TERTÚLIA ORWELLIANA

Neste blogue discutiremos 4 temas: 1. A linguagem enganosa. 2 As estruturas e os processos de desumanização criados pelas oligocracias contra a democracia. 3. A economia política (e.g. Petty, Smith, Ricardo, Sismondi), remodelada e crismada (no fim do século XIX) de "economia matemática", a qual teria o direito de se proclamar "ciência económica" (Ingl. economics) — um direito que não lhe será reconhecido aqui. 4. A literatura imaginativa (prosa e poesia).

12 julho, 2025

 

A ECONOMIA DO GENOCÍDIO

 

José Catarino Soares

 

Francesca Albanese, relatora especial da ONU para a situação na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, acaba de apresentar o seu mais recente relatório (11 Julho 2025), onde caracteriza meticulosamente como Israel e os seus cúmplices (governos, Estados e firmas) passaram «Da economia de ocupação para a economia do genocídio.»



Isso valeu-lhe um recrudescimento das ameaças anónimas de morte, dos actos de censura por parte do sistema mediático oligopolista de comunicação social do “Ocidente alargado” e dos actos de hostilidade por parte de governos e deputados da mesma entidade geopolítica — com particular destaque para os EUA, a Alemanha, a França, as Terras Baixas [Holanda], a Hungria, a Argentina e, claro está, Israel.

A cereja no topo deste bolo de vitupérios e exorcismos ao estilo Vodu foram as sanções que Donald Trump e o seu governo decidiram impor a Francesca Albanese, as quais poderão incluir o congelamento de contas bancárias, a interdição de entrar nos EUA (onde está a sede da ONU!) e a retirada de imunidade diplomática — tudo medidas ilegais à luz do direito internacional público, para além de ilegítimas e grotescas.

É bom que se saiba, que, antes como depois destes bramidos e carantonhas para meter medo à corajosa Francesca Albanese, nunca o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse uma palavrinha que fosse (em público ou em privado) de solidariedade e apoio ao seu trabalho. É ela quem o revela aqui [https://www.youtube.com/watch?v=H2UX5wIb3RE&t=26s], quando perguntada sobre o assunto por um jornalista.

As imagens abaixo mencionam as firmas principais, assim como os seus principais accionistas, que participam na economia do genocídio. A fonte de informação é o relatório de Francesca Albanese «Da economia de ocupação para a economia do genocídio» (UN Human Rights Council) e o arranjo gráfico é da Al- Jazeera. 

As principais firmas que participam no economia dos genocídio em Gaza


 

Os principais accionistas das firmas que participam na economia do genocídio em Gaza

....................................................................................................................................

P.S. Já depois de ter escrito este texto, recebi um apelo para uma campanha destinada a propor Francesca Albanese e os médicos de Gaza para o Prémio Nobel da Paz.

Subscrevi sem qualquer hesitação esta proposta (ver abaixo) -- embora ache que o argumento avançado para a fundamentar [a parte que coloquei entre “aspas” na tradução] não é o melhor) -- não só porque Francesca Albanese e os médicos de Gaza merecem essa distinção, mas também porque há muito tempo que nenhum dos galardoados com o Prémio Nobel da Paz merece esse galardão honorífico.

Desenvolvi este último argumento aqui: O pseudoprémio Nobel da Paz — edição de 2022, in Tertúlia Orwelliana, 17 de Outubro, 2022 

https://tertuliaorwelliana.blogspot.com/2022/10/o-pseudopremio-nobelda-paz-edicao-de.html


Uma imagem com Cara humana, pessoa, óculos de sol, vestuário

Os conteúdos gerados por IA podem estar incorretos.
Hi! I just signed this campaign in support of a Nobel Peace Prize for Francesca Albanese, the UN Special Rapporteur for the West Bank and Gaza, and Gaza doctors. They have been fierce voices urging action on human rights abuses! Can you sign and share as well? Thank you 🙏


