Temas 1 e 2
Governação,
engenharia do consentimento
e Fake News
NOTA EDITORIAL
Jacques
Baud é mal conhecido em Portugal. Os editores portugueses ainda não o
descobriram, apesar da sua vasta e importante obra. Salvo erro, nenhum dos seus
livros foi traduzido em Portugal. E é pena porque se trata de um autor
imprescindível para se compreender o mundo em que actualmente vivemos.
Um
exemplo disso é o seu livro Gouverner par les Fake News (2020) [Governar por meio das Fake News]. Considero-o
uma demonstração muito abrangente, concreta e meticulosa do modo como actua a formidável
máquina de desinformação, manipulação, ocultação e distorção dos factos que dá
pelo nome inocente de “meios de comunicação social
para o grande público” (“mass media” ou “mainstream
media” na língua dominante) — uma máquina cujos
princípios básicos de funcionamento foram descritos e analisados por Edward S. Herman
e Noam Chomsky no seu livro Manufacturing Consent: The Political Economy of the Mass
Media (1988) [tradução brasileira: A manipulação do público
(2003)]
Capa original do livro |
Um
exemplo disso é o 4.º capítulo de Gouverner par les Fake News que Fernando
Oliveira, fazendo jus à sua proverbial generosidade, decidiu traduzir para conhecimento
do público português. Nesse capítulo, Jacques Baud dá-nos todos os elementos
necessários para entendermos, com cinco anos de antecedência (!), a chamada “guerra dos 12 dias”: o ataque de Israel e dos EUA
contra o Irão que ocorreu de 13 a 24 de Junho deste ano.
Isso
talvez não seja inteiramente evidente, porque a tradução de Fernando Oliveira do
capítulo 4 de Gouverner par les Fake News (50 páginas de formato A4, tamanho
de letra 14 pontos, com espaçamento de 1,5 entre linhas) teve de ser reduzida para
metade por exigência do editor. Assim sendo, tivemos de suprimir as secções
4.3.2 [o Hezbollah], 4.3.3 [A guerra dos petroleiros], 4.4.2 [A catástrofe do vôo PS572] e mais de metade da secção
4.5 [Conclusões sobre a ameaça iraniana] (na numeração
do livro em francês).
Apesar
desses cortes, as partes que seleccionámos para publicação são suficientes,
estamos em crer, para se perceber a poderosa oficina analítico-interpretativa de
Jacques Baud.
Resta-me agradecer ao editor Max Milo a oportunidade que gentilmente nos deu de divulgar um texto notável de Jacques Baud sem pagar direitos de autor e agradecer ao tradutor Fernando Oliveira, uma vez mais, as muitas horas de trabalho que dispendeu para nos proporcionar o acesso gratuito a esse texto na nossa língua materna.
José Catarino Soares
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Nota introdutória do
tradutor
Os
acontecimentos de 24 de Fevereiro de 2022 (2.ª guerra da Ucrânia), 7 de Outubro
de 2023 (incursão do Hamas em Israel) e 13 de Junho de 2025 (ataque de Israel
ao Irão) surpreenderam-me e preocuparam-me em graus diferentes. Mas o que me
preocupa quase tanto, ou mais, é a campanha de desinformação, de mentiras, de
notícias falsas, de manipulação e distorção de factos a que vimos assistindo
desde a primeira daquelas datas.
Foi
isto que me levou à maratona de traduzir o Capítulo 4 do livro Gouverner par
les Fake News, de Jacques Baud (Edições Max Milo, 2020) sobre o Irão,
para dar a conhecer o contexto do que estamos a viver agora, e a propor o texto
à Tertúlia
Orwelliana que, em boa hora, o acolheu, conseguindo do editor Max Milo autorização
para a sua publicação [embora com alguns constrangimentos especificados na nota
editorial]. Muito obrigado!
Não
vou antecipar notícias fraudulentas desmontadas por Baud. Vou apenas dar a
conhecer uma notícia, esta verdadeira, mas nunca revelada, até ser divulgada numa
entrevista
do general americano Wesley Clark (alguém acima de qualquer suspeita quanto a “putinismo”
ou simpatia por «teocracias brutais, sanguinárias,
ditatoriais», o seu currículo pode ser consultado aqui)
de 2007 à jornalista Amy Goodman, do canal noticioso Democracy Now!
Na entrevista, Clark, já reformado e de visita ao Pentágono, narra o encontro com um ex-camarada alguns meses depois do 11 de Setembro de 2001. O camarada (passo a citar) «debruça-se sobre a mesa, pega numa folha de papel e diz: ‘Acabei de receber isto lá de cima’ ⎼ ou seja, do gabinete do Secretário da Defesa ‒ ‘hoje. É um Memorando que descreve como vamos eliminar sete países em cinco anos, a começar pelo Iraque, depois Síria, Líbano, Líbia, Somália, Sudão e a acabar no Irão.’» (fim de citação). Clark pergunta, cito: «‘É confidencial? O camarada responde: Claro, meu general!’»(fim de citação) (gargalhadas da assistência). Entre muitos, muitos outros, estes são os factos que não nos revelam e que fazem parte da génese do que agora estamos a viver.
Vamos então acompanhar Jacques Baud na descoberta das notícias fraudulentas [Ingl. “fake news”].
Fernando Oliveira
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Governar por meio das Fake News [*]
Jacques Baud
4.º Capítulo. O Irão
(tradução
de Fernando Oliveira)
Parte I
1. O contexto
O
Irão é tradicionalmente um país amistoso em relação ao Ocidente. Etnicamente
diferente dos árabes, a sua população é fortemente influenciada pela cultura
indiana e pratica um islão xiita menos rigoroso do que o islão sunita da Arábia
Saudita. O Irão não tem tradições bélicas e não ataca qualquer país desde 1798.
Depois
do derrube do primeiro-ministro Mohammed Mossadegh em 1953 por uma operação
conjunta do MI-6 britânico e da CIA americana (Operação AJAX), e até ao início dos anos 1980, o Irão foi o principal
aliado de Israel e do Ocidente na região. País vizinho da União Soviética, é na
época uma peça essencial do dispositivo dos Estados Unidos, quer pela sua
política regional, quer pelas suas capacidades de recolha de informações. Não
obstante, o Irão segue uma política de segurança não alinhada. Os seus
equipamentos militares provêm em partes iguais de países do Leste e do
Ocidente: os tanques soviéticos T-72 circulam ao lado de tanques britânicos
Chieftain[i].
A
partir de 1976, a prioridade do governo Carter relativa às questões dos
direitos humanos leva o Xá a diversificar as suas alianças e a aumentar a
cooperação militar com Israel. Os documentos apreendidos na embaixada americana
em Teerão em 1979 revelam mesmo que Israel projectava vender um míssil nuclear
ao Irão (Operação TZOR)[ii].
Chegada de Khomeini ao Aeroporto Internacional de Mehrabad em Teerão, 1 de Fevereiro de 1979 (GFDL) |
Em
1979, a chegada de Khomeiny ao poder não apaga 25 anos de cooperação com Israel
em matéria militar e de informações. O Irão sofreu uma guerra provocada pelo
Iraque e ataques químicos realizados com a bênção dos Estados Unidos[iii]: Israel é então um
aliado precioso «na retaguarda» dos países árabes. Pelo seu lado, Israel olha
para o Irão como uma espécie de «contrapeso estratégico» à pressão árabe, e
dá-lhe apoio. Entre outros, ataca o Centro de Investigação de Tuwaitha,
perto de Bagdade (30 de Setembro de 1980) e depois a central nuclear iraquiana
de Osirak (7 de Junho de 1981). Nessa altura, o inimigo de Israel era o Iraque,
que dava abrigo a vários movimentos palestinianos desde meados dos anos 1970.
