Neste blogue discutiremos 5 temas: 1. A segurança social. 2. A linguagem enganosa. 3. As estruturas e os processos de desumanização criados pelas oligocracias contra a democracia. 4. A economia política (e.g. Petty, Smith, Ricardo, Sismondi), remodelada e crismada (no fim do século XIX) de "economia matemática", a qual teria o direito de se proclamar "ciência económica" (Ingl. economics) — um direito que não lhe será reconhecido aqui. 5. A literatura imaginativa (prosa e poesia).

28 abril, 2022

 

A minha colega e amiga, Ana Bela Baptista da Silva, evoca aqui a sua memória comovida do dia 25 de Abril de 1974 e o importante contributo (largamente desconhecido do grande público) que o seu marido, José Manuel Baptista da Silva, deu para o seu êxito. J.C.S.

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Recordar o 25 de Abril de 1974

Ana Bela Baptista da Silva

 

Recordo, como se fosse hoje, o dia 25 de Abril de 1974.Tinha na altura 32 anos, era casada contigo, querido Zé [1]. Éramos pais de duas meninas, a Ana Beatriz de 9 anos e a Ana Lúcia de 4. A nossa casa, no Laranjeiro, localizava-se perto dos nossos locais de trabalho. Eu, educadora de infância no Centro de Bem Estar Infantil da Romeira, e tu, Oficial da Armada, Comandante de Submarino na Base Naval do Alfeite. Naquela semana, nos dias que antecederam essa quinta-feira de Abril, chegavas apreensivo a casa e eu temia que algo estivesse para acontecer.

Desde o dia 23 até ao dia 26 de Abril não consegui falar contigo, pois estavas   de prevenção na esquadrilha de submarinos.

No dia 25, comecei a ouvir na rádio notícias algo vagas e contraditórias.  A televisão interrompeu a emissão e começou a dar um filme que fiquei a odiar para sempre.  Tentei, em vão contactar-te. Fechada em casa tentava manter a calma e brincava com as minhas filhas. Mas sempre atenta às notícias que, com o correr do dia, me permitiam sentir um mar de emoções que começaram com preocupação, ansiedade, esperança, alegria, felicidade… 

No final do dia 26, tu chegaste cansado, mas muito emocionado e feliz. Abracei-te a chorar de alegria e nesse momento contaste-me aquilo que não tinhas podido contar antes.

25 de Abril de 1974. Fonte: revista Visão

Vários dias antes de 25 de Abril souberas o que se iria passar. Tinhas sido contactado por oficiais do MFA [Movimento das Forças Armadas] para uma missão que aceitaste, mas que, graças a Deus, não tinha sido necessária.

E que missão seria essa? Se a fragata Gago Coutinho que iria sair para o mar, integrada num exercício da NATO [/OTAN], se preparasse para lançar fogo para o Terreiro do Paço [2], então o submarino que comandavas iria entrar em combate, protegendo assim as tropas de terra.

Desde o dia do nosso reencontro prometemos honrar os ideais de Abril. Mais do que por palavras, tentei com as minhas acções na educação, na formação, e na família nunca esquecer esse dia.

Muita coisa aconteceu comigo e com a minha família após o dia de Verdadeira Liberdade.

Quase cinquenta anos depois do 25 de Abril de 1974 continuo a sentir-me grata aos seus obreiros e também a ti, meu querido marido, que durante o teu percurso de vida tanto lutaste pela justiça, pela democracia e pela felicidade de tantos de nós.

Só me resta dizer hoje e sempre VIVA o 25 de ABRIL!

21 de Abril 2022

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Notas

[1] José Manuel Baptista da Silva (1940-2007). Oficial da Armada de 1962 a 1982, quando passou à reserva, tendo-se reformado em 1998. Foi promovido a Capitão de Mar-e-Guerra em 1986. Comandou os quatro submarinos da Armada portuguesa de então (Albacora, Barracuda, Cachalote, Delfim) em diferentes períodos da sua carreira no activo. Concluiu o curso de Direito em 1980. Como advogado, na situação de reserva, prestou serviço na Direcção Geral de Marinha, como Assessor Jurídico e também como Vogal da Comissão de Direito Marítimo Internacional e Comissão Nacional contra a Poluição Marítima Internacional.

[2] Várias razões contraditórias têm sido relatadas sobre a desobediência à ordem, emitida pelo Estado Maior da Armada, para a fragata Gago Coutinho disparar sobre o Terreiro do Paço, onde estavam as tropas comandadas pelo capitão Salgueiro Maia (ver notícias em diversos jornais da época assim como o Livro “Uma Fragata no 25 de Abril” de Noémia Louçã).

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