Neste blogue discutiremos 4 temas: 1. A linguagem enganosa. 2 As estruturas e os processos de desumanização criados pelas oligocracias contra a democracia. 3. A economia política (e.g. Petty, Smith, Ricardo, Sismondi), remodelada e crismada (no fim do século XIX) de "economia matemática", a qual teria o direito de se proclamar "ciência económica" (Ingl. economics) — um direito que não lhe será reconhecido aqui. 4. A literatura imaginativa (prosa e poesia).

07 junho, 2025

 

A guerra onde os corpos das mulheres 

perderam os seus direitos

Mariam Khateeb [*]

 

(In Mondoweiss, 19 de Maio de 2025. Tradução de José Catarino Soares)

 

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A guerra em Gaza não é apenas a história de escombros e ataques aéreos. É a história da rapariga que fica com o período sob bombardeamentos, da mãe que sangra em silêncio e aborta em pisos frios ou que dá à luz sob drones.

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Um bebé palestiniano recém-nascido sob as bombas israelitas na faixa de Gaza, Palestina.Foto: Mondoweiss. 


Em Outubro, sangrei durante dez dias sem ter acesso a uma casa de banho em condições.

A casa para onde fugimos ‒ como a maioria dos abrigos em Gaza ‒ não tinha privacidade. Quarenta pessoas dormiam em dois quartos. A casa de banho não tinha porta, apenas uma cortina rasgada. Lembro-me de esperar que todos dormissem para me poder limpar com uma garrafa de água e restos de pano. Lembro-me de rezar para não manchar o colchão que partilhava com três primos. Lembro-me da vergonha — não do meu corpo, mas de ser incapaz de cuidar dele.

Na guerra, o corpo perde os seus direitos, especialmente o corpo feminino.

Os títulos dos jornais raramente falam disto, do que significa para uma rapariga ter o período [menstrual, n.d.t.] sob bombardeamentos, de mães forçadas a sangrar em silêncio e a abortar em pisos frios ou a dar à luz sob drones. A guerra em Gaza não é apenas uma história de escombros e ataques aéreos. É uma história de corpos interrompidos, invadidos e sem descanso. E, no entanto, de alguma forma, esses corpos continuam. [n.d.t.= nota do tradutor]

Como mulher palestiniana e estudante deslocada que vive agora no Egipto, carrego comigo esta memória corporal. Não como uma metáfora, mas como um facto. O meu corpo ainda se retrai perante ruídos fortes. A minha digestão vacila. O meu sono vem em fragmentos. Conheço muitas mulheres ‒ amigas, familiares, vizinhas que desenvolveram doenças crónicas durante a guerra, que perderam a menstruação durante meses, cujos seios secaram quando tentavam amamentar nos abrigos. A guerra entra no corpo como uma doença e fica.

O corpo de Gaza é um mapa de interrupções. Aprende cedo a contrair-se — a ocupar menos espaço, a manter-se alerta, a suprimir o desejo, a fome, a hemorragia. A natureza pública da deslocação destrói a privacidade, enquanto o medo constante corrói o sistema nervoso. As mulheres que antes preservavam o seu pudor, mudam de roupa à frente de estranhos. As raparigas deixam de falar dos seus ciclos [menstruais, n.d.t.]. A dignidade torna-se um fardo que ninguém pode suportar.

É este o paradoxo da sobrevivência: o mesmo corpo a que é negada a segurança torna-se o instrumento de resistência. As mulheres cozinham lentilhas à luz das velas, acalmam as crianças nas caves, embalam os moribundos. Estes actos não são passivos; são radicais. Menstruar, carregar, alimentar, acalmar no meio da destruição é insistir na vida.

Volto, uma e outra vez, à imagem da minha mãe durante a guerra. As costas curvadas sobre uma panela, as mãos a tremer, os olhos a perscrutar o tecto a cada som. Não comia até que toda a gente comesse. Não dormia até as crianças estarem a dormir. O seu corpo suportava a arquitectura da guerra e da maternidade ao mesmo tempo. Apercebo-me agora de como a sua exaustão era política — como o seu trabalho, tal como o de tantas mulheres palestinianas, desafiava a lógica da aniquilação.

Não há tenda para o corpo em Gaza. Não há espaço seguro onde o corpo feminino se possa desdobrar sem medo. A guerra despoja-nos não só das nossas casas e pertences, mas também dos rituais que nos tornam humanos: tomar banho, menstruar, chorar em privado. Mas mesmo sem abrigo, os nossos corpos resistem. Lembram-se. Resistem.

E talvez, na sua persistência trémula, escrevam a história mais verdadeira de todas.