As
negociações para a libertação dos 52 reféns da embaixada americana em Teerão
terminam nos Acordos de Argel de 19 de Janeiro de 1981, que estipulam, entre
outros pontos:
Os Estados Unidos comprometem-se, a partir deste momento, a
desenvolver uma política que não intervenha de alguma forma, directa ou
indirectamente, política ou militarmente, nos assuntos internos do Irão[iv].
…
um compromisso que os Estados Unidos não respeitarão nunca.
Alguns
meses mais tarde, a fim de financiar os Contras
nicaraguenses, o Presidente Reagan autoriza secretamente a venda de armas ao
Irão. É o início do «Irangate», no qual
Israel irá desempenhar um papel de relevo ao entregar discretamente armas ao
Irão, acabando mesmo por «ultrapassar» os
Estados Unidos ao fornecer ao Irão armas não aprovadas. É por isso que os
americanos lançam a Operação STAUNCH, na
Primavera de 1983, destinada a interromper as entregas de armas.
No
dia 3 de Julho de 1988, o Airbus do voo Iran Air 655 é abatido por um míssil
mar-ar disparado pelo cruzador americano USS Vincennes, provocando 290 mortos,
entre os quais 66 crianças. Os inquéritos realizados posteriormente pela Organização
da Aviação Civil Internacional (OACI) e pela marinha americana confirmaram
que o cruzador se encontrava em águas territoriais iranianas e tinha de facto
detectado uma aeronave civil em trajectória ascendente.
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O
governo americano começou por negar e depois mentiu ao afirmar que o USS
Vincennes estava em águas internacionais e o Airbus encetara um voo picado
sobre o navio, acabando por justificar o disparo como um «erro». Mas continuava
a ser uma mentira: o capitão William C. Rogers III estava convencido de que era
alvo de um ataque por um F-14 iraniano[v]! No final da missão, a
tripulação do navio foi condecorada com a «Combat Action Ribbon»
concedida a quem «tenha participado activamente em
acções de combate», enquanto o oficial encarregado da coordenação do
combate aéreo recebeu a «Navy Commendation Medal» por «acções heróicas ou meritórias reiteradas»[vi]! A
justiça internacional[vii] acabou por condenar os
Estados Unidos a indemnizar as famílias das vítimas e a apresentar desculpas.
Mas o Presidente George H. Bush (pai) declarou,
Nunca apresentarei qualquer desculpa em nome dos Estados Unidos da
América. Nunca. Os factos não me interessam[viii].
… o que os meios de comunicação ocidentais
nunca referirão depois da tragédia do voo da Ukraine Airlines 752 de Janeiro de
2020[ix].
A
partir do fim da Guerra Fria, o Irão esforçou-se por melhorar as suas relações
com o Ocidente.
A
neutralidade que assumiu na Primeira Guerra do Golfo (1990-91) representou uma
chave para o êxito da coligação internacional. Neste equilíbrio geostratégico
em mutação, o Irão aproveitou para estender a mão aos Europeus, mas, sob
pressão americana, estes não a aproveitaram.
Depois
do «11 de Setembro» [de 2001], o governo do
Presidente Mohammed Khatami enviou condolências ao povo americano e apoiou a
intervenção americana no Afeganistão. Após o assassinato de nove diplomatas
iranianos pelos talibãs em 1998, as tensões entre os dois países agravaram-se e
o Irão concedeu um apoio significativo aos Americanos no domínio das
informações, no início da Operação ENDURING FREEDOM.
Além disso, o Irão financiou e treinou a Aliança do Norte de Ahmed Shah
Massoud, que derrubou os talibãs e tomou o poder em Cabul em 14 de Novembro de
2001. Em Dezembro deste mesmo ano, na Conferência de Bona, o negociador
americano James Dobbins agradeceu ao Irão por ter convencido os aliados afegãos
a aderirem à coligação de Unidade Nacional[x]. Mas um mês depois, a 29
de Janeiro de 2002, aquando do discurso sobre o Estado da União, o
agradecimento do Presidente americano foi incluir o Irão no «Eixo do Mal»!
Desde
2001, foram os erros e a falta de visão estratégica dos ocidentais que deram ao
Irão o seu papel de potência regional, como confirma o antigo ministro dos
Negócios Estrangeiros israelita Shlomo Ben-Ami:
O Irão apoiou os Estados Unidos durante a primeira Guerra do Golfo,
mas foi excluído da Conferência de Madrid. O Irão posicionou-se ao lado do
governo americano na guerra contra os talibãs no Afeganistão. E quando as
forças armadas americanas derrotaram o exército de Saddam Hussein na Primavera
de 2003, os iranianos, na defensiva, propuseram um «pacto global» que colocasse
todos os pontos de discórdia em cima da mesa, da questão nuclear a Israel, do
Hezbollah ao Hamas. Os iranianos ainda se comprometeram a não mais obstruir o
processo de paz israelo-árabe. Mas a arrogância neoconservadora americana —
«Não discutimos com o Eixo do Mal» — impediu uma resposta pragmática à
iniciativa iraniana[xi].
Ao
intervir no Iraque em 2003, com o apoio da maioria xiita do país, os estrategas
americanos não compreenderam que estavam a criar um eixo contínuo entre o Irão
e o Líbano, que reforçaram ao isolar a Síria após 2005. Criaram assim um
sentimento de cerco nas monarquias do Golfo, como atesta uma mensagem SECRETA
da embaixada americana em Riade, de 22 de Março de 2009[xii]. É o que mais tarde irá
levar a Arábia Saudita e o Catar a reafirmar a influência sunita através das
revoluções que afectaram os países árabes laicos. O Ocidente viu-as como surtos
democráticos, quando na verdade eram essencialmente uma reacção de defesa das
monarquias do Golfo, que se sentiam ameaçadas. E isso ainda mais porque a maior
parte das suas riquezas petrolíferas se localiza em áreas onde as suas minorias
xiitas são maioritárias.
No início dos anos 2000, as relações entre o Irão e Israel mudaram radicalmente, e o Estado hebreu vê o apoio americano como uma condição sine qua non para a sua sobrevivência. No entanto, esse apoio depende das ameaças que pesam sobre ele. Com o desaparecimento do Iraque como principal ameaça, Israel alinha-se com o seu protector e adopta o Irão como «inimigo preferencial». A sua paranóia no caso do Iraque não tinha qualquer fundamento e é igualmente infundada hoje no que diz respeito ao Irão.
O
Irão está na mira dos Estados Unidos, que pretendem impor-lhe uma mudança de
regime[xiii]. Em 21 de Abril de
2004, o Presidente George Bush declara que vai «ocupar-se
do Irão[xiv]»,
o que levou o Irão a anunciar, em Fevereiro de 2005, que estava a iniciar
preparativos para combater uma eventual agressão americana. Segundo Philip
Giraldi, ex-agente da CIA, os americanos planeavam um ataque nuclear e
convencional, com 450 alvos a destruir no Irão[xv]. Esta política pouco
esclarecida cria uma espiral de tensões e, apesar da oposição ao regime dos
mulás, a unidade nacional fortalece-se em favor dos «radicais»
e em detrimento dos reformistas: é assim que Mahmoud Ahmadinejad assume a
presidência, em 3 de Agosto de 2005.
Mahmoud Ahmadinejad, Presidente do Irão 2005–13 |
Em
2006, os Estados Unidos iniciaram as suas operações de subversão na Síria com
vista a uma mudança de regime. Para Teerão, a Síria era uma espécie de último
baluarte, o único aliado na região capaz de evitar um cerco estratégico: o eixo
Damasco-Teerão reforça-se [Nota do tradutor: como é do conhecimento geral,
os terroristas islâmicos do Hayat Tahrir al-Sham, a Al-Qaeda síria, tomaram o
poder neste país em finais de 2024].
