Neste blogue discutiremos 4 temas: 1. A linguagem enganosa. 2 As estruturas e os processos de desumanização criados pelas oligocracias contra a democracia. 3. A economia política (e.g. Petty, Smith, Ricardo, Sismondi), remodelada e crismada (no fim do século XIX) de "economia matemática", a qual teria o direito de se proclamar "ciência económica" (Ingl. economics) — um direito que não lhe será reconhecido aqui. 4. A literatura imaginativa (prosa e poesia).

08 agosto, 2025

Temas 1 e 2 

Governação, 

engenharia do consentimento 

e Fake News


NOTA EDITORIAL

Jacques Baud é mal conhecido em Portugal. Os editores portugueses ainda não o descobriram, apesar da sua vasta e importante obra. Salvo erro, nenhum dos seus livros foi traduzido em Portugal. E é pena porque se trata de um autor imprescindível para se compreender o mundo em que actualmente vivemos.

Um exemplo disso é o seu livro Gouverner par les Fake News (2020) [Governar por meio das Fake News]. Considero-o uma demonstração muito abrangente, concreta e meticulosa do modo como actua a formidável máquina de desinformação, manipulação, ocultação e distorção dos factos que dá pelo nome inocente de “meios de comunicação social para o grande público” (“mass media” ou “mainstream media” na língua dominante) — uma máquina cujos princípios básicos de funcionamento foram descritos e analisados por Edward S. Herman e Noam Chomsky no seu livro Manufacturing Consent: The Political Economy of the Mass Media (1988) [tradução brasileira: A manipulação do público (2003)]

Capa original do livro


Um exemplo disso é o 4.º capítulo de Gouverner par les Fake News que Fernando Oliveira, fazendo jus à sua proverbial generosidade, decidiu traduzir para conhecimento do público português. Nesse capítulo, Jacques Baud dá-nos todos os elementos necessários para entendermos, com cinco anos de antecedência (!), a chamada “guerra dos 12 dias”: o ataque de Israel e dos EUA contra o Irão que ocorreu de 13 a 24 de Junho deste ano.

Isso talvez não seja inteiramente evidente, porque a tradução de Fernando Oliveira do capítulo 4 de Gouverner par les Fake News (50 páginas de formato A4, tamanho de letra 14 pontos, com espaçamento de 1,5 entre linhas) teve de ser reduzida para metade por exigência do editor. Assim sendo, tivemos de suprimir as secções 4.3.2 [o Hezbollah], 4.3.3 [A guerra dos petroleiros], 4.4.2 [A catástrofe do vôo PS572] e mais de metade da secção 4.5 [Conclusões sobre a ameaça iraniana] (na numeração do livro em francês).

Apesar desses cortes, as partes que seleccionámos para publicação são suficientes, estamos em crer, para se perceber a poderosa oficina analítico-interpretativa de Jacques Baud.

Resta-me agradecer ao editor Max Milo a oportunidade que gentilmente nos deu de divulgar um texto notável de Jacques Baud sem pagar direitos de autor e agradecer ao tradutor Fernando Oliveira, uma vez mais, as muitas horas de trabalho que dispendeu para nos proporcionar o acesso gratuito a esse texto na nossa língua materna. 

José Catarino Soares

 

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Nota introdutória do tradutor

 

Os acontecimentos de 24 de Fevereiro de 2022 (2.ª guerra da Ucrânia), 7 de Outubro de 2023 (incursão do Hamas em Israel) e 13 de Junho de 2025 (ataque de Israel ao Irão) surpreenderam-me e preocuparam-me em graus diferentes. Mas o que me preocupa quase tanto, ou mais, é a campanha de desinformação, de mentiras, de notícias falsas, de manipulação e distorção de factos a que vimos assistindo desde a primeira daquelas datas.

Foi isto que me levou à maratona de traduzir o Capítulo 4 do livro Gouverner par les Fake News, de Jacques Baud (Edições Max Milo, 2020) sobre o Irão, para dar a conhecer o contexto do que estamos a viver agora, e a propor o texto à Tertúlia Orwelliana que, em boa hora, o acolheu, conseguindo do editor Max Milo autorização para a sua publicação [embora com alguns constrangimentos especificados na nota editorial]. Muito obrigado!

Não vou antecipar notícias fraudulentas desmontadas por Baud. Vou apenas dar a conhecer uma notícia, esta verdadeira, mas nunca revelada, até ser divulgada numa entrevista do general americano Wesley Clark (alguém acima de qualquer suspeita quanto a “putinismo” ou simpatia por «teocracias brutais, sanguinárias, ditatoriais», o seu currículo pode ser consultado aqui) de 2007 à jornalista Amy Goodman, do canal noticioso Democracy Now!

Na entrevista, Clark, já reformado e de visita ao Pentágono, narra o encontro com um ex-camarada alguns meses depois do 11 de Setembro de 2001. O camarada (passo a citar) «debruça-se sobre a mesa, pega numa folha de papel e diz: ‘Acabei de receber isto lá de cima’ ou seja, do gabinete do Secretário da Defesa ‒ ‘hoje. É um Memorando que descreve como vamos eliminar sete países em cinco anos, a começar pelo Iraque, depois Síria, Líbano, Líbia, Somália, Sudão e a acabar no Irão.’» (fim de citação). Clark pergunta, cito: «‘É confidencial? O camarada responde: Claro, meu general!’»(fim de citação) (gargalhadas da assistência). Entre muitos, muitos outros, estes são os factos que não nos revelam e que fazem parte da génese do que agora estamos a viver.

Vamos então acompanhar Jacques Baud na descoberta das notícias fraudulentas [Ingl. “fake news”]. 

Fernando Oliveira

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Governar por meio das Fake News [*]

Jacques Baud

4.º Capítulo.  O Irão

(tradução de Fernando Oliveira)

Parte I

1. O contexto

O Irão é tradicionalmente um país amistoso em relação ao Ocidente. Etnicamente diferente dos árabes, a sua população é fortemente influenciada pela cultura indiana e pratica um islão xiita menos rigoroso do que o islão sunita da Arábia Saudita. O Irão não tem tradições bélicas e não ataca qualquer país desde 1798.

Uma imagem com texto, mapa, atlas

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Depois do derrube do primeiro-ministro Mohammed Mossadegh em 1953 por uma operação conjunta do MI-6 britânico e da CIA americana (Operação AJAX), e até ao início dos anos 1980, o Irão foi o principal aliado de Israel e do Ocidente na região. País vizinho da União Soviética, é na época uma peça essencial do dispositivo dos Estados Unidos, quer pela sua política regional, quer pelas suas capacidades de recolha de informações. Não obstante, o Irão segue uma política de segurança não alinhada. Os seus equipamentos militares provêm em partes iguais de países do Leste e do Ocidente: os tanques soviéticos T-72 circulam ao lado de tanques britânicos Chieftain[i].

A partir de 1976, a prioridade do governo Carter relativa às questões dos direitos humanos leva o Xá a diversificar as suas alianças e a aumentar a cooperação militar com Israel. Os documentos apreendidos na embaixada americana em Teerão em 1979 revelam mesmo que Israel projectava vender um míssil nuclear ao Irão (Operação TZOR)[ii].