 

Soldada israelita (Serdadu Yahudi Penjajah) e mulher palestiniana  (Muslimah Pemberani) em confronto verbal. Fonte: X.com @sahabatalaqsha


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O texto original, em Inglês, pode ser lido aqui:

https://mondoweiss.net/2025/05/the-war-where-womens-bodies-lost-their-rights/?fbclid=IwY2xjawKwfpZleHRuA2FlbQIxMQBicmlkETFGNFhPVWRYMlpxSmc5aE1IAR4O3Ia3THiludGGNtXSOuyWvbH7c3cnPPGYYhIIB8KbFMq4ElKPhYeTzKkAXw_aem_BRodxBgrnM6iLjjHQ2rYWQ

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[*] Mariam Katheeb, é o nome literário de Mariam Mohammed El Khatib, uma prosadora, poeta e activista palestiniana de Gaza. Estuda medicina dentária no Egipto, onde também prossegue o seu trabalho literário. Os seus escritos ‒ publicados em plataformas como This Week in Palestine, We Are Not Numbers e Avery Review ‒ exploram temas como a memória, a guerra e a resistência, especialmente a partir de perspectivas feministas e existenciais. Utiliza a narração de histórias como forma de resistência cultural, documentando a experiência palestiniana e amplificando as vozes do seu povo.


01 junho, 2025

 Temas 1, 2, 3

Uma breve panorâmica sobre a obra

de Emmanuel Todd,

 seguida de um comentário crítico sobre

um dos seus pontos cegos  

 

José Catarino Soares


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N.B. Este ensaio foi suscitado pela palestra que Emmanuel Todd fez na Academia das Ciências Russa, em 23 de Abril de 2025, sob o título Antropologia e Realismo Estratégico nas Relações Internacionais”, divulgada ao público fora da Rússia com a menção Da Rússia, com  amor, e que foi traduzida e publicada neste blogue, aqui:

https://tertuliaorwelliana.blogspot.com/2025/06/da-russia-com-amor-emmanuel-todd-in.html

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PARTE I

Emmanuel Todd (nascido em 1951) é um historiador, antropólogo, sociólogo e politólogo francês.

Emmanuel Todd em 26 de Janeiro de 2023. Foto: Weltwoche.
 

Tem uma obra vasta, multifacetada e muito original, embora mal conhecida em Portugal e praticamente desconhecida no mundo de língua inglesa — a língua em que, de há uns 40 anos a esta parte, se fazem e desfazem as reputações mediáticas, incluindo as do meio universitário e científico.

1.Três níveis societais

A originalidade epistémica e fecundidade heurística da obra de Emmanuel Todd residem, em minha opinião, no modelo teórico que construiu da sociedade humana e da história humana em três níveis ou camadas: (x) consciente, (y) subconsciente, (z) inconsciente.

Esta tripla distinção tem como referente a sociedade, não o indivíduo. Trata-se de um consciente social, de um subconsciente social e de um inconsciente social. Não deve, por isso, ser confundida com a distinção homónima introduzida na psicologia e na psiquiatria por Sigmund Freud (com início nos seus Estudos sobre a Histeria [1893-1895) e culminando em Uma nota sobre o inconsciente na psicanálise [1912] e O inconsciente [1915]), de um consciente pessoal, de um pré-consciente pessoal (Freud usava o termo pré-consciente e não o de subconsciente) e de um inconsciente pessoal.

O inconsciente social de Todd também não deve ser confundido com a noção de inconsciente colectivo que Carl Gustav Yung introduziu no seu livro Metamorfose e Símbolos da Libido (1912) — um espaço psíquico comum a todos os seres humanos, com conteúdos universais e arquetípicos que influenciam o nosso inconsciente pessoal, mas que não é adquirido individualmente ou socialmente, mas herdado biologicamente.

A grande fraqueza da argumentação de Freud e dos seus continuadores (cultores da psicanálise), assim como de Yung e dos seus continuadores (cultores da psicologia analítica), era a sua crença comum na existência de uma estrutura familiar única e universal como campo de floração de sentimentos, atitudes e comportamentos inconscientes e subconscientes. E que estrutura familiar seria essa? Pois, aquela que predominava no meio social onde trabalharam: a da família autoritária (na Áustria) e da família nuclear absoluta (na Inglaterra), no caso de Freud, e a da família autoritária (numa parte da Suíça) e da família nuclear absoluta (noutra parte da Suíça), no caso de Yung. Neste aspecto, a psicanálise e a psicologia analítica pedem meças à politologia de inspiração liberal e à economia (impropriamente chamada) neoclássica pelo seu arreigado e estreito eurocentrismo.

Emmanuel Todd introduziu a tripla distinção societal dos níveis (x)/(y)/(z)-ciente na antropologia social e na sociologia, mas desvinculada dos seus referentes freudianos e yunguianos, salvo no que respeita ao reconhecimento da autonomia e do carácter primordial (entenda-se: de infra-estrutura social) da família, bem evidenciados por Freud, embora dentro dos estreitos limites eurocêntricos supramencionados.

Exemplificando: no nível consciente das sociedades encontramos a economia em todas as épocas históricas e a política desde, pelo menos, o desenvolvimento da sedentarização decorrente da invenção da agricultura, da criação de gado e da metalurgia. Por exemplo, na Europa, na chamada Idade Média, na época da Reforma e da Contra-Reforma ou actualmente, em países como, por exemplo, o Irão e a Arábia Saudita, encontramos também a religião no nível consciente.