Em
2007, o Presidente George W. Bush assina um decreto que autoriza operações
clandestinas no Irão[xvi] e o Congresso vota um
crédito de 400 milhões de dólares para provocar uma mudança de regime[xvii]. Estas operações
apoiam-se em movimentos separatistas baluchis e ahwazi iranianos, para além de
outras organizações dissidentes e incluem um apoio activo (entrega de armas e
equipamentos, treino de tropas, etc.) a movimentos terroristas. É o caso do Partido
da Vida Livre do Curdistão (PJAK) (na lista de movimentos terroristas do
Departamento do Tesouro desde 4 de Fevereiro de 2009[xviii]) ou do Modjahedine-Khalq
(MeK), apesar de ser responsável pela morte de americanos na década de 1970
(também na lista de movimentos terroristas do Departamento de Estado desde 10
de Agosto de 1997[xix])
e indicado como exemplo da conivência do Iraque com o terrorismo[xx]! Estas operações
coincidem com um recrudescimento dos atentados terroristas no Irão, em
particular em Ahvaz, a 12 de Junho e 15 de Outubro de 2005 e a 24 de Janeiro de
2006), incluindo o assassinato de cientistas iranianos, nos quais o governo
iraniano confirmou a responsabilidade dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha[xxi].
Depois
da chegada ao poder do Ayatollah Khomeini (que os americanos não souberam
antever), os Estados Unidos empenharam-se em convencer a opinião pública
ocidental de que o poder iraniano era irracional e hegemónico, justificando
assim a aplicação de sanções que não pararam de aumentar, até se tornarem uma
espécie de «ruído de fundo» estéril que os iranianos aprenderam a contornar no
dia a dia.
2. «O Irão é o país mais perigoso do mundo, na
realidade mais perigoso do que o Estado Islâmico[xxii]»
2.1. O Irão quer destruir Israel
Uma
lenda urbana largamente difundida e mantida pela propaganda ocidental[xxiii] e israelita é que o
Irão procura «destruir Israel». O seu ponto de
partida é uma conferência, realizada no dia 26 de Outubro de 2005, subordinada
ao tema «Um Mundo sem Sionismo», em que o Presidente Mahmoud Ahmadinejad cita o
Ayatollah Khomeiny:
Como disse o imã, o regime que ocupa Jerusalém deve ser apagado das
páginas da História[xxiv].
Mas
a frase é mal traduzida pelo serviço de tradução da Agência Iraniana de
Informação (IRNA), e sai:
Como disse o imã, Israel deve ser riscado do mapa[xxv].
No
entanto, os comentadores sérios reconhecem que Ahmadinejad nunca disse isso,
nem no espírito nem na letra[xxvi]. Assim, ele não referiu
o Estado de Israel, mas apenas o seu governo
(que, evidentemente, não se apaga do mapa!) e não se referiu a uma noção
geográfica («mapa»), mas à História. De
resto, a sua citação foi acompanhada por três exemplos: o regime soviético, o
regime do Xá do Irão e o regime de Saddam Hussein. Mesmo o Instituto de
Investigação sobre os Meios de Comunicação no Médio Oriente (MEMRI), com base
em Washington, confirma este erro de tradução[xxvii]. Os iranianos vão
tentar restabelecer uma tradução mais correcta, mas é demasiado tarde...
Em
2005, em plena guerra contra o «Eixo do Mal», com a resistência xiita no Iraque
— e a suspeita de armas nucleares no Irão —, o erro de tradução cai no momento
certo e tem um impacto considerável. Assim, o Presidente Nicolas Sarkozy, então
de visita a Israel, declara:
Aqueles que apelam, de forma chocante, à destruição de Israel
encontrarão sempre a França na sua frente para lhes barrar o caminho[xxviii].
Ainda
hoje, constitui a principal chave de leitura da posição iraniana para muitos
políticos ocidentais e alimenta um discurso catastrofista, amplamente
sustentado pelo governo israelita. Tornou-se uma verdadeira ferramenta de
manipulação que impede qualquer diálogo construtivo. Enquanto a maioria dos
meios de comunicação tradicionais ocidentais continua a propagar a tradução
errada, como a RT France (que é frequentemente acusada de ser favorável
ao Irão)[xxix], raros são os meios de
comunicação que, como o Guardian, tentam regularmente corrigi-la[xxx].
O
regime dos mulás não é unanimemente apoiado pelos iranianos, que geralmente são
favoráveis ao Ocidente e que poderiam muito bem voltar-se contra o regime. Mas,
perante o que se entende no Médio Oriente como uma «cruzada»
ocidental, agravada pelos repetidos ataques israelitas contra unidades
iranianas destacadas na Síria, muitos iranianos sentem que o seu país pode ser
o próximo alvo dos Estados Unidos. O governo de Teerão é assim empurrado pela
opinião pública para uma «jihad verbal»
muito mal compreendida no Ocidente. Com a sua retórica agressiva contra Israel,
o poder iraniano gera uma reacção americana suficientemente forte para manter a
unidade nacional, sem, no entanto, dar um pretexto tangível para uma
intervenção militar.
Estamos
tão habituados a travar guerras sem objectivos concretos que atribuímos a mesma
insensatez aos outros. Quais poderiam ser os objectivos do Irão ao entrar numa
guerra contra Israel? Sem fronteiras comuns, sem pretensões territoriais, sem
laços étnicos e sem disputas políticas específicas, com uma minoria judaica que
não é perseguida, que se sente até respeitada[xxxi] e que está representada
no Parlamento, é difícil perceber o que poderia o governo iraniano ganhar com
tal aventura. Sem contar que isso desencadearia, sem dúvida, uma reacção
militar ocidental.
Depois
de ter criado uma ameaça que levou a Síria a pedir ajuda ao Irão, Israel
sente-se ameaçado por este. No programa «C dans l’air» de 11 de Maio de
2018, a socióloga Mahnaz Shirali acusa o Irão de provocação, afirmando que «se sabe» que o Irão estava por trás de um ataque com
mísseis contra Israel em 10 de Maio[xxxii]. É falso. Na
realidade, tratava-se de uma resposta síria, após um ataque com
mísseis israelitas contra a aldeia de Baath[xxxiii], que não é em momento
algum evocado na emissão. De facto, os militares iranianos na Síria estão com
toda a clareza envolvidos no combate contra os jihadistas (em parte armados por
Israel) e não estão equipados nem posicionados para constituírem uma ameaça ao
Estado hebraico. De resto, a 14 de Maio de 2019, numa teleconferência com o
Pentágono, o major general Christopher Ghika, segundo-comandante da coligação
ocidental (Operação INHERENT RESOLVE)
declara:
Não, não há qualquer ameaça acrescida pela presença de forças
pró-iranianas no Iraque e na Síria. É claro que estamos cientes dessa presença
e a controlamos em conjunto com outros, porque esse
é o nosso ambiente. Controlamos as milícias xiitas /.../ atentamente e, se nos parecer que o nível de ameaça aumenta,
aumentaremos as nossas medidas de protecção em conformidade[xxxiv].
2.2. Anti-semitismo e negacionismo
Pouco
depois da crise das «caricaturas de Maomé» na Noruega e na Dinamarca, no final
de 2005, o Presidente Ahmadinejad propôs a realização de uma Conferência nos
dias 11 e 12 de Dezembro de 2006 em Teerão, intitulada «Revisão do
Holocausto: Visão Global» precedida, em Fevereiro de 2006, por um
concurso de caricaturas sobre o Holocausto, organizado pelo jornal iraniano Hamshahri.