Uma imagem com vestuário, homem, pessoa, sapatos

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Chegada de Khomeini ao Aeroporto Internacional de Mehrabad em Teerão, 1 de Fevereiro de 1979 (GFDL)


Em 1979, a chegada de Khomeiny ao poder não apaga 25 anos de cooperação com Israel em matéria militar e de informações. O Irão sofreu uma guerra provocada pelo Iraque e ataques químicos realizados com a bênção dos Estados Unidos[iii]: Israel é então um aliado precioso «na retaguarda» dos países árabes. Pelo seu lado, Israel olha para o Irão como uma espécie de «contrapeso estratégico» à pressão árabe, e dá-lhe apoio. Entre outros, ataca o Centro de Investigação de Tuwaitha, perto de Bagdade (30 de Setembro de 1980) e depois a central nuclear iraquiana de Osirak (7 de Junho de 1981). Nessa altura, o inimigo de Israel era o Iraque, que dava abrigo a vários movimentos palestinianos desde meados dos anos 1970.

As negociações para a libertação dos 52 reféns da embaixada americana em Teerão terminam nos Acordos de Argel de 19 de Janeiro de 1981, que estipulam, entre outros pontos:

Os Estados Unidos comprometem-se, a partir deste momento, a desenvolver uma política que não intervenha de alguma forma, directa ou indirectamente, política ou militarmente, nos assuntos internos do Irão[iv].

… um compromisso que os Estados Unidos não respeitarão nunca.

Alguns meses mais tarde, a fim de financiar os Contras nicaraguenses, o Presidente Reagan autoriza secretamente a venda de armas ao Irão. É o início do «Irangate», no qual Israel irá desempenhar um papel de relevo ao entregar discretamente armas ao Irão, acabando mesmo por «ultrapassar» os Estados Unidos ao fornecer ao Irão armas não aprovadas. É por isso que os americanos lançam a Operação STAUNCH, na Primavera de 1983, destinada a interromper as entregas de armas.

No dia 3 de Julho de 1988, o Airbus do voo Iran Air 655 é abatido por um míssil mar-ar disparado pelo cruzador americano USS Vincennes, provocando 290 mortos, entre os quais 66 crianças. Os inquéritos realizados posteriormente pela Organização da Aviação Civil Internacional (OACI) e pela marinha americana confirmaram que o cruzador se encontrava em águas territoriais iranianas e tinha de facto detectado uma aeronave civil em trajectória ascendente.

A lengthwise photo of an Airbus A300 aircraft in white and blue Iran Air livery
Airbus A300B2-203 do IA655

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Rota do avião a partir da escala

The warship USS Vincennes, taken from the front
USS Vincennes



 

O governo americano começou por negar e depois mentiu ao afirmar que o USS Vincennes estava em águas internacionais e o Airbus encetara um voo picado sobre o navio, acabando por justificar o disparo como um «erro». Mas continuava a ser uma mentira: o capitão William C. Rogers III estava convencido de que era alvo de um ataque por um F-14 iraniano[v]! No final da missão, a tripulação do navio foi condecorada com a «Combat Action Ribbon» concedida a quem «tenha participado activamente em acções de combate», enquanto o oficial encarregado da coordenação do combate aéreo recebeu a «Navy Commendation Medal» por «acções heróicas ou meritórias reiteradas»[vi]! A justiça internacional[vii] acabou por condenar os Estados Unidos a indemnizar as famílias das vítimas e a apresentar desculpas. Mas o Presidente George H. Bush (pai) declarou,

Nunca apresentarei qualquer desculpa em nome dos Estados Unidos da América. Nunca. Os factos não me interessam[viii].

…  o que os meios de comunicação ocidentais nunca referirão depois da tragédia do voo da Ukraine Airlines 752 de Janeiro de 2020[ix].

A partir do fim da Guerra Fria, o Irão esforçou-se por melhorar as suas relações com o Ocidente.

A neutralidade que assumiu na Primeira Guerra do Golfo (1990-91) representou uma chave para o êxito da coligação internacional. Neste equilíbrio geostratégico em mutação, o Irão aproveitou para estender a mão aos Europeus, mas, sob pressão americana, estes não a aproveitaram.

Depois do «11 de Setembro» [de 2001], o governo do Presidente Mohammed Khatami enviou condolências ao povo americano e apoiou a intervenção americana no Afeganistão. Após o assassinato de nove diplomatas iranianos pelos talibãs em 1998, as tensões entre os dois países agravaram-se e o Irão concedeu um apoio significativo aos Americanos no domínio das informações, no início da Operação ENDURING FREEDOM. Além disso, o Irão financiou e treinou a Aliança do Norte de Ahmed Shah Massoud, que derrubou os talibãs e tomou o poder em Cabul em 14 de Novembro de 2001. Em Dezembro deste mesmo ano, na Conferência de Bona, o negociador americano James Dobbins agradeceu ao Irão por ter convencido os aliados afegãos a aderirem à coligação de Unidade Nacional[x]. Mas um mês depois, a 29 de Janeiro de 2002, aquando do discurso sobre o Estado da União, o agradecimento do Presidente americano foi incluir o Irão no «Eixo do Mal»!

Desde 2001, foram os erros e a falta de visão estratégica dos ocidentais que deram ao Irão o seu papel de potência regional, como confirma o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros israelita Shlomo Ben-Ami:

O Irão apoiou os Estados Unidos durante a primeira Guerra do Golfo, mas foi excluído da Conferência de Madrid. O Irão posicionou-se ao lado do governo americano na guerra contra os talibãs no Afeganistão. E quando as forças armadas americanas derrotaram o exército de Saddam Hussein na Primavera de 2003, os iranianos, na defensiva, propuseram um «pacto global» que colocasse todos os pontos de discórdia em cima da mesa, da questão nuclear a Israel, do Hezbollah ao Hamas. Os iranianos ainda se comprometeram a não mais obstruir o processo de paz israelo-árabe. Mas a arrogância neoconservadora americana — «Não discutimos com o Eixo do Mal» — impediu uma resposta pragmática à iniciativa iraniana[xi].

Ao intervir no Iraque em 2003, com o apoio da maioria xiita do país, os estrategas americanos não compreenderam que estavam a criar um eixo contínuo entre o Irão e o Líbano, que reforçaram ao isolar a Síria após 2005. Criaram assim um sentimento de cerco nas monarquias do Golfo, como atesta uma mensagem SECRETA da embaixada americana em Riade, de 22 de Março de 2009[xii]. É o que mais tarde irá levar a Arábia Saudita e o Catar a reafirmar a influência sunita através das revoluções que afectaram os países árabes laicos. O Ocidente viu-as como surtos democráticos, quando na verdade eram essencialmente uma reacção de defesa das monarquias do Golfo, que se sentiam ameaçadas. E isso ainda mais porque a maior parte das suas riquezas petrolíferas se localiza em áreas onde as suas minorias xiitas são maioritárias.

No início dos anos 2000, as relações entre o Irão e Israel mudaram radicalmente, e o Estado hebreu vê o apoio americano como uma condição sine qua non para a sua sobrevivência. No entanto, esse apoio depende das ameaças que pesam sobre ele. Com o desaparecimento do Iraque como principal ameaça, Israel alinha-se com o seu protector e adopta o Irão como «inimigo preferencial». A sua paranóia no caso do Iraque não tinha qualquer fundamento e é igualmente infundada hoje no que diz respeito ao Irão.

O Irão está na mira dos Estados Unidos, que pretendem impor-lhe uma mudança de regime[xiii]. Em 21 de Abril de 2004, o Presidente George Bush declara que vai «ocupar-se do Irão[xiv]», o que levou o Irão a anunciar, em Fevereiro de 2005, que estava a iniciar preparativos para combater uma eventual agressão americana. Segundo Philip Giraldi, ex-agente da CIA, os americanos planeavam um ataque nuclear e convencional, com 450 alvos a destruir no Irão[xv]. Esta política pouco esclarecida cria uma espiral de tensões e, apesar da oposição ao regime dos mulás, a unidade nacional fortalece-se em favor dos «radicais» e em detrimento dos reformistas: é assim que Mahmoud Ahmadinejad assume a presidência, em 3 de Agosto de 2005.