Actualmente, em países como, por exemplo, a Suécia, a França e o Reino Unido, a religião encontra-se na interface entre o nível subconsciente e o nível inconsciente, enquanto noutros, como, por exemplo, Portugal, Espanha, Itália, a religião se encontra na interface entre o nível subconsciente e o nível consciente.

Nas sociedades modernas (i.e., pós-revolução industrial capitalista [1780-1830] e pós-revolução francesa [1789-1793]) encontramos a educação no nível subconsciente, ou oscilando entre o nível subconsciente e o nível consciente. No nível inconsciente, encontramos, em todas as épocas, os sistemas familiares ou, equivalentemente, as estruturas familiares (o termo preferido de Todd) — isto é, as relações entre esposo e esposa, entre pais e filhos, entre pai e filhos, entre pai e filhas, entre mãe e filhas, entre mãe e filhos, entre irmãos e irmãs, entre irmãos, entre irmãs, entre avós e netos.

É neste livro, originalmente publicado em 2017, que Todd sistematiza mais clara e sucintamente a tripla distinção dos níveis societais.


Os parâmetros configuracionais dos sistemas familiares [bilaterais, patrilineares ou matrilineares; bilocais, matrilocais ou patrilocais; autoritários ou libertários; igualitários ou inigualitários; endogâmicos ou exogâmicos; segundo os países e as épocas] condicionam, sem o conhecimento dos indivíduos-agentes, escolhas e condutas políticas, valores e crenças religiosas, desempenhos e comportamentos educativos.

Para grande surpresa de Emannuel Todd, «esta identificação de um inconsciente familiar da vida ideológica, à qual eu tinha chegado de uma maneira puramente empírica, suscitou uma resistência, e mesmo uma rejeição, da parte dos investigadores em ciências humanas, em particular nas sociedades mais livres em temperamento e costumes» [1].

Ironicamente, essa resistência e essa rejeição são facilmente explicáveis pelos sistemas familiares dominantes nos países onde elas se manifestam mais fortemente (!) — um ponto que não podemos aprofundar aqui.

2. Temporalidade societal a três velocidades

Seja como for, uma coisa é certa: compreender teoricamente as sociedades humanas como sistemas complexos estratificados (sistemas compostos de sistemas mais restritos, seus subsistemas) que incluem níveis ou camadas conscientes, subconscientes e inconscientes, conduz-nos a uma nova concepção da história humana. Trata-se de uma concepção necessariamente esquemática (como são todas as concepções científicas), mas que nos permite entender duas coisas importantes, que equivalem a uma revolução coperniciana no domínio das ciências sociais.

1.ª O tempo está em permanente e incessante fluxo e com o tempo tudo muda, inclusive no domínio societal.“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. Muda-se o ser, muda-se a confiança. Todo o mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades” (como tão bem disse o nosso grande poeta, Luís Vaz de Camões).

Uma imagem com desenho, Cara humana, quadro, homem

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Retrato de Luís Vaz de Camões por Fernão Gomes, provavelmente pintado entre 1573 e 1575.


2.ª Mas os ritmos de mudança não são os mesmos em cada um dos subsistemas e em cada um dos níveis do macrossistema societal. Em primeira aproximação, pode dizer-se que quanto mais nos embrenhamos nas profundezas subconsciente e inconsciente da vida social, mais o tempo transcorre lentamente, e mais as relações e instituições sociais perduram sem alteração sensível.

Por exemplo, o processo de globalização (ou mundialização) industrial, comercial, financeira, comunicacional, política e cultural que se iniciou no pós-Segunda Guerra Mundial, levou pouco mais de 60 anos para se impor (1945-2007/2008): arranque, aceleração, consolidação, implosão parcial. É um processo económico e político maximamente consciente porque foi pilotado à vista de todos pela potência imperial então hegemónica (EUA) e porque inclui acontecimentos e processos também eles conscientes (tratados, guerras, trocas comerciais, deslocalização de indústrias, migrações em massa intra- e intercontinentais, instalação de paraísos fiscais, etc.).

Globalização comunicacional. Fonte da foto:  Peterson Institute for Internacional Economics.


Ao nível subconsciente, o tempo (da mudança de um estado de estrutura de um sistema para outro estado) transcorre mais lentamente. Por exemplo, o movimento das sociedades para a alfabetização universal começou na Alemanha, no século XVI, com a Reforma Protestante que exigia que todos os crentes soubessem ler a Bíblia para poderem meditar directamente sobre os Evangelhos e dialogar directamente com “a palavra de Deus”. Por volta de 2030, prevê-se (previsão optimista) que todas as crianças em todo o mundo, incluindo a África, aprendam a ler, a escrever e a dominar as regras básicas da aritmética. Foram precisos 5 séculos para alcançar este resultado, ou seja, simplificando, 10 vezes mais tempo do que necessitou a globalização mais recente, filo-americana e neoliberal.