Como previsto pelos iranianos, a conferência desencadeou uma onda de protestos
no Ocidente.
No
entanto, ao contrário do que foi relatado no Ocidente, o seu objectivo não era
contestar a realidade do Holocausto. Até estavam presentes judeus ortodoxos que
por certo não negam a realidade do Holocausto, mas contestam a exploração
política do mesmo[xxxv].
Considerada «anti-semita» e «revisionista»
pela imprensa ocidental, esta Conferência revelou-se uma armadilha. Não contra
os judeus, mas contra os ocidentais, ao evidenciar as suas contradições sobre a
liberdade de expressão[xxxvi].
Depois
dos atentados do Charlie Hebdo, em 2015, o Sarcheshmeh Cultural
Complex iraniano organizou um concurso da mesma natureza[xxxvii]. Os desenhadores
orientaram-se segundos três linhas:
1- Se o Ocidente não conhece limites em matéria de liberdade de
expressão, por que não permite que investigadores e historiadores discutam o
Holocausto?
2- Por que razão a opressão dos palestinianos deve compensar o
Holocausto? Pessoas que não tiveram qualquer papel na Segunda Guerra Mundial?
3- Estamos preocupados com outros holocaustos, como o holocausto
nuclear (o holocausto no Iraque, na Síria e em Gaza)[xxxviii].
Como
se pode verificar, nenhuma delas negava o facto histórico, nem de perto nem de
longe. Além disso, o vencedor não contestava a existência do Holocausto, muito
pelo contrário, uma vez que – com ou sem razão – o comparava à situação actual
dos palestinianos[xxxix].
Não
cabe aqui discutir se os concursos são de «bom
gosto» ou não. Na verdade, para o Irão – como para o mundo muçulmano em
geral – a realidade do Holocausto não constitui uma preocupação nem um
problema. Além disso, em Setembro de 2013, o Presidente Hassan Rouhani afirmou
à jornalista Christiane Amanpour, da CNN, que «o crime
cometido pelos nazis contra judeus e não judeus era inaceitável e condenável[xl]»,
reconhecendo assim a realidade do Holocausto. E, todavia, o Irão continua a ser
considerado «negacionista[xli]».
2.3. O programa
nuclear
No
dia 6 de Setembro de 2019, Axel de Tarlé abre a emissão de «C dans l'air»
no canal France 5 afirmando que o Irão retomou o seu programa nuclear
com o «objectivo não confessado – possuir a bomba
atómica[xlii]».
Trata-se de desinformação.
Após
a guerra com o Iraque, em 1988, o Irão abandonou definitivamente a ideia de
exportar o seu modelo de revolução islâmica e procurou reforçar as suas
capacidades defensivas. Fora vítima de ataques químicos (com a ajuda dos
americanos[xliii])
e considera uma estratégia defensiva baseada na dissuasão. Assim, lança o Projecto
AMAD, um programa de investigação para
estudar a viabilidade da aquisição de armas nucleares. Não se
trata de atacar os Estados Unidos ou Israel, mas de enfrentar a ameaça
iraquiana[xliv].
Em
Fevereiro de 2000, com o objectivo de conhecer a natureza e o progresso do
projecto AMAD, os americanos decidiram
realizar uma operação sob falsa bandeira: a operação MERLIN[xlv], fornecendo ao Irão os
planos de um dispositivo de ignição TBA-480 para bombas nucleares, de modo a
permitir que a CIA e a NSA «rastreiem» o
desenvolvimento da bomba. Os planos contêm erros imperceptíveis para impedir a
construção de uma arma funcional. Mas a operação revela-se um fiasco: os
iranianos suspeitam de uma fraude e desmantelam toda uma rede da CIA no Irão[xlvi]. Nada permite confirmar
que o Irão esteja a desenvolver uma arma nuclear, mas os meios de comunicação
ocidentais continuam a propagar esta desinformação[xlvii].
Em
Maio de 2005, a Comunidade de Informações Americana estimava que o Irão estava
«decidido a desenvolver armas nucleares[xlviii]».
Mas em Novembro de 2007, numa Avaliação Nacional de Informações (NIKE),
o Gabinete do Director Nacional de Informações e o Conselho Nacional de
Informações revêm a sua decisão e confirmam que «Teerão
interrompeu o seu programa de armamento nuclear no Outono de 2003[xlix]». O
New York Times escrevia:
Apesar das repetidas campanhas de difamação, a AIEA manteve-se
firme e concluiu repetidamente que, desde 2002, não há qualquer prova de um
programa nuclear não declarado no Irão[l].
No
início de 2012, a CIA e a Mossad concordaram que o Irão nunca tinha tomado a
decisão de construir armas nucleares[li]. O Irão não constitui,
portanto, uma ameaça.
Mas,
como admitem os próprios Serviços de Informação americanos[lii], o que se procura é um
pretexto para derrubar Ahmadinejad. É por isso que o Conselho de Segurança
retoma o regime de sanções contra o Irão em Junho de 2012[liii]. Em Setembro do mesmo
ano, perante a Assembleia-geral das Nações Unidas, Benjamin Netanyahu afirma
que o Irão teria a arma nuclear no Verão de 2013, o mais tardar[liv]. Mas está novamente a
mentir: uma nota da Mossad enviada algumas semanas mais tarde aos Serviços de
Informações sul-africanos afirma que...
Nesta fase, o Irão não desenvolve as actividades necessárias para
produzir armas nucleares[lv].
Em
14 de Julho de 2015, Estados Unidos, Rússia, China, França, Reino Unido,
Alemanha, União Europeia (UE) e Irão assinaram o Acordo de Viena (mais
conhecido pela sua sigla em inglês: JCPOA) [Nota do tradutor: sigla inglesa
do Joint Comprehensive Plan of Action ou Plano de Acção Conjunto Global].
Ministros dos Negócios Estrangeiros dos países P5+1, União Europeia e Irão: John Kerry (EUA), Philip Hammond (Reino Unido), Sergey Lavrov (Rússia), Javad Zarif (Irão), Frank-Walter Steinmeier (Alemanha), Laurent Fabius (França), Baronesa Catherine Ashton (UE) e Wang Yi (China) - «fotografia de família» em Viena, Áustria, 24 de Novembro de 2014, nas negociações multilaterais sobre o futuro do programa nuclear iraniano. [Dept. de Estado/Domínio público] |
Em
resumo, em troca do levantamento das sanções ocidentais, o Irão comprometeu-se
a:
―
reduzir o seu suprimento de urânio enriquecido em 97 % e deixar de enriquecer
urânio para fins militares;
―
limitar o número de centrifugadoras a 5060 e não modernizar as suas
instalações;
―
cessar as actividades da central de Arak, que permitia produzir plutónio,
susceptível de ser eventualmente utilizado para fins militares;
―
aceitar as inspecções da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA)
para verificar a implementação do Acordo.
Em
16 de Janeiro de 2016, a ONU suspendeu as sanções, mas os signatários do JCPOA demoraram a agir. Apesar de a AIEA ter
verificado em 15 ocasiões que o Irão estava a cumprir o Tratado[lvi], os países ocidentais
não cumpriram os compromissos assumidos e as sanções não foram suspensas.