[Olá! Acabei de subscrever esta campanha de apoio ao Prémio Nobel da Paz para Francesca Albanese (a Relatora Especial da ONU para a Cisjordânia e Gaza) e para os médicos de Gaza. Eles têm sido vozes veementes que apelam à acção “contra as violações dos direitos humanos”! Queres assinar este apelo e também divulgá-lo? Obrigado 🙏]

https://secure.avaaz.org/campaign/en/stand_with_francesca_loc/?whatsapp



05 julho, 2025

 Tema 2


Estudo de Harvard conclui que Israel fez ‘desaparecer’ quase 400.000 palestinianos em Gaza, metade dos quais crianças: Relatório

(Tradução de Fernando Oliveira)


O estado da informação, ou melhor, da desinformação em Portugal leva-nos, cada vez mais, a procurar fora do país as fontes de que necessitamos para conhecer a realidade, para ter uma opinião. Foi assim que, nessa visita regular a um canal noticioso, me deparei com a referência à publicação no jornal online The Cradle.co ao estudo de Harvard, cuja tradução passo a apresentar.

-------------------------------------------------------------------------------------------------------

P.S. [7-07-2025, 11h48m] 

Esclarecimento do Tradutor

Alertado pela «Tertúlia Orwelliana» para a dificuldade de funcionamento da hiperligação referente ao artigo em causa (mais abaixo), procurei verificar o que se passava e deparei-me com a seguinte Nota:

«The Cradle


@TheCradleMedia


Retratação relativa ao artigo sobre os desaparecimentos em Gaza:


No dia 24 de Junho, The Cradle publicou uma notícia intitulada “
Estudo ligado a Harvard conclui que Israel ‘fez desaparecer’ quase 400 000 palestinianos em Gaza, metade dos quais crianças: Relatório”, no qual se afirmava, erradamente, que um estudo do professor israelita Yaakov Garb tinha determinado que pelo menos 377.000 pessoas em Gaza estavam desaparecidas desde o início do genocídio.

Investigações posteriores e declarações do Professor Garb tornaram claro, no entanto, que o número se baseava numa leitura errada de um mapa utilizado no seu estudo para mostrar a dificuldade de acesso da maioria dos palestinianos em Gaza aos centros de ajuda da Fundação Humanitária de Gaza (GHF) relativamente aos centros populacionais.

Por este motivo, os nossos editores decidiram retirar totalmente o artigo e emitir este esclarecimento público.»

Se é bem verdade que o estado da informação, ou melhor, da desinformação em Portugal nos leva cada vez mais a procurar fora do país as fontes de que necessitamos para conhecer a realidade, para ter uma opinião, não é menos verdade que devemos procurar, tanto quanto seja possível, cruzar a informação que obtemos com outras fontes. 

A metodologia citada neste caso não era de fácil verificação, mas pareceu-me credível e por esse motivo a propus à Tertúlia Orwelliana. Errei e resta-me pedir desculpa à Tertúlia e aos leitores. (F.O.)


*****************************

O estudo realizado por um professor da Universidade Ben Gurion utiliza análises baseada em dados e mapeamento espacial para destacar um grave declínio na população de Gaza desde Outubro de 2023.

(in News Desk, 24 Junho, 2025)

Fonte da foto:  AA


Um estudo publicado através de Harvard Dataverse revela que Israel fez «desaparecer» pelo menos 377.000 palestinianos desde o início da campanha genocida contra a Faixa de Gaza, em 2023. 

Pensa-se que metade deste número seja de crianças palestinianas.

O relatório foi elaborado pelo professor israelita Yaakov Garb, que utilizou análises baseadas em dados e mapeamento espacial para mostrar como o cerco levado a cabo pelo exército israelita a Gaza e os ataques indiscriminados contra civis no enclave levaram a uma redução significativa da sua população.

Os 377.000 palestinianos desaparecidos devido ao genocídio cometido por Israel representam aproximadamente 17% da população total da Faixa de Gaza, que actualmente é de cerca de 1,85 milhões. Antes da guerra em Gaza, estimava-se que a população fosse de 2,227 milhões.

Embora alguns tenham sido deslocados ou estejam desaparecidos, acredita-se que um número significativo tenha sido morto pelas forças israelitas, segundo o relatório.

O professor observa que o número oficial de mortos, 61.000, está claramente subavaliado, uma vez que as vítimas que permanecem soterradas sob os escombros não estão incluídas.

No relatório Garb condenou igualmente a Fundação Humanitária de Gaza (GHF) – um controverso mecanismo de distribuição de ajuda humanitária criado entre os EUA e Israel no mês passado.