Ao nível inconsciente, o movimento das sociedades é ainda mais lento. Se escolhermos, como fez Emmanuel Todd, a Suméria na Mesopotâmia (3.000 anos a.C.) e a China do Norte (1.500 anos a.C.) ‒ as duas épocas, as duas regiões e as duas vezes em que a escrita foi inventada de maneira independente ‒ como ponto de partida formal da diferenciação dos sistemas familiares do Homo Sapiens, temos de contar com 5.000 a 3.500 anos de evolução. Dito de outro modo, para dar conta do processo de diferenciação universal dos sistemas familiares, temos de multiplicar a escala temporal do processo de alfabetização universal por 10 e multiplicar por 100 a escala temporal da globalização [industrial, agro-industrial, comercial, financeira, comunicacional  e, em menor medida  política e cultural] conduzida pelos EUA no pós-Segunda Guerra Mundial.

Exemplares de escrita cuneiforme (assim chamada por ser executada em tabuinhas de barro com estiletes em forma de cunha) inventada, cerca de 3.500 anos a.C., pelos mesopotâmicos da Suméria. Foto: BBC Ideas



Exemplar da escrita em ossos oraculares. Trata-se de textos curtos escritos em escápulas de bovinos e em plastrões de tartarugas. São a mais antiga forma de escrita chinesa, desenvolvida durante a dinastia Shang, também conhecida como dinastia Yin. De acordo com a historiografia chinesa, a dinastia Shang foi a segunda dinastia real que dominou a China, de cerca de 1570 a 1045 a.C. Foto da gravura: Wikipédia. 



Simplificando e arredondando,

«dizemos que o consciente económico funciona numa escala [temporal] de 50 anos, o subconsciente educativo numa [escala temporal] de 500 anos, o inconsciente familiar numa de 5.000 anos» (Todd, op. cit., p.27).

Por tudo isto, não é de estranhar que Emmanuel Todd seja, ainda hoje, um autor deveras inquietante e até maldito, quer para muitos dos seus colegas de profissão, quer para o sistema mediático oligopolista de comunicação social do “Ocidente alargado” e que sejam muitos os seus ostracizadores e detractores nesses dois meios profissionais. Mas não precisamos de estar de acordo com Todd em tudo o que diz, ou em muito do que diz, para reconhecermos tudo (e é muito) o que com ele podemos aprender.

O que acabei de dizer no parágrafo precedente resume a motivação que me levou a escrever esta nota biográfico-científica sobre Emmanuel Todd. Julgo que ela ajudará a entender melhor o seu artigo-palestra, Da Rússia, com amor, aqui publicado — o mais recente texto da sua lavra.


Parte II

3. Um ponto cego

Posto isto, passo agora a fazer um comentário crítico de um ponto cego da sua obra. Refiro-me ao seu emprego abundante de uma palavra que suscita as paixões mais desencontradas e que alimenta enormes confusões conceptuais que perduram há mais de um século e meio: “comunismo”. E esta confusão perdura, vale a pena salientá-lo, apesar dos esforços bem-sucedidos que o mais arguto, competente e rigoroso investigador do comunismo o filósofo, economista político, sociólogo, politólogo e historiador Karl Marx (1818-1883) fez para a dissipar.

Um bom exemplo desse ponto cego da obra de Emmanuel Todd é a expressão communisme achevé que ocorre na palestra Antropologia e Realismo Estratégico nas Relações Internacionais”, a qual sobretitulou (com um sorriso irónico para os fãs actuais do agente 007) Da Rússia, com amor. Eu traduzi-a por comunismo realizado (também poderia traduzir-se por comunismo consumado)

Esta expressão remete-nos directamente para um dos elos fracos da argumentação de Emmanuel Todd: a sua deficiente teorização da esfera política (onde as facetas ideologia, doutrina, instituição e conduta não são adequadamente destrinçadas), acompanhada por uma frequente confusão e deslize entre categorias económicas e categorias políticas. Eis dois exemplos tirados de um dos seus livros:

«Ideologia vedeta do século vinte, o comunismo foi abundantemente analisado. A politologia clássica, incapaz de explicar o surgimento do fenómeno em tal ou tal país, conseguiu, mesmo assim, dar dele uma boa descrição, que define, aliás, pela negativa, mas com igual precisão, a sua antítese económico-política e o seu adversário mundial, o liberalismo anglo-saxónico.

Lado comunismo: ausência de liberdades políticas, religiosas e económicas elementares. Submissão igualitária dos indivíduos ao Estado. Partido único e inamovível.

Lado liberalismo: exercício livre pelos indivíduos de direitos políticos, religiosos e económicos. Horror do Estado encarado como uma necessidade técnica mas também como uma ameaça. Alternância rápida de partidos diferentes no poder graças au sistema electivo» [2].