Em
30 de Abril de 2018, numa encenação teatral, Benjamin Netanyahu «revelou» «arquivos secretos» relativos ao programa nuclear
iraniano «roubados algumas semanas antes» perto
de Teerão, alegando que o Irão mentia e continuava a desenvolver armas
nucleares. Mas, na realidade, é ele que mente. Os documentos apresentados datam
de 2002, dez anos antes de a CIA e a Mossad terem concluído que o Irão nunca
havia iniciado a construção de uma bomba. Além disso, os especialistas
rapidamente constataram que os documentos «revelados» já haviam sido
apresentados pelo Irão à AIEA em... 2005[lvii] e já tinham sido
publicados em grande parte em Novembro de 2011[lviii]! Tudo isto não impede
o deputado Meyer Hábil [Nota do tradutor: político franco-israelita,
deputado da Assembleia Nacional francesa de Junho de 2013 a Fevereiro de 2023 e
de Abril de 2023 a Junho de 2024] de retomar esta mentira em Junho de 2019
na RT France[lix]
utilizando a expressão «Estado Islâmico»
para designar o Irão[lx], com o objectivo de
semear a confusão!...
Na
verdade, Netanyahu dirige-se apenas a uma pessoa: Donaldo Trump, que uma semana
depois anuncia a retirada americana do JCPOA e o restabelecimento das sanções[lxi]. Dará a conhecer as suas
razões no Twitter, a 10 de Julho de 2019:
Há muito tempo que o Irão «enriquece» secretamente, em total
violação do terrível acordo de 150 mil milhões de dólares assinado por John
Kerry e péla Administração Obama. Recorde-se que este acordo deveria expirar
dentro de alguns anos[lxii]. […]
Em
poucas palavras, Trump mente em três pontos. No que diz respeito às actividades
de enriquecimento, é importante lembrar que, para uso militar, o urânio deve
ser enriquecido a 90%. No entanto, o Irão nunca ultrapassou os 20% antes do JCPOA.
Com o Tratado, o Irão concordou em limitar-se a 3,67% por um período de 15
anos; e no relatório de 31 de Maio de 2019, a AIEA confirma que o Irão cumpriu
estes limites[lxiii].
Além disso, em Janeiro de 2019, durante uma audiência perante a Comissão de
Informações do Senado, Gina Hapoel, directora da CIA, confirmou que o Irão
respeitou o JCPOA , contradizendo assim Trump[lxiv].
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Quanto
aos 150 mil milhões de dólares, não se trata de um montante pago pelos Estados
Unidos, mas do total de activos iranianos que deveriam ser «descongelados», e o valor global é provavelmente
muito inferior. Em Agosto de 2015, durante uma auditoria à Comissão de Finanças
do Senado, Adam J. Szubin, Subsecretário do Tesouro para a Informação
Financeira e o Terrorismo, avaliou esse montante em «pouco
mais de 50 mil milhões[lxv]».
Mais uma mentira.
Por
fim, no que diz respeito ao calendário, Donald Trump parece não ter lido (ou
não ter compreendido) o JCPOA ao afirmar que:
Este Acordo expira daqui a sete anos, e o Irão ficará livre para
criar armas nucleares. Isso não é aceitável. Sete anos é já amanhã[lxvi].
Estamos
perante outra mentira. Embora algumas disposições do Tratado cheguem
efectivamente ao fim em 2025 (nomeadamente sobre o desenvolvimento de
centrifugadoras), as cláusulas mais significativas (em particular sobre a
proibição do desenvolvimento de armas nucleares, do reprocessamento de
combustível nuclear ou da aplicação das medidas de salvaguarda da AIEA) não têm
qualquer limite temporal[lxvii].
Na
verdade, Trump pretende renegociar o Tratado de acordo com as suas condições e,
em Junho de 2019, oferece-se para ser «o melhor
amigo do Irão, se este renunciar às armas nucleares[lxviii]».
Uma oferta que o Irão não pode aceitar, uma vez que já renunciou às armas
atómicas em 2003... Estas manobras, aparentemente incoerentes, são
provavelmente menos irracionais do que parecem. O que se passa é que Trump está
a aplicar um mecanismo proposto em 2009 pela Brookings Institution para
provocar uma mudança de regime pela força no Irão:
A melhor forma de minimizar a reprovação internacional e maximizar
o apoio (ainda que relutante ou dissimulado) é atacar só se o mundo estiver
convencido de que foi feita uma oferta excelente aos iranianos, mas que eles a
rejeitaram — uma oferta tão boa que apenas um regime decidido a adquirir armas
nucleares, e por motivos errados, a rejeitaria. Nestas circunstâncias, os
Estados Unidos (ou Israel) poderiam apresentar a sua operação como conduzida a
contragosto e não com raiva, e pelo menos alguns membros da comunidade
internacional concluiriam que os iranianos a provocaram ao recusar um acordo
tão bom [lxix].
Pretende-se
mostrar que o Irão é o «mau da fita», mas os
meios de comunicação caem na esparrela e criticam a recusa iraniana, como o L’Express[lxx] e muitos outros.
A
retirada dos EUA e o incumprimento do JCPOA por parte do Ocidente levam o Irão
a questionar a estrutura com a qual tinha concordado. Em primeiro lugar, é
necessário compreender que, de acordo com o Artigo IV do Tratado de Não
Proliferação Nuclear (TNP), a que se refere o JCPOA, os países têm o «direito inalienável... a desenvolver a investigação, a
produção e a utilização de energia nuclear para fins pacíficos». O
problema é que os Estados Unidos não reconhecem este «direito
inalienável» para o Irão (enquanto o reconhecem para Israel, que não faz
parte do TNP!)
Em
troca do levantamento das sanções, o Irão concordou em ficar muito aquém dos
limites do TNP, renunciando ao seu direito de enriquecer urânio nos termos do
TNP e armazenando apenas 300 kg de urânio enriquecido até ao limite de 3,67%. O
problema é que o processo de enriquecimento não pode ser interrompido e, para
manter o suprimento nos 300 kg, o Irão estava autorizado a vender o seu urânio
enriquecido no mercado. Mas as novas sanções americanas proíbem-lhe aceder a
esse mercado! Muito logicamente, o Irão está, portanto, condenado a ultrapassar
os limites do JCPOA e a voltar aos direitos que lhe são conferidos pelo TNP, a
fim de pressionar os europeus a implementarem soluções.
É
por isso que, em Novembro de 2019, o Irão aumenta as suas capacidades de
enriquecimento de urânio, o que dá à imprensa francesa roda livre para propagar
a ideia de que o Irão procura produzir a arma nuclear. Assim, Patrick Cohen na France
5 insinua que o Irão «está mais perto[lxxi]». Alguns dias depois,
na emissão «C dans l’air», François Clemenceau reforça esta direcção
afirmando que o Irão não vê «mais qualquer limite à
[sua] vontade de enriquecer urânio para
aceder ao que [lhe] permite ter a bomba[lxxii]». Na realidade, não
existe qualquer elemento concreto que permita afirmar que o Irão tem intenção
de produzir armas atómicas. O diário La Croix afirma que «o Irão reduziu um pouco mais (...) os seus compromissos
internacionais em matéria nuclear[lxxiii]».
O Le Figaro lembra as condições do JCPOA... mas evita cuidadosamente
qualquer referência ao Artigo 26[lxxiv], que é claríssimo:
O Irão declarou que trataria tal reintrodução ou nova imposição das
sanções especificadas no Anexo II ou tal imposição de novas sanções
relacionadas com o nuclear como motivos para a cessação total ou parcial da
implementação dos seus compromissos ao abrigo do presente JCPOA[lxxv].
Assim,
o Irão limitou-se a aplicar uma disposição do JCPOA, que incluiu porque já
sabia que o Ocidente não cumpriria a sua palavra!
A
Europa dispunha de diferentes ferramentas e opções – que não utilizou – para
responder a Trump[lxxvi],
a começar pela aplicação de regras que a própria Europa adoptara em 1996 para
combater a extraterritorialidade das leis americanas[lxxvii]; mas não o fez. De
resto, existem outros meios de pressão, como o apoio (mais político do que
militar) às coligações no Iraque e no Afeganistão, por exemplo, o que mostraria
que, apesar das declarações, os nossos princípios e valores passam para segundo
plano em relação aos nossos interesses...