Mahmoud Ahmadinejad
Mahmoud Ahmadinejad, Presidente do Irão 2005–13


Em 2006, os Estados Unidos iniciaram as suas operações de subversão na Síria com vista a uma mudança de regime. Para Teerão, a Síria era uma espécie de último baluarte, o único aliado na região capaz de evitar um cerco estratégico: o eixo Damasco-Teerão reforça-se [Nota do tradutor: como é do conhecimento geral, os terroristas islâmicos do Hayat Tahrir al-Sham, a Al-Qaeda síria, tomaram o poder neste país em finais de 2024].

Em 2007, o Presidente George W. Bush assina um decreto que autoriza operações clandestinas no Irão[xvi] e o Congresso vota um crédito de 400 milhões de dólares para provocar uma mudança de regime[xvii]. Estas operações apoiam-se em movimentos separatistas baluchis e ahwazi iranianos, para além de outras organizações dissidentes e incluem um apoio activo (entrega de armas e equipamentos, treino de tropas, etc.) a movimentos terroristas. É o caso do Partido da Vida Livre do Curdistão (PJAK) (na lista de movimentos terroristas do Departamento do Tesouro desde 4 de Fevereiro de 2009[xviii]) ou do Modjahedin­e-Khalq (MeK), apesar de ser responsável pela morte de americanos na década de 1970 (também na lista de movimentos terroristas do Departamento de Estado desde 10 de Agosto de 1997[xix]) e indicado como exemplo da conivência do Iraque com o terrorismo[xx]! Estas operações coincidem com um recrudescimento dos atentados terroristas no Irão, em particular em Ahvaz, a 12 de Junho e 15 de Outubro de 2005 e a 24 de Janeiro de 2006), incluindo o assassinato de cientistas iranianos, nos quais o governo iraniano confirmou a responsabilidade dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha[xxi].

Depois da chegada ao poder do Ayatollah Khomeini (que os americanos não souberam antever), os Estados Unidos empenharam-se em convencer a opinião pública ocidental de que o poder iraniano era irracional e hegemónico, justificando assim a aplicação de sanções que não pararam de aumentar, até se tornarem uma espécie de «ruído de fundo» estéril que os iranianos aprenderam a contornar no dia a dia.

 

2. «O Irão é o país mais perigoso do mundo, na realidade mais perigoso do que o Estado Islâmico[xxii]»

2.1. O Irão quer destruir Israel

Uma lenda urbana largamente difundida e mantida pela propaganda ocidental[xxiii] e israelita é que o Irão procura «destruir Israel». O seu ponto de partida é uma conferência, realizada no dia 26 de Outubro de 2005, subordinada ao tema «Um Mundo sem Sionismo», em que o Presidente Mahmoud Ahmadinejad cita o Ayatollah Khomeiny:

Como disse o imã, o regime que ocupa Jerusalém deve ser apagado das páginas da História[xxiv].

Mas a frase é mal traduzida pelo serviço de tradução da Agência Iraniana de Informação (IRNA), e sai:

Como disse o imã, Israel deve ser riscado do mapa[xxv].

No entanto, os comentadores sérios reconhecem que Ahmadinejad nunca disse isso, nem no espírito nem na letra[xxvi]. Assim, ele não referiu o Estado de Israel, mas apenas o seu governo (que, evidentemente, não se apaga do mapa!) e não se referiu a uma noção geográfica («mapa»), mas à História. De resto, a sua citação foi acompanhada por três exemplos: o regime soviético, o regime do Xá do Irão e o regime de Saddam Hussein. Mesmo o Instituto de Investigação sobre os Meios de Comunicação no Médio Oriente (MEMRI), com base em Washington, confirma este erro de tradução[xxvii]. Os iranianos vão tentar restabelecer uma tradução mais correcta, mas é demasiado tarde...

Em 2005, em plena guerra contra o «Eixo do Mal», com a resistência xiita no Iraque — e a suspeita de armas nucleares no Irão —, o erro de tradução cai no momento certo e tem um impacto considerável. Assim, o Presidente Nicolas Sarkozy, então de visita a Israel, declara:

Aqueles que apelam, de forma chocante, à destruição de Israel encontrarão sempre a França na sua frente para lhes barrar o caminho[xxviii].

Ainda hoje, constitui a principal chave de leitura da posição iraniana para muitos políticos ocidentais e alimenta um discurso catastrofista, amplamente sustentado pelo governo israelita. Tornou-se uma verdadeira ferramenta de manipulação que impede qualquer diálogo construtivo. Enquanto a maioria dos meios de comunicação tradicionais ocidentais continua a propagar a tradução errada, como a RT France (que é frequentemente acusada de ser favorável ao Irão)[xxix], raros são os meios de comunicação que, como o Guardian, tentam regularmente corrigi-la[xxx].

O regime dos mulás não é unanimemente apoiado pelos iranianos, que geralmente são favoráveis ao Ocidente e que poderiam muito bem voltar-se contra o regime. Mas, perante o que se entende no Médio Oriente como uma «cruzada» ocidental, agravada pelos repetidos ataques israelitas contra unidades iranianas destacadas na Síria, muitos iranianos sentem que o seu país pode ser o próximo alvo dos Estados Unidos. O governo de Teerão é assim empurrado pela opinião pública para uma «jihad verbal» muito mal compreendida no Ocidente. Com a sua retórica agressiva contra Israel, o poder iraniano gera uma reacção americana suficientemente forte para manter a unidade nacional, sem, no entanto, dar um pretexto tangível para uma intervenção militar.

Estamos tão habituados a travar guerras sem objectivos concretos que atribuímos a mesma insensatez aos outros. Quais poderiam ser os objectivos do Irão ao entrar numa guerra contra Israel? Sem fronteiras comuns, sem pretensões territoriais, sem laços étnicos e sem disputas políticas específicas, com uma minoria judaica que não é perseguida, que se sente até respeitada[xxxi] e que está representada no Parlamento, é difícil perceber o que poderia o governo iraniano ganhar com tal aventura. Sem contar que isso desencadearia, sem dúvida, uma reacção militar ocidental.

Depois de ter criado uma ameaça que levou a Síria a pedir ajuda ao Irão, Israel sente-se ameaçado por este. No programa «C dans l’air» de 11 de Maio de 2018, a socióloga Mahnaz Shirali acusa o Irão de provocação, afirmando que «se sabe» que o Irão estava por trás de um ataque com mísseis contra Israel em 10 de Maio[xxxii]. É falso. Na realidade, tratava-se de uma resposta síria, após um ataque com mísseis israelitas contra a aldeia de Baath[xxxiii], que não é em momento algum evocado na emissão. De facto, os militares iranianos na Síria estão com toda a clareza envolvidos no combate contra os jihadistas (em parte armados por Israel) e não estão equipados nem posicionados para constituírem uma ameaça ao Estado hebraico. De resto, a 14 de Maio de 2019, numa teleconferência com o Pentágono, o major general Christopher Ghika, segundo-comandante da coligação ocidental (Operação INHERENT RESOLVE) declara:

Não, não há qualquer ameaça acrescida pela presença de forças pró-iranianas no Iraque e na Síria. É claro que estamos cientes dessa presença e a controlamos em conjunto com outros, porque esse

é o nosso ambiente. Controlamos as milícias xiitas /.../ atentamente e, se nos parecer que o nível de ameaça aumenta, aumentaremos as nossas medidas de protecção em conformidade[xxxiv].