Na página 69 do mesmo livro, pode ler-se:

«O que é o comunismo? A ditadura do proletariado, respondiam os pequenos manuais da 3.ª Internacional. Proponho aqui uma outra definição que parece coincidir melhor com a realidade sociológica e geográfica do fenómeno: o comunismo é a transferência para o partido-Estado das características morais e dos mecanismos de regulação da família comunitária exogâmica». [destaques a traço grosso acrescentados ao original, n.e.] [n.e.= nota editorial]

4. Ditadura do proletariado

Tudo está errado nestas duas citações. “Ditadura do proletariado” é um oxímoro, uma expressão abstrusa que enlaça dois conceitos de níveis categorialmente diferentes (político-institucional vs socio-económico) e mutuamente incongruentes para os efeitos discursivos pretendidos pelos seus defensores.

1)Ditadura” era um dispositivo constitucional inventado pela República Romana Antiga que atribuía, transitoriamente, plenos poderes a um magistrado de confiança, denominado “ditador” (porque passava a ser ele a ditar as leis e a tomar todas as decisões importantes), para enfrentar com êxito uma situação de emergência interna ou externa considerada de grande perigosidade para a segurança e estabilidade da República.

2)Proletariado” era também um termo da Roma antiga. Segundo Cícero, a palavra latina proletarius/proletarii (proletário/proletários), que deriva de proles (prole, linhagem, os filhos), teria sido inventada pelo sexto rei de Roma, Sérvio Túlio (Servius Tulius, 579-535 a.C.), para designar, no quadro da sua reforma militar e censitária do reino, os membros da sexta e última classe do censo, a mais pobre de todas, que estavam isentos de imposto por não possuírem terras nem fortuna pecuniária e que não tinham direitos políticos pela mesma razão. Sérvio Túlio apelidou de proletários os cidadãos romanos desta classe censitária, «para fazer ver que só lhes era pedido que dessem filhos e uma posteridade ao Estado». Na primeira metade do século XIX, são criados os termos classe proletária e proletariado em França e na Prússia (hoje Alemanha).  Com eles pretendia-se designar os trabalhadores assalariados, sem terra e sem outros meios de produção individual, a classe mais numerosa, ou em vias de se tornar a mais numerosa, nos países europeus onde o modo capitalista de produção (ou “o capitalismo”, para abreviar) estava mais desenvolvido e também, porventura, a classe mais pobre.

Hal Draper (1914-1990) fez dois estudos minuciosos das poucas ocorrências da expressão “ditadura do proletariado” na obra de Karl Marx e do seu fiel amigo e colaborador, Friedrich Engels [3], e eu próprio abordei, a traços largos, essa questão noutra ocasião [4]. Remeto os leitores interessados para esses artigos.

Aqui, limitar-me-ei a salientar duas coisas.

1.ª) Se “A emancipação dos trabalhadores é obra dos próprios trabalhadores” (o lema que Marx propôs para a Associação Internacional dos Trabalhadores [AIT] e que foi aceite), então, a designação de um ditador, ou de um colectivo de ditadores (com o nome de “Partido Comunista” ou outro qualquer), investido(s) de plenos poderes ‒ ainda que com a alegação de se tratar de uma situação transitória ‒ para agir em nome dos “superiores interesses do proletariado”, conduzirá a tudo menos à sua auto-emancipação.

 2.ª) Só por ignorância crassa ou má-fé se poderá aceitar como boa a resposta “a ditadura do proletariado” à pergunta, “o que é o comunismo?”. Nem sequer os partidários mais fervorosos da “ditadura do proletariado”, incluindo Nikolai Boukharine e Eugenii Preobajensky os autores do ABC do Comunismo, o grande manual enciclopédico (e não “um pequeno manual” como sugere Todd) publicado, em 1920, pela 3.ª Internacional, que foi distribuído em centenas de milhares de exemplares tanto dentro da União Soviética (18 edições) como fora dela (traduzido em 20 línguas estrangeiras) ‒, sustentaram alguma vez tamanho disparate.

5. Liberalismo e Comunismo

Passemos, agora, a examinar as noções de “liberalismo” e “comunismo” que Emmanuel Todd situa, erradamente, no mesmo plano conceptual.

Liberalismo” é o nome de uma doutrina que faz a apologia da oligocracia electiva liberal, no plano político, e do modo capitalista de produção e apropriação de bens e serviços, no plano económico.

Comunismo” é o nome (melhor dizendo, um dos nomes possíveis, entre outros,  [e.g., socialismo, colectivismo,” anarquismo, associativismo, cooperativismo] e não necessariamente o melhor nome) de um modo de produção e apropriação de bens e serviços cujas condições materiais (tecnológicas e sociais) se formaram naturalmente no decurso do desenvolvimento do modo capitalista de produção e apropriação.

Essas condições materiais são, fundamentalmente, três:

(i) a maquinofactura (vulgo, indústria), filha do desenvolvimento da ciência e da tecnologia

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Sinergia entre trabalhadores e maquinaria na produção de automóveis na fábrica AutoEuropa da Volkswagen, em Palmela, Portugal. Fonte da foto: Portugal Global.