«Estes complexos de ajuda parecem reflectir uma lógica de controlo, não de assistência, e seria um equívoco chamar-lhes ‘centros de distribuição de ajuda humanitária’. São entidades que não seguem princípios humanitários, e grande parte do projecto e da operação a que obedecem é orientada por outros objectivos, que prejudicam o seu propósito declarado», afirmou Garb. 

A ONU acusou a GHF de ter sido criada com o objectivo de promover o deslocamento forçado, e desde que iniciou as operações causou a morte de centenas de palestinianos às mãos das forças de Israel.

O relatório de Harvard não é a primeira indicação de que o número de mortos em Gaza poderia, na verdade, ser muito superior ao que é relatado. 

Em Janeiro deste ano, a revista médica The Lancet deu conta de um estudo no qual se revelava que o balanço de mortos pelo genocídio de Israel em Gaza estava provavelmente subestimado em 41% nos primeiros nove meses da guerra.

O estudo de Janeiro realçou o facto de cerca de 59,1% das vítimas mortais serem mulheres, crianças e idosos.

No ano anterior, em Julho de 2024, The Lancet afirmou que o ataque de Israel a Gaza poderia provocar entre 149.000 e 598.000. 

Fonte: https://thecradle.co/articles/harvard-linked-study-finds-israel-disappeared-nearly-400000-palestinians-in-gaza-half-of-them-children-report

.......................................................................................................................................................................................

Análise dos números de Israel mostra que assassinou até agora 377.000 palestinianos no decurso do genocídio – metade são crianças

(Por Skwawkbox [SW] 19/06/2025)

 

Uma imagem com pessoa, vestuário, homem, pessoas

Os conteúdos gerados por IA podem estar incorretos.
Um pai palestiniano em desespero mostra os restos mortais dos seus filhos em sacos de plástico. Fonte da imagem: The Skwawkbox.


A análise dos números de Israel mostra que assassinou até agora 377.000 palestinianos durante o genocídio – metade são crianças.

As tentativas de Israel de desvalorizar o número de mortos como «relatos falsos do Hamas» foram expostas como uma mentira para esconder a terrível realidade.

Um novo relatório da Universidade de Harvard confirmou o que os opositores do genocídio de Israel em Gaza sempre souberam: que o número de pessoas assassinadas por Israel em Gaza é muito superior ao número oficial de mortos e que as tentativas propagandísticas de Israel no sentido de desacreditar até mesmo os números oficiais afirmando que são exagerados não passam de uma vergonhosa mentira.

O balanço oficial de mortos em Gaza, próximo dos 60.000 até agora, foi sempre claramente subestimado, porque o Ministério da Saúde de Gaza só conta os corpos recuperados e levados para um hospital. Não estão incluídas as vítimas soterradas sob os escombros ou despedaçadas, com os seus poucos restos mortais recolhidos em sacos de plástico.

Mas o relatório de Yaakov Garb para o Harvard Dataverse analisou os dados das próprias autoridades militares israelitas e combinou-os com um cuidados mapeamento espacial para revelar uma história de terror demográfico: quase 400.000 pessoas – pelo menos 377.000 – desapareceram de um total de 2,227 milhões, que seria a população de Gaza pré-genocídio, reduzindo-a a 1,85 milhões na avaliação do estudo.

Israel e os seus propagandistas de serviço procuraram desvalorizar o número oficial de mortos dizendo que são propaganda palestiniana, mas quem testemunhou o bombardeamento implacável, os tiroteios e a fome da campanha de extermínio de Israel transmitida ao vivo sabe muito bem que os números tinham de ser muito superiores aos oficiais.

Israel assassinou quase uma em cada cinco pessoas inocentes de Gaza, incluindo mais de 150.000 crianças – considerando que metade da população de Gaza é composta por crianças.

Israel é um Estado terrorista. Keir Starmer e todos os “governantes” que colaboraram no genocídio devem ser julgados [no Tribunal Penal Internacional] em Haia.

Fonte: https://skwawkbox.org/2025/06/19/analysis-of-israels-figures-shows-it-murdered-377000-palestinians-during-genocide-so-far-half-of-them-kids/