2.2. Anti-semitismo e negacionismo

Pouco depois da crise das «caricaturas de Maomé» na Noruega e na Dinamarca, no final de 2005, o Presidente Ahmadinejad propôs a realização de uma Conferência nos dias 11 e 12 de Dezembro de 2006 em Teerão, intitulada «Revisão do Holocausto: Visão Global» precedida, em Fevereiro de 2006, por um concurso de caricaturas sobre o Holocausto, organizado pelo jornal iraniano Hamshahri. Como previsto pelos iranianos, a conferência desencadeou uma onda de protestos no Ocidente.

No entanto, ao contrário do que foi relatado no Ocidente, o seu objectivo não era contestar a realidade do Holocausto. Até estavam presentes judeus ortodoxos que por certo não negam a realidade do Holocausto, mas contestam a exploração política do mesmo[xxxv]. Considerada «anti-semita» e «revisionista» pela imprensa ocidental, esta Conferência revelou-se uma armadilha. Não contra os judeus, mas contra os ocidentais, ao evidenciar as suas contradições sobre a liberdade de expressão[xxxvi].

Depois dos atentados do Charlie Hebdo, em 2015, o Sarcheshmeh Cultural Complex iraniano organizou um concurso da mesma natureza[xxxvii]. Os desenhadores orientaram-se segundos três linhas:

1- Se o Ocidente não conhece limites em matéria de liberdade de expressão, por que não permite que investigadores e historiadores discutam o Holocausto?

2- Por que razão a opressão dos palestinianos deve compensar o Holocausto? Pessoas que não tiveram qualquer papel na Segunda Guerra Mundial?

3- Estamos preocupados com outros holocaustos, como o holocausto nuclear (o holocausto no Iraque, na Síria e em Gaza)[xxxviii].

Como se pode verificar, nenhuma delas negava o facto histórico, nem de perto nem de longe. Além disso, o vencedor não contestava a existência do Holocausto, muito pelo contrário, uma vez que – com ou sem razão – o comparava à situação actual dos palestinianos[xxxix].

Não cabe aqui discutir se os concursos são de «bom gosto» ou não. Na verdade, para o Irão – como para o mundo muçulmano em geral – a realidade do Holocausto não constitui uma preocupação nem um problema. Além disso, em Setembro de 2013, o Presidente Hassan Rouhani afirmou à jornalista Christiane Amanpour, da CNN, que «o crime cometido pelos nazis contra judeus e não judeus era inaceitável e condenável[xl]», reconhecendo assim a realidade do Holocausto. E, todavia, o Irão continua a ser considerado «negacionista[xli]».

2.3. O programa nuclear

No dia 6 de Setembro de 2019, Axel de Tarlé abre a emissão de «C dans l'air» no canal France 5 afirmando que o Irão retomou o seu programa nuclear com o «objectivo não confessado – possuir a bomba atómica[xlii]». Trata-se de desinformação.

Após a guerra com o Iraque, em 1988, o Irão abandonou definitivamente a ideia de exportar o seu modelo de revolução islâmica e procurou reforçar as suas capacidades defensivas. Fora vítima de ataques químicos (com a ajuda dos americanos[xliii]) e considera uma estratégia defensiva baseada na dissuasão. Assim, lança o Projecto AMAD, um programa de investigação para estudar a viabilidade da aquisição de armas nucleares. Não se trata de atacar os Estados Unidos ou Israel, mas de enfrentar a ameaça iraquiana[xliv].

Em Fevereiro de 2000, com o objectivo de conhecer a natureza e o progresso do projecto AMAD, os americanos decidiram realizar uma operação sob falsa bandeira: a operação MERLIN[xlv], fornecendo ao Irão os planos de um dispositivo de ignição TBA-480 para bombas nucleares, de modo a permitir que a CIA e a NSA «rastreiem» o desenvolvimento da bomba. Os planos contêm erros imperceptíveis para impedir a construção de uma arma funcional. Mas a operação revela-se um fiasco: os iranianos suspeitam de uma fraude e desmantelam toda uma rede da CIA no Irão[xlvi]. Nada permite confirmar que o Irão esteja a desenvolver uma arma nuclear, mas os meios de comunicação ocidentais continuam a propagar esta desinformação[xlvii].

Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) no DCT-FCTUC

Em Maio de 2005, a Comunidade de Informações Americana estimava que o Irão estava «decidido a desenvolver armas nucleares[xlviii]». Mas em Novembro de 2007, numa Avaliação Nacional de Informações (NIKE), o Gabinete do Director Nacional de Informações e o Conselho Nacional de Informações revêm a sua decisão e confirmam que «Teerão interrompeu o seu programa de armamento nuclear no Outono de 2003[xlix]». O New York Times escrevia:

Apesar das repetidas campanhas de difamação, a AIEA manteve-se firme e concluiu repetidamente que, desde 2002, não há qualquer prova de um programa nuclear não declarado no Irão[l].

No início de 2012, a CIA e a Mossad concordaram que o Irão nunca tinha tomado a decisão de construir armas nucleares[li]. O Irão não constitui, portanto, uma ameaça.

Mas, como admitem os próprios Serviços de Informação americanos[lii], o que se procura é um pretexto para derrubar Ahmadinejad. É por isso que o Conselho de Segurança retoma o regime de sanções contra o Irão em Junho de 2012[liii]. Em Setembro do mesmo ano, perante a Assembleia-geral das Nações Unidas, Benjamin Netanyahu afirma que o Irão teria a arma nuclear no Verão de 2013, o mais tardar[liv]. Mas está novamente a mentir: uma nota da Mossad enviada algumas semanas mais tarde aos Serviços de Informações sul-africanos afirma que...

Nesta fase, o Irão não desenvolve as actividades necessárias para produzir armas nucleares[lv].

Em 14 de Julho de 2015, Estados Unidos, Rússia, China, França, Reino Unido, Alemanha, União Europeia (UE) e Irão assinaram o Acordo de Viena (mais conhecido pela sua sigla em inglês: JCPOA) [Nota do tradutor: sigla inglesa do Joint Comprehensive Plan of Action ou Plano de Acção Conjunto Global].

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Ministros dos Negócios Estrangeiros dos países P5+1, União Europeia e Irão: John Kerry (EUA), Philip Hammond (Reino Unido), Sergey Lavrov (Rússia), Javad Zarif (Irão), Frank-Walter Steinmeier (Alemanha), Laurent Fabius (França), Baronesa Catherine Ashton (UE) e Wang Yi (China) - «fotografia de família» em Viena, Áustria, 24 de Novembro de 2014, nas negociações multilaterais sobre o futuro do programa nuclear iraniano. [Dept. de Estado/Domínio público]


Em resumo, em troca do levantamento das sanções ocidentais, o Irão comprometeu-se a:

― reduzir o seu suprimento de urânio enriquecido em 97 % e deixar de enriquecer urânio para fins militares;

― limitar o número de centrifugadoras a 5060 e não modernizar as suas instalações;

― cessar as actividades da central de Arak, que permitia produzir plutónio, susceptível de ser eventualmente utilizado para fins militares;

― aceitar as inspecções da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) para verificar a implementação do Acordo.

Em 16 de Janeiro de 2016, a ONU suspendeu as sanções, mas os signatários do JCPOA demoraram a agir. Apesar de a AIEA ter verificado em 15 ocasiões que o Irão estava a cumprir o Tratado[lvi], os países ocidentais não cumpriram os compromissos assumidos e as sanções não foram suspensas.