(ii) o desenvolvimento tecnológico trifacetado da maquinofactura (indústrias de base, indústrias intermediárias, indústrias de bens de consumo), alimentada por formas variadas de energia cinética, térmica, química, eléctrica, nuclear ⎼ e capaz, por isso, de produzir em larga escala massas enormes de bens duráveis e não duráveis, além de uma vastíssima gama de serviços, destinados a satisfazer as necessidades da população humana;  

(iii) a enorme expansão concomitante de uma classe de trabalhadores “sem eira nem beira”, exclusivamente dependentes, para a sua sobrevivência e reprodução, do aluguer da sua força de trabalho aos proprietários dos meios de produção industrial.

Raoul Julien, um menino trabalhador assalariado fotografado em 1909, numa maquinofactura têxtil de Burlington, Vermont, EUA. Repare-se que está descalço porque os sapatos ainda eram, nesta época  38 anos depois da data de feitura do quadro que se pode ver abaixo ⎼ um luxo para estas crianças proletárias. A foto é do incansável sociólogo e fotógrafo amador Lewis Wickes Hine (1874-1940)




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No último terço do século XIX, nas zonas rurais dos EUA (como também até ao final dos anos 1950 em Portugal), ainda eram muitas as crianças das classes trabalhadoras que iam à escola primária descalças, como nos mostra este magnífico quadro a óleo do pintor americano Winslow Homer (1836-1910), intitulado The Country School [A Escola Rural] de 1871.


Mais: o modo capitalista de produção e apropriação não criou apenas (embora sem querer) as condições materiais da sua superação pelo modo comunista de produção (ou «modo associativo de produção» ou «modo cooperativo de produção», como lhe chamou Karl Marx), baseado na «associação de produtores livres e iguais» (APLI, para abreviar).

O modo capitalista de produção criou também (e também sem querer) as condições mínimas necessárias para que a sua componente humana mais importante (a classe dos trabalhadores assalariados, mencionada mais acima em [iii]) fizesse a demonstração prática, embora em pequena escala, da viabilidade económica (em termos de produtividade do trabalho) e da superioridade política (em termos da liberdade e igualdade dos produtores) do modo associativo de produção que lhe poderá suceder.

Na verdade, durante os primeiros anos da Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT), que desenvolveu a sua actividade de 1864 a 1876, Marx descobriu o protótipo do modo cooperativo de produção baseado na APLI nas cooperativas de produção de trabalhadores. Na Alocução Inaugural da AIT, Marx salienta de forma extremamente elogiosa as «fábricas cooperativas» como sendo «grandes experiências sociais premeditadas» [“great social experiments” no original]. No volume 3 de O Capital, escrito no mesmo período em que foram escritos os documentos fundadores da AIT, Marx considerou as cooperativas de produção como sendo uma forma transitória para o modo associativo de produção.

«As sociedades anónimas capitalistas [firmas onde o capital é dividido em acções que podem ser negociadas livremente (sociedades anónimas de capital aberto) ou que são detidas por um grupo limitado de accionistas (sociedades anónimas de capital fechado), n.e.], assim como as fábricas cooperativas, devem ser vistas como formas transitórias do modo capitalista de produção para um modo associativo de produção; simplesmente num caso, a oposição [entre o capital e o trabalho, n.e.] é abolida de uma forma negativa, e no outro, de uma forma positiva». [5]

Em especial, as fábricas cooperativas, sublinhou,  

«mostram como, numa determinada fase do desenvolvimento das forças materiais de produção – e das formas sociais de produção que lhes correspondem – se desenvolve um novo modo de produção que foi formado naturalmente a partir do velho», onde «a oposição entre o capital e o trabalho foi abolida». Na alocução inaugural da AIT, Marx deixou claro que as cooperativas de produção «mostram praticamente» a superação do capitalismo por «uma associação de produtores livres e iguais» e que «a produção cooperativa» «ataca os alicerces [do capitalismo]».

Daqui se segue que o comunismo ou seja, o modo cooperativo de produção e apropriação de bens e serviços por associações de produtores livres e iguais que trabalham com meios de produção industrial (e também terra [na actividade agrícola, florestal, ganadeira e mineira]) que possuem em comum e com base num plano racional discutido e aprovado democraticamente é antitético do capitalismo, no seio do qual, porém, nasceu e se desenvolve embrionariamente.

Consideremos as cooperativas de produção actualmente existentes, em especial as fábricas cooperativas que são o seu tipo mais complexo — por exemplo, a fábrica cooperativa SCOP-TI, em Gémenos, nas Bouches-du-Rhône, ou a fábrica cooperativa ACOME, em Mortain-Bocage, Manche, ambas em França.

Uma imagem com fábrica, pessoa, edifício, indústria

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ACOME é uma fábrica cooperativa especializada na produção de cabos de alta tecnicidade e de fibra óptica para o sector automóvel e das telecomunicações. Tem a particularidade de ser a maior sociedade cooperativa de França e de pertencer a 100% aos seus mais de 2.000 sócios-trabalhadores. Foto: Acome.2019



SCOP-TI é uma fábrica cooperativa especializada na produção de chá e infusões naturais. Tem a particularidade de ter resultado de uma luta de 1336 dias dos seus trabalhadores para a salvarem do fecho pelos seus anteriores proprietários: o grupo Unilever. 1336 é agora o nome da marca dos chás e infusões produzidos na fábrica que, desde 2014, pertence a 100% aos seus 47 sócios-trabalhadores. Foto: Scop-Ti.