Em
Janeiro de 2020, Israel afirma que o Irão «poderia
possuir a bomba daqui até ao fim do ano[lxxviii]». Mas também neste
ponto estamos no domínio da desinformação. Para além de o Irão não ter
enriquecido urânio a 90%, a concepção de uma bomba requer que este urânio seja
convertido numa arma, o que o Irão nunca fez, nem adquiriu capacidades para o
fazer. Além disso, antes de poder ser utilizada, é preciso que a arma nuclear
funcione!
Ensaios nucleares franceses na Polinésia. ©AFP |
Todos nos lembramos dos protestos em França sobre os testes nucleares só para manter uma capacidade existente... Além de que nunca foi demonstrado que o Irão tivesse decidido dotar-se de armas nucleares. Estamos, portanto, muito longe das afirmações israelitas...
Mas
não estamos longe de uma contradição, já que, numa declaração oficial de 1 de
Julho de 2019 sobre o JCPOA, a Casa Branca afirmou que «Há
poucas dúvidas de que, mesmo antes da conclusão do Acordo, o Irão já tinha
violado as suas condições[lxxix]»!
Bem-vindos ao país do absurdo!
No
final de Abril de 2020, o New York Times noticia que os Estados Unidos
procuravam regressar ao Acordo, não por qualquer preocupação de
multilateralismo, mas para utilizar uma cláusula do JCPOA que permitiria repor
as sanções antes da respectiva assinatura[lxxx]…
Perante
a irracionalidade ocidental (e israelita) e apesar das provocações verbais, os governantes
iranianos têm-se revelado muito racionais nas escolhas que fazem. As
declarações espectaculares contra Israel e os Estados Unidos devem ser
frequentemente interpretadas pelo que são: retórica, que visa expressar
resistência («jihad verbal») e satisfazer uma
opinião pública iraniana que já não compreende a resiliência do governo.
Falando sobre a possibilidade de uma acção nuclear iraniana, o ex-director da
Mossad, o Serviço de Informações Estratégicas israelita, Meir Dagan, confirma:
O regime do Irão é muito racional [...] Não há dúvida de que eles
estão cientes de todas as implicações das suas acções e que pagariam um preço
muito alto por elas... e acho que, nesta fase, os iranianos estão muito
cautelosos em relação a esta questão[lxxxi].
A nossa percepção do Irão é sustentada por meios de comunicação social fortemente influenciados pela política interna de Israel e que não fazem qualquer análise crítica[lxxxii]. Benjamin Netanyahu explora a subserviência de alguns jornalistas ocidentais, enquanto antigos directores da Mossad, como Efraim Halevy, avisam contra esta excessiva dramatização[lxxxiii]. Na verdade, os nossos meios de comunicação tradicionais tendem a transformar-se em órgãos de propaganda, ao mesmo nível do Pravda da União Soviética.
3. O Irão continua a
ser o principal promotor do terrorismo internacional [lxxxiv]
Como não tentamos honestamente compreender as razões do terrorismo islâmico, acabamos por associá-lo a qualquer coisa. Por exemplo, a 17 de Janeiro de 2015, no programa «On n’est pas couché», Michel Onfray afirma que «o Irão se regozijou» com o atentado de Janeiro de 2015 contra o Charlie Hebdo[lxxxv]. É falso. Na realidade, no dia 9 de Janeiro, o Presidente iraniano Rouhani condenou inequivocamente o facto de «se matar invocando o nome do Islão[lxxxvi]». Mas esta mentira «dá conforto» aos nossos estereótipos.
Dois homens armados mataram 12 pessoas num atentado contra os escritórios da revista Charlie Hebdo em 2015. Fonte da fotografia: Getty Images. |
Pouco
depois da chegada ao poder de Donald Trump, o novo Ministro da Defesa [Ingl. Secretary
of Defense] James Mattis – ex-general dos US Marines e apelidado de «Mad Dog» [Nota do tradutor: «cão raivoso»] – acusa o Irão de ser «o país que mais apoia o
terrorismo em todo o mundo[lxxxvii]». Uma
afirmação repetida em 2018, para justificar a retirada americana do JCPOA e
eventuais ataques contra o Irão. E perante a Comissão de Negócios Estrangeiros
do Senado, Mike Pompeo declara:
A questão factual no que respeita às relações do Irão com a
Al-Qaeda é muito concreta. Eles acolheram a Al-Qaeda, autorizaram a Al-Qaeda a
circular pelo país. (…)
Não há qualquer dúvida de que existe uma ligação entre a República
Islâmica do Irão e a Al-Qaeda. Ponto. Ponto final[lxxxviii].
Mas
Pompeo mente. O terrorismo jihadista actual constitui uma respostas às
intervenções ocidentais. É por isso que se mantém essencialmente sunita. Assim,
embora não seja de excluir que pessoas ligadas à «Al-Qaeda»
possam ter passado por território iraniano, fizeram-no sem conhecimento das
autoridades[lxxxix].
A análise de documentos de Bin Laden descobertos em Abbottabad em 2011 confirma
a total ausência de cumplicidade entre a «Al-Qaeda»
e o Irão[xc].
Na
realidade, o que Pompeo pretende é invocar a AUMF[xci] [Nota do tradutor:
sigla em inglês da Autorização para Utilizar a Força Militar], uma
legislação que autoriza o Presidente a atacar os autores do «11 de Setembro» sem necessitar da aprovação do
Congresso para tal. É por isso que, em 2003, os Estados Unidos acusaram o
Iraque de apoiar a «Al-Qaeda»[xcii]. No total, a AUMF
serviu para justificar 41 operações militares em 19 países. A partir de 2004, a
Administração Bush tenta o mesmo estratagema para atacar o Irão[xciii] e preparar planos de
ataque[xciv]. A partir do momento em
que chega ao poder, Donald Trump segue a mesma linha. Preocupado com as
consequências de uma política irracional, o Congresso procura, a partir de Maio
de 2019, revogar a AUMF. Depois do assassinato do general Quasem Soleimani, a 3
de Janeiro de 2020, a Câmara dos Representantes decide revogar a AUMF no dia 30
de Janeiro e adopta uma lei que obriga o Presidente a pedir autorização ao
Congresso para entrar em guerra contra o Irão[xcv]. O Senado – apesar da
maioria republicana – acompanha a 13 de Fevereiro[xcvi].
A II PARTE CONTINUA AQUI:
https://tertuliaorwelliana.blogspot.com/2025/08/governar-por-meio-das-fake-news-jacques.html
[*] Conservei a expressão Fake News [notícias
fraudulentas] porque faz parte do título original do livro de Jacques Baud
(em francês): Gouverner par les Fake News. Nota do Tradutor.
[i] Ver, por exemplo,
The Military Balance 1990-1991, International Institute for Strategic
Studies, Londres, Outono de 1990.
[ii] Roman Bergman, The Secret War with Iran,
Oneworld, Oxford, 2008 (p. 5).
[iii] Shane Harris & Matthew M. Aid, «Exclusive: CIA
File Prove America Helped Saddam Hussein as He Gassed Iran», Foreign Policy,
26 de Agosto de 2013.
[iv] Algiers Accords – Declaration of
the Democratic and Popular Republic of Algeria, 19
de Janeiro de 1981, parágrafo 1.
[v] Jeremy R. Hammond, « The 'Forgotten' US Shootdown of
lranian Airliner Flight 655 », Foreign Policy Journal, 3 de Julho de
2017.
[vi]
Ver artigo na Wikipedia «Iran Air Flight 655».
[vii] John F. Burns, « World Aviation Panel Faults U.S.