Em 30 de Abril de 2018, numa encenação teatral, Benjamin Netanyahu «revelou» «arquivos secretos» relativos ao programa nuclear iraniano «roubados algumas semanas antes» perto de Teerão, alegando que o Irão mentia e continuava a desenvolver armas nucleares. Mas, na realidade, é ele que mente. Os documentos apresentados datam de 2002, dez anos antes de a CIA e a Mossad terem concluído que o Irão nunca havia iniciado a construção de uma bomba. Além disso, os especialistas rapidamente constataram que os documentos «revelados» já haviam sido apresentados pelo Irão à AIEA em... 2005[lvii] e já tinham sido publicados em grande parte em Novembro de 2011[lviii]! Tudo isto não impede o deputado Meyer Hábil [Nota do tradutor: político franco-israelita, deputado da Assembleia Nacional francesa de Junho de 2013 a Fevereiro de 2023 e de Abril de 2023 a Junho de 2024] de retomar esta mentira em Junho de 2019 na RT France[lix] utilizando a expressão «Estado Islâmico» para designar o Irão[lx], com o objectivo de semear a confusão!...

Na verdade, Netanyahu dirige-se apenas a uma pessoa: Donaldo Trump, que uma semana depois anuncia a retirada americana do JCPOA e o restabelecimento das sanções[lxi]. Dará a conhecer as suas razões no Twitter, a 10 de Julho de 2019:

Há muito tempo que o Irão «enriquece» secretamente, em total violação do terrível acordo de 150 mil milhões de dólares assinado por John Kerry e péla Administração Obama. Recorde-se que este acordo deveria expirar dentro de alguns anos[lxii]. […]

Em poucas palavras, Trump mente em três pontos. No que diz respeito às actividades de enriquecimento, é importante lembrar que, para uso militar, o urânio deve ser enriquecido a 90%. No entanto, o Irão nunca ultrapassou os 20% antes do JCPOA. Com o Tratado, o Irão concordou em limitar-se a 3,67% por um período de 15 anos; e no relatório de 31 de Maio de 2019, a AIEA confirma que o Irão cumpriu estes limites[lxiii]. Além disso, em Janeiro de 2019, durante uma audiência perante a Comissão de Informações do Senado, Gina Hapoel, directora da CIA, confirmou que o Irão respeitou o JCPOA , contradizendo assim Trump[lxiv].

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Esquema sintético do processo de enriquecimento de urânio. Centrífuga = Centrifugadora

 


Quanto aos 150 mil milhões de dólares, não se trata de um montante pago pelos Estados Unidos, mas do total de activos iranianos que deveriam ser «descongelados», e o valor global é provavelmente muito inferior. Em Agosto de 2015, durante uma auditoria à Comissão de Finanças do Senado, Adam J. Szubin, Subsecretário do Tesouro para a Informação Financeira e o Terrorismo, avaliou esse montante em «pouco mais de 50 mil milhões[lxv]». Mais uma mentira.

Por fim, no que diz respeito ao calendário, Donald Trump parece não ter lido (ou não ter compreendido) o JCPOA ao afirmar que:

Este Acordo expira daqui a sete anos, e o Irão ficará livre para criar armas nucleares. Isso não é aceitável. Sete anos é já amanhã[lxvi].

Estamos perante outra mentira. Embora algumas disposições do Tratado cheguem efectivamente ao fim em 2025 (nomeadamente sobre o desenvolvimento de centrifugadoras), as cláusulas mais significativas (em particular sobre a proibição do desenvolvimento de armas nucleares, do reprocessamento de combustível nuclear ou da aplicação das medidas de salvaguarda da AIEA) não têm qualquer limite temporal[lxvii].

Na verdade, Trump pretende renegociar o Tratado de acordo com as suas condições e, em Junho de 2019, oferece-se para ser «o melhor amigo do Irão, se este renunciar às armas nucleares[lxviii]». Uma oferta que o Irão não pode aceitar, uma vez que já renunciou às armas atómicas em 2003... Estas manobras, aparentemente incoerentes, são provavelmente menos irracionais do que parecem. O que se passa é que Trump está a aplicar um mecanismo proposto em 2009 pela Brookings Institution para provocar uma mudança de regime pela força no Irão:

A melhor forma de minimizar a reprovação internacional e maximizar o apoio (ainda que relutante ou dissimulado) é atacar só se o mundo estiver convencido de que foi feita uma oferta excelente aos iranianos, mas que eles a rejeitaram — uma oferta tão boa que apenas um regime decidido a adquirir armas nucleares, e por motivos errados, a rejeitaria. Nestas circunstâncias, os Estados Unidos (ou Israel) poderiam apresentar a sua operação como conduzida a contragosto e não com raiva, e pelo menos alguns membros da comunidade internacional concluiriam que os iranianos a provocaram ao recusar um acordo tão bom [lxix].

Pretende-se mostrar que o Irão é o «mau da fita», mas os meios de comunicação caem na esparrela e criticam a recusa iraniana, como o L’Express[lxx] e muitos outros.

A retirada dos EUA e o incumprimento do JCPOA por parte do Ocidente levam o Irão a questionar a estrutura com a qual tinha concordado. Em primeiro lugar, é necessário compreender que, de acordo com o Artigo IV do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), a que se refere o JCPOA, os países têm o «direito inalienável... a desenvolver a investigação, a produção e a utilização de energia nuclear para fins pacíficos». O problema é que os Estados Unidos não reconhecem este «direito inalienável» para o Irão (enquanto o reconhecem para Israel, que não faz parte do TNP!)

Em troca do levantamento das sanções, o Irão concordou em ficar muito aquém dos limites do TNP, renunciando ao seu direito de enriquecer urânio nos termos do TNP e armazenando apenas 300 kg de urânio enriquecido até ao limite de 3,67%. O problema é que o processo de enriquecimento não pode ser interrompido e, para manter o suprimento nos 300 kg, o Irão estava autorizado a vender o seu urânio enriquecido no mercado. Mas as novas sanções americanas proíbem-lhe aceder a esse mercado! Muito logicamente, o Irão está, portanto, condenado a ultrapassar os limites do JCPOA e a voltar aos direitos que lhe são conferidos pelo TNP, a fim de pressionar os europeus a implementarem soluções.

É por isso que, em Novembro de 2019, o Irão aumenta as suas capacidades de enriquecimento de urânio, o que dá à imprensa francesa roda livre para propagar a ideia de que o Irão procura produzir a arma nuclear. Assim, Patrick Cohen na France 5 insinua que o Irão «está mais perto[lxxi]». Alguns dias depois, na emissão «C dans l’air», François Clemenceau reforça esta direcção afirmando que o Irão não vê «mais qualquer limite à [sua] vontade de enriquecer urânio para aceder ao que [lhe] permite ter a bomba[lxxii]». Na realidade, não existe qualquer elemento concreto que permita afirmar que o Irão tem intenção de produzir armas atómicas. O diário La Croix afirma que «o Irão reduziu um pouco mais (...) os seus compromissos internacionais em matéria nuclear[lxxiii]». O Le Figaro lembra as condições do JCPOA... mas evita cuidadosamente qualquer referência ao Artigo 26[lxxiv], que é claríssimo:

O Irão declarou que trataria tal reintrodução ou nova imposição das sanções especificadas no Anexo II ou tal imposição de novas sanções relacionadas com o nuclear como motivos para a cessação total ou parcial da implementação dos seus compromissos ao abrigo do presente JCPOA[lxxv].

Assim, o Irão limitou-se a aplicar uma disposição do JCPOA, que incluiu porque já sabia que o Ocidente não cumpriria a sua palavra!

A Europa dispunha de diferentes ferramentas e opções – que não utilizou – para responder a Trump[lxxvi], a começar pela aplicação de regras que a própria Europa adoptara em 1996 para combater a extraterritorialidade das leis americanas[lxxvii]; mas não o fez. De resto, existem outros meios de pressão, como o apoio (mais político do que militar) às coligações no Iraque e no Afeganistão, por exemplo, o que mostraria que, apesar das declarações, os nossos princípios e valores passam para segundo plano em relação aos nossos interesses...