Julgo que não é difícil imaginarmos, com base na observação destas e de outras fábricas cooperativas (e apesar de todas as limitações decorrentes de operarem num ambiente industrial,  comercial e comunicacional que lhes é profundamente hostil), que a forma capitalista da sociedade pode ser abolida para dar lugar

― ao «sistema republicano e beneficente da associação de produtores livres e iguais» [6];  

― a «uma sociedade composta por associações de produtores livres e iguais que levam a cabo a sua actividade socio-económica com base num plano comum e racional» [7].

Por conseguinte, o agente do comunismo, tal como Marx o entendeu, não é uma abstracta “sociedade” ou um “Estado” que detém a propriedade dos meios industriais de produção e da terra. Também não é um “partido de vanguarda” que dirige sozinho, instalado na cúpula desse Estado, os organismos de planificação estatal da produção de acordo com a sua interpretação dos “superiores interesses do proletariado”.

É, como vimos, a associação dos produtores livres e iguais, as associações cooperativas unidas que levam a cabo a sua actividade socioeconómica com meios industriais de produção (e terra agricultável e minerável) que possuem em comum e com base num plano comum e racional discutido e aprovado democraticamente.

Assim sendo, é fácil de ver que regimes que Emmanuel Todd considera como sendo exemplos de “comunismo realizado(como, por exemplo, [1] a ex-URSS, [2] a ex-República Socialista Federativa da Jugoslávia, [3]  a ex- República Popular da Albânia, [4] a República Popular da China, [5] a República Socialista do Vietnam ou [6] a República de Cuba) não têm nada em comum (casos [1], [3],[4], [5], [6]) ou têm muito pouco  em comum (caso [2]) com o comunismo  — aliás, o modo cooperativo de produção baseado na APLI que foi identificado por Marx no útero do modo capitalista de produção cujo funcionamento explicou e descreveu meticulosamente em milhares de páginas.

Isto conduz-nos a uma última consideração sobre a relação entre comunismo e capitalismo. Embora o comunismo (na acepção marxiana do termo, a única que considero válida pelas razões apontadas) seja antitético do capitalismo, não se opõe à ideia de liberdade sustentada pelo liberalismo. Pelo contrário, para Marx o comunismo expande a ideia liberal-burguesa da liberdade, levando-a até aos seus limites lógicos, que nunca podem ser atingidos no âmbito do capitalismo.

Isso acontece porque, dentro do capitalismo, as liberdades mais exaltadas pelo liberalismo a liberdade económica de criar, comprar e vender bens e serviços e a liberdade política de escolher quem governa são liberdades parciais, instáveis e provisórias, por duas ordens de razão.

São liberdades parciais porque pressupõem que seja mantida a separação dos produtores (que são, na sua grande maioria, trabalhadores assalariados) relativamente aos meios industriais de produção de bens e serviços que eles operam e que asseguram as suas condições materiais de existência, mas que não lhes pertencem.

São liberdades instáveis e provisórias porque, caso essa separação seja posta em causa pelos produtores em busca da condição fundamental das suas liberdades (a de constituírem «uma associação de homens livres que trabalham com meios de produção que possuem em comum, e que dispendem as suas diferentes formas de força de trabalho com plena auto-consciência e como uma única força de trabalho social») [8] todas essas liberdades parciais são imediatamente restringidas, suspensas ou violentamente suprimidas pelos  chamados “poderes fácticos”.

6. Resumindo e concluindo

Em resumo, o “mapa do comunismo realizado” que Todd construiu e a “derrocada do comunismo” que ele diz ter previsto são construtos fictícios, sem correspondência com a realidade.  Só podem ser recuperados do cesto de papéis amachucados para onde devem ser atirados, se começarmos por admitir duas coisas:

a)  que o “mapa do comunismo realizado” de Todd não cobre o comunismo, como ele afirma erradamente, porque o comunismo ou seja, uma vez mais, o modo cooperativo de produção de bens e serviços por associações de produtores livres e iguais, que trabalham com meios industriais de produção (e terra) que possuem em comum e com base num plano racional e comum, discutido e aprovado democraticamente nunca foi realizado, até à data, em parte nenhuma, à escala de um país inteiro, ou, por maioria de razão, à escala de vários países.

b) que a “derrocada da União Soviética” que Todd previu, de certa maneira, em 1976 [9], não é equivalente, como ele afirma erradamente, à “derrocada do comunismo”, mas à derrocada de outra coisa bem distinta do comunismo e que merece, como tal, ter um nome adequado que lhe seja próprio e, sobretudo, ser estudada no que tem (/teve) de original e específico.