Navy on Downing of lran Air», The New York Times, 4 de Dezembro de 1988.
[viii] «When America Apologizes (or Doesn't) for Its
Actions», The New York Times, 6 de Dezembro de 2011.
[ix]
Por exemplo: «19 h 30», RTBF, 11 de Janeiro de 2020.
[x] Arshad
Mohammed, «U.S., Iran have history of contact since cutting ties», Reuters,
10 de Março de 2007.
[xi]
Shlomo Ben-Ami, antigo ministro israelita dos Negócios Estrangeiros, Le
Figaro, 19 de Setembro de 2007
[xii] Saudi
Intelligence Chief Talks Regional Security With Brennan Delegation, 22 de
Março de 2009 (https://wikileaks.org/plusd/cables/09RIYADH445_a.html)
[xiii] «Sharon says U.S. should also disarm Iran, Libya and
Syria», Haaretz, 30 de Setembro de 2004.
[xiv] Mike Allen, «Iran 'Will Be Dealt With,' Bush Says», The
Washington Post, 22 de Abril de 2004.
[xv] Philip Giraldi, "Deep Background," The
American Conservative, 1 de Agosto de 2005.
[xvi] Brian Ross & Richard Esposito, «Bush Authorizes
New Coven Action Against Iran», ABC News, 23 de Maio de 2007.
[xvii] Seymour M. Hersh, "Preparing the
Battlefield", The New Yorker, 29 de Junho de 2008.
[xviii] «U.S. brands anti-Iran Kurdish group terrorist», Reuters,
4 de Fevereiro de 2009.
[xix] Foreign Terrorist Organizations, Bureau of Counterterrorism, US Department of State (http://
www.state.gov/j/ct/rls/other/des/123085.htm)
[xx] Saddam Hussein's Support for
International Terrorism, The White House,
(http://georgewbush-whitehouse.archives.gov/infocus/iraq/decade/sect5.html). O
MeK será retirado da lista de movimentos terroristas do Departamento de Estado
americano a 28 de Setembro de 2012 para que os Estados Unidos e a Grã-Bretanha
possam colaborar com ele em acções clandestinas no Irão.
[xxi] Seymour Hersh, «Preparing the Battlefield», The
New Yorker, 7 de Julho de 2008.
[xxii] « Nucléaire : Israël juge l'Iran « plus dangereux que
l’EI », lexpress.fr/AFP, 5 de Julho de 2015.
[xxiii] « Iran : au cœur des tensions - Le Dessous des cartes »,
YouTube/Arte, 21 de Setembro de 2019.
[xxiv] Ver memri.org/bin/
articles.cgi?Page=archives&Area=sd&ID=SP101305.
[xxv][xxv] « En voie de radicalisation, l'Iran veut « rayer »
Israël de la carte », Le Monde, 27 de Outubro de 2005.
[xxvi] Jonathan Steele, «Lost in Translation», The
Guardian, 22 de Junho de 2006.
[xxvii] memri.org,
op. cit.
[xxviii]
Discurso do Presidente Sarkozy no Knesset, Le Figaro, 20 de Junho de
2008.
[xxix] « Meyer Habib : « Les Etats-Unis ont un seul objectif : que l'Iran ne soit pas nucléaire », YouTube/RT France, 20 de Junho de 2019 (02'54")
[xxx] « Corrections and clarifications », The
Guardian, 28 de Julho de 2007 ; « Corrections and clarifications », The
Guardian, 23 de Abril de 2009
[xxxi] Kim Hjelmgaard, «Iran's Jewish community is the
largest in the Mideast outside Israel - and feels respected», USA Today,
1 de Setembro de 2018.
[xxxii] Mahnaz Shirali, na emissão «C dans l’air», «Iran/ Israël: l’escalade ... jusq’où? #cdanslair 11.05.2018 », France 5/YouTube, 11 de Maio de 2018 (08'05")
[xxxiii] David M. Halbfinger & Isabel Kershner, «Israel
and Iran, Newly Emboldened, Exchange Blows in Syria Face-Off», The New York
Times, 10 de Maio de 2018
[xxxiv] «U.S. pulls most personnel from Iraq as U.S.
officials say Iranian military likely behind tanker», CBS News, 15 de
Maio de 2019; Tyler Durden, «Top British Commander in Rare Public Dispute US
Over Iran Intelligence», Antimedia.com, 15 de Maio de 2019.
[xxxv] «Ahmadinejad meets anti-Zionist Jews», AP
Archive/You Tube, 23 de Julho de 2015.
[xxxvi] «Why are Jews at the «Holocaust denial» conference? »,
BBC News, 13 de Dezembro de 2006.
[xxxvii] O prazo para participar era o dia 1 de Abril de 2015
e o primeiro prémio ascendia a 12.000 dólares (The Times of Israel,
«Iran Holocaust cartoon contest draws 839 entries - Over 300 artists, including
from France, Turkey and Brazil, turn in works for competition derided by
UNESCO», 7 de Abril de 2015.
[xxxviii]
http://www.irancartoon.com/the-second-holocaust-international-cartoon-contest-2015/
[xxxix]
Ver Wikipedia, artigo «Internacional Holocaust Cartoon Competition»
[xl] Josh Levs & Mick Krever, «Iran's new president:
Yes, the Holocaust happened», CNN, 25 de Setembro de 2013
[xli] « Meyer Habib : « Les Etats-Unis ont un seul objectif :
que l'Iran ne soit pas nucléaire » », YouTube/RT France, 20 de Junho de
2019 (01'52")
[xlii] « Nucléaire : l'Iran défie Trump #cdanslair 06.09.2019, C
dans l’air », YouTube/France 5, 7 de Setembro de 2019 (00'23")
[xliii] Shane Harris & Matthew M. Aid, «Exclusive: CIA Files Prove America Helped Saddam as He Gassed Iran», Foreign Policy, 26 de Agosto de 2013.
[xliv] Robert Czulda, « The Defensive Dimension of Iran's
Military Doctrine: How Would They Fight? », Middle East Policy Council,
Volume XXIII, n° 1, Primavera de 2016.
[xlv] James Risen, State of War: The Secret History of
the CIA and the Bush Administration, Free Press, 24 de Outubro de 2006
[xlvi] James Risen, «George Bush insists that Iran must not
be allowed to develop nuclear weapons. So why, years ago, did the CIA give the
Iranians blueprints to build a bomb? », The Guardian, 5 de Janeiro de
2006
[xlvii]
Ver, por exemplo, «19 h 30» de La Première da RTBF (6 de Janeiro de
2010)
[xlviii] Gregory F. Treverton, Support to Policymakers: The
2007 NIE on Iran's Nuclear Intention and Capabilities, Center for the Study
of Intelligence, Central Intelligence Agency, Washington (DC), Maio de 2013, p.
19
[xlix] National Intelligence Estimate -
Iran: Nuclear Intentions and Capabilities, Office
of the Director of National Intelligence & National Intelligence Council,
Novembro de 2007; Gregory F. Trevercon, The 2007 National Intelligence
Estimate on Iran's Nuclear Intention and Capabilities, RAND Corporation,
Maio de 2013
[l] Elaine Sciolino, «Europeans See Murkier Case for
Sanctions», The New York Times, 4 de Dezembro de 2007
[li] Mark Mazzetti & James Risen, «U.S. Agencies See
No Move by Iran to Build a Bomb», The New York Times, 25 de Fevereiro de
2012; «Mossad, CIA Agree Iran Has Yet to Decide to Build Nuclear Weapon»,
Haaretz, 18 de Março de 2012.