Em Janeiro de 2020, Israel afirma que o Irão «poderia possuir a bomba daqui até ao fim do ano[lxxviii]». Mas também neste ponto estamos no domínio da desinformação. Para além de o Irão não ter enriquecido urânio a 90%, a concepção de uma bomba requer que este urânio seja convertido numa arma, o que o Irão nunca fez, nem adquiriu capacidades para o fazer. Além disso, antes de poder ser utilizada, é preciso que a arma nuclear funcione!

essais nucléaires Polynésie

Ensaios nucleares franceses na Polinésia. ©AFP


Todos nos lembramos dos protestos em França sobre os testes nucleares só para manter uma capacidade existente... Além de que nunca foi demonstrado que o Irão tivesse decidido dotar-se de armas nucleares. Estamos, portanto, muito longe das afirmações israelitas...

Mas não estamos longe de uma contradição, já que, numa declaração oficial de 1 de Julho de 2019 sobre o JCPOA, a Casa Branca afirmou que «Há poucas dúvidas de que, mesmo antes da conclusão do Acordo, o Irão já tinha violado as suas condições[lxxix]»! Bem-vindos ao país do absurdo!

No final de Abril de 2020, o New York Times noticia que os Estados Unidos procuravam regressar ao Acordo, não por qualquer preocupação de multilateralismo, mas para utilizar uma cláusula do JCPOA que permitiria repor as sanções antes da respectiva assinatura[lxxx]

Perante a irracionalidade ocidental (e israelita) e apesar das provocações verbais, os governantes iranianos têm-se revelado muito racionais nas escolhas que fazem. As declarações espectaculares contra Israel e os Estados Unidos devem ser frequentemente interpretadas pelo que são: retórica, que visa expressar resistência («jihad verbal») e satisfazer uma opinião pública iraniana que já não compreende a resiliência do governo. Falando sobre a possibilidade de uma acção nuclear iraniana, o ex-director da Mossad, o Serviço de Informações Estratégicas israelita, Meir Dagan, confirma:

O regime do Irão é muito racional [...] Não há dúvida de que eles estão cientes de todas as implicações das suas acções e que pagariam um preço muito alto por elas... e acho que, nesta fase, os iranianos estão muito cautelosos em relação a esta questão[lxxxi].

A nossa percepção do Irão é sustentada por meios de comunicação social fortemente influenciados pela política interna de Israel e que não fazem qualquer análise crítica[lxxxii]. Benjamin Netanyahu explora a subserviência de alguns jornalistas ocidentais, enquanto antigos directores da Mossad, como Efraim Halevy, avisam contra esta excessiva dramatização[lxxxiii]. Na verdade, os nossos meios de comunicação tradicionais tendem a transformar-se em órgãos de propaganda, ao mesmo nível do Pravda da União Soviética. 

3. O Irão continua a ser o principal promotor do terrorismo internacional [lxxxiv]

Como não tentamos honestamente compreender as razões do terrorismo islâmico, acabamos por associá-lo a qualquer coisa. Por exemplo, a 17 de Janeiro de 2015, no programa «On n’est pas couché», Michel Onfray afirma que «o Irão se regozijou» com o atentado de Janeiro de 2015 contra o Charlie Hebdo[lxxxv]. É falso. Na realidade, no dia 9 de Janeiro, o Presidente iraniano Rouhani condenou inequivocamente o facto de «se matar invocando o nome do Islão[lxxxvi]». Mas esta mentira «dá conforto» aos nossos estereótipos.

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Dois homens armados mataram 12 pessoas num atentado contra os escritórios da revista Charlie Hebdo em 2015. Fonte da fotografia: Getty Images. 

Pouco depois da chegada ao poder de Donald Trump, o novo Ministro da Defesa [Ingl. Secretary of Defense] James Mattis – ex-general dos US Marines e apelidado de «Mad Dog» [Nota do tradutor: «cão raivoso»] – acusa o Irão de ser «o país que mais apoia o terrorismo em todo o mundo[lxxxvii]». Uma afirmação repetida em 2018, para justificar a retirada americana do JCPOA e eventuais ataques contra o Irão. E perante a Comissão de Negócios Estrangeiros do Senado, Mike Pompeo declara:

A questão factual no que respeita às relações do Irão com a Al-Qaeda é muito concreta. Eles acolheram a Al-Qaeda, autorizaram a Al-Qaeda a circular pelo país. (…)

Não há qualquer dúvida de que existe uma ligação entre a República Islâmica do Irão e a Al-Qaeda. Ponto. Ponto final[lxxxviii].

Mas Pompeo mente. O terrorismo jihadista actual constitui uma respostas às intervenções ocidentais. É por isso que se mantém essencialmente sunita. Assim, embora não seja de excluir que pessoas ligadas à «Al-Qaeda» possam ter passado por território iraniano, fizeram-no sem conhecimento das autoridades[lxxxix]. A análise de documentos de Bin Laden descobertos em Abbottabad em 2011 confirma a total ausência de cumplicidade entre a «Al-Qaeda» e o Irão[xc].

Na realidade, o que Pompeo pretende é invocar a AUMF[xci] [Nota do tradutor: sigla em inglês da Autorização para Utilizar a Força Militar], uma legislação que autoriza o Presidente a atacar os autores do «11 de Setembro» sem necessitar da aprovação do Congresso para tal. É por isso que, em 2003, os Estados Unidos acusaram o Iraque de apoiar a «Al-Qaeda»[xcii]. No total, a AUMF serviu para justificar 41 operações militares em 19 países. A partir de 2004, a Administração Bush tenta o mesmo estratagema para atacar o Irão[xciii] e preparar planos de ataque[xciv]. A partir do momento em que chega ao poder, Donald Trump segue a mesma linha. Preocupado com as consequências de uma política irracional, o Congresso procura, a partir de Maio de 2019, revogar a AUMF. Depois do assassinato do general Quasem Soleimani, a 3 de Janeiro de 2020, a Câmara dos Representantes decide revogar a AUMF no dia 30 de Janeiro e adopta uma lei que obriga o Presidente a pedir autorização ao Congresso para entrar em guerra contra o Irão[xcv]. O Senado – apesar da maioria republicana – acompanha a 13 de Fevereiro[xcvi].

A II PARTE CONTINUA AQUI: 

https://tertuliaorwelliana.blogspot.com/2025/08/governar-por-meio-das-fake-news-jacques.html



NOTAS e REFERÊNCIAS

 

[*] Conservei a expressão Fake News [notícias fraudulentas] porque faz parte do título original do livro de Jacques Baud (em francês): Gouverner par les Fake News. Nota do Tradutor.

 

[i] Ver, por exemplo, The Military Balance 1990-1991, International Institute for Strategic Studies, Londres, Outono de 1990.

[ii] Roman Bergman, The Secret War with Iran, Oneworld, Oxford, 2008 (p. 5).

[iii] Shane Harris & Matthew M. Aid, «Exclusive: CIA File Prove America Helped Saddam Hussein as He Gassed Iran», Foreign Policy, 26 de Agosto de 2013.

[iv] Algiers Accords – Declaration of the Democratic and Popular Republic of Algeria, 19 de Janeiro de 1981, parágrafo 1.

[v] Jeremy R. Hammond, « The 'Forgotten' US Shootdown of lranian Airliner Flight 655 », Foreign Policy Journal, 3 de Julho de 2017.

[vi] Ver artigo na Wikipedia «Iran Air Flight 655».