Que coisa? A questão não pode ser respondida aqui. Exigiria um livro inteiro. Contentar-me-ei, por conseguinte, em dar-lhe um nome provisório tão-somente para fixarmos as ideias, separarmos o trigo do joio e facilitarmos a conversação. O nome que sugiro foi proposto por George Orwell, o númen inspirador deste blogue: colectivismo oligárquico, ou, como prefiro dizer (mas que vem a ser o mesmo) colectivismo oligocrático, para que possa rimar (e contrastar) com um futuro colectivismo democrático — «um grande e harmonioso sistema de trabalho livre e cooperativo» [10].

Assim sendo, «la décomposition de la sphère soviétique» [a desagregação da esfera soviética] a que Emmanuel Todd dedicou um livro 15 anos antes da sua ocorrência, foi, na verdade, a desagregação de todas as formas de colectivismo oligocrático que vigoraram durante muitas décadas nos 15 países que formavam a ex-União Soviética (1917-1991) e nos 7 países que formavam com ela o ex-Pacto de Varsóvia (1955-1991).  

Regressemos, então, ao “mapa do comunismo realizado” de Todd, sabendo agora que tem um título errado e enganoso.  Deveremos atirá-lo para o cesto de papéis que deixaram de ter préstimo? Ou existem razões para salvá-lo desse triste destino, uma vez separado desse título? 

Julgo que devemos responder “não” à primeira pergunta e “sim” à segunda. Isto porque o que o mapa de Todd sugere ou indica, de facto, uma vez liberto do seu erro de julgamento, é que existe uma forte correlação estatística

(i) entre, por um lado, a implantação eleitoral, em certas regiões, de partidos que se autodenominam comunistas e, por outro, um certo tipo de família (a família comunitária exogâmica) predominante nas regiões de maior implantação eleitoral desses partidos;

e que existe uma

(ii) prevalência numérica desse mesmo tipo de família na população de Estados onde vigoraram ou vigoram formas de organização económica social e política típicas do colectivismo oligocrático.

Se se vier a concluir que as proposições (i) e (ii) são verdadeiras o que exigirá, certamente, uma aturada investigação empírica para além daquela que Todd efectuou a conclusão constituirá uma descoberta interessante e valiosa, até pelo seu carácter inusitado e deveras intrigante para quem não está familiarizado com os trabalhos de Emmanuel Todd. É que, embora refutando e corrigindo as conclusões originais de Todd sobre o assunto, esse veredicto não deixa de ser um êxito a creditar na conta da sua teoria dos três níveis societais e, em particular, da relação, por ele descoberta, entre os sistemas familiares e os sistemas ideológicos.

É como se Emmanuel Todd tivesse descoberto uma coisa verdadeiramente nova, mas que não é, ou não é no essencial, o que ele julga que é. Neste sentido, o caso de Todd é, neste particular, reminiscente do caso de Cristovão Colombo. É sabido que Colombo, quando chegou às Bahamas, na América do Norte, julgou ter chegado à Índia, por uma rota diferente da que tinha sido descoberta por Vasco da Gama. Colombo manteve essa crença até ao fim da sua vida. Espero que não aconteça o mesmo com Todd no que respeita à sua equivocada caracterização do comunismo.

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Notas e Referências

[1] Emmanuel Todd, Où en sommes-nous? Une esquisse de l’histoire humaine. Paris, Éditions du Seuil, 2017, p.21(traduzido em português como Onde Estamos? Uma outra visão da história humana. Editor: Temas e Debates, 2018).

[2] Emmanuel Todd, La Diversité du Monde. Structures familiales et modernité. Éditions Seuil. 2017, p.32.

 [3] Hal Draper, “Marx and the Dictatorship of the Proletariat”. New Politics, Vol. 1, N. º 4, Summer 1962, pp. 93 ff); Hal Draper, “The ‘Dictatorship of the Proletariat’ in Marx and Engels”. Chapter 1 of “The ‘Dictatorship of the Proletariat’ from Marx to Lenin”, by Hal Draper, Monthly Review Press, 1987.

[4] José Catarino Soares, “O que fazer com a obra de Karl Marx nos tempos que correm, 200 anos depois do seu nascimento? -Parte I-”. Tertúlia Orwelliana, 21 Junho, 2018

https://tertuliaorwelliana.blogspot.com/2018/06/tema-4-o-que-fazer-com-obra-de-karl_20.html

[5] Karl Marx, Capital. Vol. 3 (Fn. 7), p. 572 (MEGA II/4.2, p. 504)

[6] Karl Marx, “Instructions for the Delegates of the Provisional General Council. The Different Questions”. In: MEGA I/20, p. 232.

[7] Karl Marx, “The Nationalization of the Land”. In: MECW. Vol. 23, p. 136).

[8] Karl Marx. Capital. Vol. 1 (Fn. 6), p. 171 (MEGA II/6, p. 109)

[9] Emmanuel Todd, La chute finale. Essai sur la décompositionde la sphère soviétique. Robert Laffont, 1976. Reedição em 2004.

[10] Karl Marx, “Instructions for the Delegates of the Provisional General Council. The Different Questions”. In: MEGA I/20, p. 232.