘Nação Mais Favorecida’ e um acordo comercial com os Estados Unidos.

Shevardnadze manifesta a sua preocupação com a falta de progressos nestas questões e com os esforços dos EUA para impedir o BERD de conceder empréstimos à URSS. Shevardnadze sublinha que a URSS não está a pedir ajuda, «apenas queremos ser tratados como parceiros». Relativamente às tensões na Lituânia, Bush afirma que não quer criar dificuldades a Gorbachev em questões internas, mas salienta que tem de insistir nos direitos dos lituanos porque a sua incorporação na URSS nunca foi reconhecida pelos Estados Unidos. No que se refere ao controlo de armamento, ambas as partes assinalam alguns recuos da outra e manifestam o desejo de finalizar rapidamente o Tratado START. Shevardnadze menciona a próxima cimeira da CSCE e a expectativa soviética de que nela sejam discutidas as novas estruturas de segurança europeias. Bush não contradiz este facto, mas associa-o às questões da presença dos EUA na Europa e da reunificação alemã na OTAN. Declara que quer «contribuir para a estabilidade e para a criação de uma Europa inteira e livre ou, como lhe chamam, uma ‘casa comum europeia’. Uma ideia que está muito próxima da nossa”. Os soviéticos – erradamente – interpretam isto como uma declaração de que o governo dos EUA compartilha a ideia de Gorbachev.

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[*] O tradutor emprega a ortografia em vigor antes do (des)Acordo Ortográfico de 1990.

[A Parte III deste arquivo será publicada oportunamente]

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Notas

[8] Genscher disse a Baker a 2 de Fevereiro de 1990 que, segundo o seu plano, «a OTAN não alargaria a sua cobertura territorial à área da RDA nem a qualquer outra da Europa Oriental.» Secretário de Estado para a Embaixada EUA em Bona, “Baker-Genscher Meeting February 2,” Biblioteca Presidencial George H. W. Bush, NSC Kanter Files, Box CF00775, Folder “Germany-March 1990.” Citado por Joshua R. Itkowitz Shifrinson, “Deal or No Deal? The End of the Cold War and the U.S. Offer to Limit NATO Expansion,” International Security, Spring 2016, Vol. 40, No. 4, pp. 7-44.

[9] A versão anterior deste texto referia que Kohl foi «apanhado num escândalo de corrupção no financiamento de campanhas que acabaria com a sua carreira política»; contudo, esse escândalo só foi revelado em 1999, depois de Kohl ter perdido o lugar na sequência das eleições de Setembro de 1998. Os autores agradecem ao Prof. Dr. H.H. Jansen pela correcção e pela leitura atenta da publicação.

[10] Ver Andrei Grachev, Gorbachev’s Gamble (Cambridge, UK: Polity Press, 2008), pp. 157-158.

[11] Para ficar a conhecer um relato perspicaz da elevada eficácia dos esforços educativos de Bush junto dos dirigentes da Europa Oriental incluindo Havel – bem como dos aliados – ver Jeffrey A. Engel, When the World Seemed New: George H. W. Bush and the End of the Cold War (Houghton Mifflin Harcourt, 2017), pp. 353-359.

[12] Ver George H. W. Bush e Brent Scowcroft, A World Transformed (New York: Knopf, 1998), pp. 236, 243, 250.