[vii] John F. Burns, « World Aviation Panel Faults U.S. Navy on Downing of lran Air», The New York Times, 4 de Dezembro de 1988.

[viii] «When America Apologizes (or Doesn't) for Its Actions», The New York Times, 6 de Dezembro de 2011.

[ix] Por exemplo: «19 h 30», RTBF, 11 de Janeiro de 2020.

[x] Arshad Mohammed, «U.S., Iran have history of contact since cutting ties», Reuters, 10 de Março de 2007.

[xi] Shlomo Ben-Ami, antigo ministro israelita dos Negócios Estrangeiros, Le Figaro, 19 de Setembro de 2007

[xii] Saudi Intelligence Chief Talks Regional Security With Brennan Delegation, 22 de Março de 2009 (https://wikileaks.org/plusd/cables/09RIYADH445_a.html)

[xiii] «Sharon says U.S. should also disarm Iran, Libya and Syria», Haaretz, 30 de Setembro de 2004.

[xiv] Mike Allen, «Iran 'Will Be Dealt With,' Bush Says», The Washington Post, 22 de Abril de 2004.

[xv] Philip Giraldi, "Deep Background," The American Conservative, 1 de Agosto de 2005.

[xvi] Brian Ross & Richard Esposito, «Bush Authorizes New Coven Action Against Iran», ABC News, 23 de Maio de 2007.

[xvii] Seymour M. Hersh, "Preparing the Battlefield", The New Yorker, 29 de Junho de 2008.

[xviii] «U.S. brands anti-Iran Kurdish group terrorist», Reuters, 4 de Fevereiro de 2009.

[xix] Foreign Terrorist Organizations, Bureau of Counterterrorism, US Department of State (http:// www.state.gov/j/ct/rls/other/des/123085.htm)

[xx] Saddam Hussein's Support for International Terrorism, The White House, (http://georgew­bush-whitehouse.archives.gov/infocus/iraq/decade/sect5.html). O MeK será retirado da lista de movimentos terroristas do Departamento de Estado americano a 28 de Setembro de 2012 para que os Estados Unidos e a Grã-Bretanha possam colaborar com ele em acções clandestinas no Irão.

[xxi] Seymour Hersh, «Preparing the Battlefield», The New Yorker, 7 de Julho de 2008.

[xxii] « Nucléaire : Israël juge l'Iran « plus dangereux que l’EI », lexpress.fr/AFP, 5 de Julho de 2015.

[xxiii] « Iran : au cœur des tensions - Le Dessous des cartes », YouTube/Arte, 21 de Setembro de 2019.

[xxiv] Ver memri.org/bin/ articles.cgi?Page=archives&Area=sd&ID=SP101305.

[xxv][xxv] « En voie de radicalisation, l'Iran veut « rayer » Israël de la carte », Le Monde, 27 de Outubro de 2005.

[xxvi] Jonathan Steele, «Lost in Translation», The Guardian, 22 de Junho de 2006.

[xxvii] memri.org, op. cit.

[xxviii] Discurso do Presidente Sarkozy no Knesset, Le Figaro, 20 de Junho de 2008.

[xxix] « Meyer Habib : « Les Etats-Unis ont un seul objectif : que l'Iran ne soit pas nucléaire », You­Tube/RT France, 20 de Junho de 2019 (02'54")

[xxx] « Corrections and clarifications », The Guardian, 28 de Julho de 2007 ; « Corrections and clarifications », The Guardian, 23 de Abril de 2009

[xxxi] Kim Hjelmgaard, «Iran's Jewish community is the largest in the Mideast outside Israel - and feels respected», USA Today, 1 de Setembro de 2018.

[xxxii] Mahnaz Shirali, na emissão «C dans l’air», «Iran/ Israël: l’escalade ... jusq’où? #cdanslair 11.05.2018 », France 5/YouTube, 11 de Maio de 2018 (08'05")

[xxxiii] David M. Halbfinger & Isabel Kershner, «Israel and Iran, Newly Emboldened, Exchange Blows in Syria Face-Off», The New York Times, 10 de Maio de 2018

[xxxiv] «U.S. pulls most personnel from Iraq as U.S. officials say Iranian military likely behind tanker», CBS News, 15 de Maio de 2019; Tyler Durden, «Top British Commander in Rare Public Dispute US Over Iran Intelligence», Antimedia.com, 15 de Maio de 2019.

[xxxv] «Ahmadinejad meets anti-Zionist Jews», AP Archive/You Tube, 23 de Julho de 2015.

[xxxvi] «Why are Jews at the «Holocaust denial» conference? », BBC News, 13 de Dezembro de 2006.

[xxxvii] O prazo para participar era o dia 1 de Abril de 2015 e o primeiro prémio ascendia a 12.000 dólares (The Times of Israel, «Iran Holocaust cartoon contest draws 839 entries - Over 300 artists, including from France, Turkey and Brazil, turn in works for competition derided by UNESCO», 7 de Abril de 2015.

[xxxviii] http://www.irancartoon.com/the-second-holocaust-international-cartoon-contest-2015/

[xxxix] Ver Wikipedia, artigo «Internacional Holocaust Cartoon Competition»

[xl] Josh Levs & Mick Krever, «Iran's new president: Yes, the Holocaust happened», CNN, 25 de Setembro de 2013

[xli] « Meyer Habib : « Les Etats-Unis ont un seul objectif : que l'Iran ne soit pas nucléaire » », You­Tube/RT France, 20 de Junho de 2019 (01'52")

[xlii] « Nucléaire : l'Iran défie Trump #cdanslair 06.09.2019, C dans l’air », YouTube/France 5, 7 de Setembro de 2019 (00'23")

[xliii] Shane Harris & Matthew M. Aid, «Exclusive: CIA Files Prove America Helped Saddam as He Gassed Iran», Foreign Policy, 26 de Agosto de 2013.

[xliv] Robert Czulda, « The Defensive Dimension of Iran's Military Doctrine: How Would They Fight? », Middle East Policy Council, Volume XXIII, n° 1, Primavera de 2016.

[xlv] James Risen, State of War: The Secret History of the CIA and the Bush Administration, Free Press, 24 de Outubro de 2006

[xlvi] James Risen, «George Bush insists that Iran must not be allowed to develop nuclear weapons. So why, years ago, did the CIA give the Iranians blueprints to build a bomb? », The Guardian, 5 de Janeiro de 2006

[xlvii] Ver, por exemplo, «19 h 30» de La Première da RTBF (6 de Janeiro de 2010)

[xlviii] Gregory F. Treverton, Support to Policymakers: The 2007 NIE on Iran's Nuclear Intention and Capabilities, Center for the Study of Intelligence, Central Intelligence Agency, Washington (DC), Maio de 2013, p. 19

[xlix] National Intelligence Estimate - Iran: Nuclear Intentions and Capabilities, Office of the Director of National Intelligence & National Intelligence Council, Novembro de 2007; Gregory F. Trevercon, The 2007 National Intelligence Estimate on Iran's Nuclear Intention and Capabilities, RAND Corporation, Maio de 2013

[l] Elaine Sciolino, «Europeans See Murkier Case for Sanctions», The New York Times, 4 de Dezembro de 2007

[li] Mark Mazzetti & James Risen, «U.S. Agencies See No Move by Iran to Build a Bomb», The New York Times, 25 de Fevereiro de 2012; «Mossad, CIA Agree Iran Has Yet to Decide to Build Nuclear Weapon», Haaretz, 18 de Março de 2012.