[lii] Karen DeYoung & Scott Wilson, «Goal of lran sanctions is regime collapse, U.S. official says»,Washington Post, 13 de Janeiro de 2012
[liv]
«Netanyahu diagrams Iran's nuclear status», CNN/You Tube, 27 de Setembro
de 2012
[lv]
Nota de 22 de Outubro de 2012, parágr. 9
(https://static.guim.co.uk/ni/1424713149380/Mossad-On Iran-Nuclear-Stat. pdf)
[lvi] Daniel Larison, «IAEA Confirms Iranian Compliance for the Fifteenth Time», The American Conservative, 31 de Maio de 2019
[lvii] Oliver Holmes & Julian Borger, «Nuclear deal:
Netanyahu accuses Iran of cheating on agreement», The Guardian, 30 de
Abril de 2018
[lviii] Implementation of the NPT
Safeguards - Agreement and relevant provisions of Security Council resolutions
in the Islamic Republic of Iran, AIEA Board of
Governors, 8 de Novembro de 2011 (GOV/2011/65)
[lix] « Meyer Habib : « Les Etats-Unis ont un seul objectif :
que l'Iran ne soit pas nucléaire » », You Tube/RT France, 20 de Junho de
2019 (04'58")
[lx] « Meyer Habib : « Les Etats-Unis ont un seul objectif :
que l'Iran ne soir pas nucléaire » », You
/RT France, 20 de Junho de 2019 (00'50")
[lxi] Mark Landler, «Trump Abandons Iran Nuclear Deal He
Long Scorned», The New York Times, 8 de Maio de 2018
[lxii]
https//twittter.com/realDonaldTrump/status/1148958770770382849
[lxiii] Verification and monitoring in
the Islamic Republic of Iran in light of United Nations Security Council
resolution 2231 (2015), IAEA Board of Governors, 31
de Maio de 2019, (GOV/2019/21)
[lxiv] «CIA Director: Iran "Technically" In
Compliance with Nuclear Deal», C-Span, 29 de Janeiro de 2019
[lxv][lxv] Written Testimony of Adam J
Szubin, Acting Under Secretary of Treasury for Terrorism and Financial
Intelligence United States Senate Committee on Banking, Housing, And Urban
Affairs, Departamento do Tesouro, Centro de
Imprensa, 5 de Agosto de 2015
[lxvi]
Donald Trump, Conferência de Imprensa da Casa Branca, 30 de Abril de 2018
[lxvii] Jon Greenberg, «Donald Trump says wrongly the Iran
nuclear deal expires in 7 years», Politifact, 2 de Maio de 2018
[lxviii] «Trump says he will be Iran's 'best friend' if it
renounces nuclear arms», The Times of Israel, 22 de Junho de 2019
[lxix] Kenneth M. Pollack, et al., «Which Path to Persia?
Options for a New American Strategy toward Iran», Analysis Paper Nr 20, Sahan
Center for Middle East Policy, The Brookings Institution, Junho de 2009
[lxx] « L’lran rejette la proposition de dialogue de Trump », LEXPRESS.fr/AFP,
1 de Agosto de 2018
[lxxi] Patrick Cohen na emissão «C à vous », « USA - Iran : la
tension monte - C à Vous – 6 de Janeiro de 2020 », France 5/YouTube, 7
de Janeiro de 2020 (01'50")
[lxxii] « Crash du Boeing 737 : l'Iran accusé #cdanslair
10.01.2020», France 5/YouTube, 11 de Janeiro de 2020, (28'20")
[lxxiii] « Nucléaire : l'Iran relance des activités
d'enrichissement d'uranium gelées », La Croix, 5 de Novembro de 2019
[lxxiv] « L’Iran a repris l'enrichissement d'uranium dans son
usine de Fordo », Le Figaro/APP, 8 de Novembro de 2019
[lxxv] Joint Comprehensive Plan of Action, Viena, 14 de
Julho de 2015, Artigo 26, p.14
[lxxvi] Ellie Geranmayeh, «Europe Must Fight to Preserve the
Iran Deal», Foreign Policy, 23 de Janeiro de 2018
[lxxvii] Regulamento
(CE) nº 2271/96 do Conselho de 22 de Novembro de 1996 relativo à protecção
contra os efeitos da aplicação extra-territorial de legislação adoptada por um
país terceiro e das medidas nela baseadas ou dela resultantes, Official
Journal L 309, 29 de Novembro de 1996 (eur-lex.europa.eu)
[lxxviii] Alisa Odenheimer, «Israel Report Says Iran Could Have Uranium for Bomb by Year-End», Bloomberg, 15 de Janeiro de 2020
[lxxix] Statement from the Press
Secretary, www.whitehouse.gov, 1 de Julho de 2019
[lxxx] David E. Sanger, «To Pressure Iran, Pompeo Turns to
the Deal Trump Renounced», The New York Times, 26 de Abril de 2020
[lxxxi] Watch Stahl, «Ex-Mossad chief: Iran rational; don't
attack now», CBS News, 11 mars 2012
[lxxxii] « L’Iran puissance nucléaire, plus grave menace
mondiale, selon Netanyahu », rtbf.be/AFP, 30 de Setembro de 2014
[lxxxiii] Raphael Ahren, « Un Iran nucléaire est-il vraiment une
menace existentielle pour Israël ?», The Times of Israël, 28 de
Fevereiro de 2015
[lxxxiv] Rex W. Tillerson, Secretário de Estado, 18 de Abril de 2017 (www.state.gov/secretary/re-marks/2017/04/270315.htm)
[lxxxv] Michel Onfray, Charlie Hebdo, l'Islam et la France - On
n'est pas couché, 17 de Janeiro de 2015 #ONPC », France5/YouTube, 17 de
Janeiro de 2015 (17'05")
[lxxxvi] «Charlie Hebdo: Iran's Rouhani condemns killing in
name of lslam», APP/Dawn, 9 de Janeiro de 2015
[lxxxvii] Rachael Revesz, "Iran is 'world's biggest
sponsor of state terrorism”, says US Defense Secretary James Mattis", Independent,
4 de Fevereiro de 2017 (http://www.independent.co.uk/news/ world/americas/iran-worlds-biggest-sponsor-terrorism-us-donald-trump-james-mattis-nuclear-test-missile-sanctions-a7563081.html)
[lxxxviii] «Pompeo says Iran tied to Al-Qaeda, declines to say
if war legal», France24, 10 de Abril de 2019
[lxxxix] Seth G. Jones et al., The Evolution of the
Salafi-Jihadist Threat Current and Future Challenges from the Islamic State,
Al-Qaeda, and Other Groups, Center for Strategic & International
Studies, Novembro de 2018
[xc] Nelly Lahoud, Al-Qa'ida's Contested Relationship
with Iran the View from Abbottabad, New America, Setembro de 2018
[xci] 2001 Authorization for Use of
Military Force (AUMF), S.J. Res 23(107th), 14 de
Setembro de 2001
[xcii] Steven Kull, «The American Public On International
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International Policy Attitudes {PIPA)/Knowledge Networks Poll, 2 de Outubro
de 2003
[xciii] CNN,
«Bush: U.S. probes possible Iran links to 9/11», 19 de Julho de 2004.
[xciv] James Fallows, «Will Iran Be Next? », The Atlantic,
Dezembro de 2004.
[xcv] David Roza, «House passes bills to repeal 2002 AUMF
and require Congress approve any war with Iran», Task &Purpose, 30
de Janeiro de 2020; Joe Gould & Leo Shane III, «House votes to curb Trump’s
military action on Iran», Defense News, 30 de Janeiro de 2020
[xcvi] Senate Joint Resolution 68 – A
joint resolution to direct the removal of United States Armed Forces from
hostilities against the Islamic Republic of Iran that have not been authorized
by Congress, 116th Congress-2020), 13 de
Fevereiro de 2020