[lii] Karen DeYoung & Scott Wilson, «Goal of lran sanctions is regime collapse, U.S. official says»,Washington Post, 13 de Janeiro de 2012

[liv] «Netanyahu diagrams Iran's nuclear status», CNN/You Tube, 27 de Setembro de 2012

[lv] Nota de 22 de Outubro de 2012, parágr. 9 (https://static.guim.co.uk/ni/1424713149380/Mossad-On­ Iran-Nuclear-Stat. pdf)

[lvi] Daniel Larison, «IAEA Confirms Iranian Compliance for the Fifteenth Time», The American Conservative, 31 de Maio de 2019

[lvii] Oliver Holmes & Julian Borger, «Nuclear deal: Netanyahu accuses Iran of cheating on agreement», The Guardian, 30 de Abril de 2018

[lviii] Implementation of the NPT Safeguards - Agreement and relevant provisions of Security Council resolutions in the Islamic Republic of Iran, AIEA Board of Governors, 8 de Novembro de 2011 (GOV/2011/65)

[lix] « Meyer Habib : « Les Etats-Unis ont un seul objectif : que l'Iran ne soit pas nucléaire » », You Tube/RT France, 20 de Junho de 2019 (04'58")

[lx] « Meyer Habib : « Les Etats-Unis ont un seul objectif : que l'Iran ne soir pas nucléaire » », You­

/RT France, 20 de Junho de 2019 (00'50")

[lxi] Mark Landler, «Trump Abandons Iran Nuclear Deal He Long Scorned», The New York Times, 8 de Maio de 2018

[lxii] https//twittter.com/realDonaldTrump/status/1148958770770382849

[lxiii] Verification and monitoring in the Islamic Republic of Iran in light of United Nations Security Council resolution 2231 (2015), IAEA Board of Governors, 31 de Maio de 2019, (GOV/2019/21)

[lxiv] «CIA Director: Iran "Technically" In Compliance with Nuclear Deal», C-Span, 29 de Janeiro de 2019

[lxv][lxv] Written Testimony of Adam J Szubin, Acting Under Secretary of Treasury for Terrorism and Financial Intelligence United States Senate Committee on Banking, Housing, And Urban Affairs, Departamento do Tesouro, Centro de Imprensa, 5 de Agosto de 2015

[lxvi] Donald Trump, Conferência de Imprensa da Casa Branca, 30 de Abril de 2018

[lxvii] Jon Greenberg, «Donald Trump says wrongly the Iran nuclear deal expires in 7 years», Politifact, 2 de Maio de 2018

[lxviii] «Trump says he will be Iran's 'best friend' if it renounces nuclear arms», The Times of Israel, 22 de Junho de 2019

[lxix] Kenneth M. Pollack, et al., «Which Path to Persia? Options for a New American Strategy toward Iran», Analysis Paper Nr 20, Sahan Center for Middle East Policy, The Brookings Institution, Junho de 2009

[lxx] « L’lran rejette la proposition de dialogue de Trump », LEXPRESS.fr/AFP, 1 de Agosto de 2018

[lxxi] Patrick Cohen na emissão «C à vous », « USA - Iran : la tension monte - C à Vous – 6 de Janeiro de 2020 », France 5/YouTube, 7 de Janeiro de 2020 (01'50")

[lxxii] « Crash du Boeing 737 : l'Iran accusé #cdanslair 10.01.2020», France 5/YouTube, 11 de Janeiro de 2020, (28'20")

[lxxiii] « Nucléaire : l'Iran relance des activités d'enrichissement d'uranium gelées », La Croix, 5 de Novembro de 2019

[lxxiv] « L’Iran a repris l'enrichissement d'uranium dans son usine de Fordo », Le Figaro/APP, 8 de Novembro de 2019

[lxxv] Joint Comprehensive Plan of Action, Viena, 14 de Julho de 2015, Artigo 26, p.14

[lxxvi] Ellie Geranmayeh, «Europe Must Fight to Preserve the Iran Deal», Foreign Policy, 23 de Janeiro de 2018

[lxxvii] Regulamento (CE) nº 2271/96 do Conselho de 22 de Novembro de 1996 relativo à protecção contra os efeitos da aplicação extra-territorial de legislação adoptada por um país terceiro e das medidas nela baseadas ou dela resultantes, Official Journal L 309, 29 de Novembro de 1996 (eur-lex.europa.eu)

[lxxviii] Alisa Odenheimer, «Israel Report Says Iran Could Have Uranium for Bomb by Year-End», Bloomberg, 15 de Janeiro de 2020

[lxxix] Statement from the Press Secretary, www.whitehouse.gov, 1 de Julho de 2019

[lxxx] David E. Sanger, «To Pressure Iran, Pompeo Turns to the Deal Trump Renounced», The New York Times, 26 de Abril de 2020

[lxxxi] Watch Stahl, «Ex-Mossad chief: Iran rational; don't attack now», CBS News, 11 mars 2012

[lxxxii] « L’Iran puissance nucléaire, plus grave menace mondiale, selon Netanyahu », rtbf.be/AFP, 30 de Setembro de 2014

[lxxxiii] Raphael Ahren, « Un Iran nucléaire est-il vraiment une menace existentielle pour Israël ?», The Times of Israël, 28 de Fevereiro de 2015

[lxxxiv] Rex W.  Tillerson, Secretário de Estado, 18 de Abril de 2017 (www.state.gov/secretary/re-marks/2017/04/270315.htm)

[lxxxv] Michel Onfray, Charlie Hebdo, l'Islam et la France - On n'est pas couché, 17 de Janeiro de 2015 #ONPC », France5/YouTube, 17 de Janeiro de 2015 (17'05")

[lxxxvi] «Charlie Hebdo: Iran's Rouhani condemns killing in name of lslam», APP/Dawn, 9 de Janeiro de 2015

[lxxxvii] Rachael Revesz, "Iran is 'world's biggest sponsor of state terrorism”, says US Defense Secretary James Mattis", Independent, 4 de Fevereiro de 2017 (http://www.independent.co.uk/news/ world/americas/iran-worlds-biggest-sponsor-terrorism-us-donald-trump-james-mattis-nuclear-test-missile-sanctions-a7563081.html)

[lxxxviii] «Pompeo says Iran tied to Al-Qaeda, declines to say if war legal», France24, 10 de Abril de 2019

[lxxxix] Seth G. Jones et al., The Evolution of the Salafi-Jihadist Threat Current and Future Challenges from the Islamic State, Al-Qaeda, and Other Groups, Center for Strategic & International Studies, Novembro de 2018

[xc] Nelly Lahoud, Al-Qa'ida's Contested Relationship with Iran the View from Abbottabad, New America, Setembro de 2018

[xci] 2001 Authorization for Use of Military Force (AUMF), S.J. Res 23(107th), 14 de Setembro de 2001

[xcii] Steven Kull, «The American Public On International Issues - Misperceptions, The Media And The Iraq War», The Program On International Policy Attitudes {PIPA)/Knowledge Networks Poll, 2 de Outubro de 2003

[xciii] CNN, «Bush: U.S. probes possible Iran links to 9/11», 19 de Julho de 2004.

[xciv] James Fallows, «Will Iran Be Next? », The Atlantic, Dezembro de 2004.

[xcv] David Roza, «House passes bills to repeal 2002 AUMF and require Congress approve any war with Iran», Task &Purpose, 30 de Janeiro de 2020; Joe Gould & Leo Shane III, «House votes to curb Trump’s military action on Iran», Defense News, 30 de Janeiro de 2020

[xcvi] Senate Joint Resolution 68 – A joint resolution to direct the removal of United States Armed Forces from hostilities against the Islamic Republic of Iran that have not been authorized by Congress, 116th Congress-2020), 13 de Fevereiro de 2020