Temas 2 e 3
o mercado de Kostiantynivka
era ucraniano…
José Catarino Soares
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8.º artigo da série
Tanta mentira, tanta omissão deliberada, tanta falsidade, tanta
confusão de ideias sobre as guerras na Ucrânia!
1. O ataque ao mercado de Kostiantynivka
Em 6 de Setembro de 2023,
ocorreu um ataque com um míssil ao mercado de
Kostiantynivka, uma cidade controlada pelos ucranianos no Leste da Ucrânia.
A carga de fragmentos de metal do míssil que atingiu o mercado dessa cidade, perfurou
janelas e paredes, matou 15 civis e feriu mais de 30 outros, ficando alguns
deles desfigurados.
Menos de duas horas
depois, o Presidente Volodymyr Zelensky culpou os «terroristas
russos» pelo ataque, e muitos orgãos mediáticos de comunicação social do chamado
“Ocidente alargado” seguiram-lhe na peugada. O costume.
2. As crenças de Helena Ferro Gouveia apresentadas
como notícia
Um deles foi a CNN Portugal, pela boca da senhora Helena Ferro Gouveia, que é apresentada por esta estação de televisão como uma comentadora “especialista de relações internacionais”. Esta comentadora, confortavelmente instalada em Lisboa, declarou peremptoriamente (antes de qualquer investigação idónea feita in loco por peritos militares) que tinham sido os russos e, mais ainda, que o tinham feito para ameaçar e amedrontar Antony Bliken, ministro dos Negócios Estrangeiros (“State Department”) dos EUA, de visita a Kiev nesse dia.
Manchete, foto e legenda da CNN Portugal |
3. A culpa é sempre dos russos
Durante três dias
seguiu-se uma intensa campanha do sistema mediático dominante de comunicação
social em que os russos foram alvo de todos os vitupérios.
Contudo, rapidamente,
alguns genuínos especialistas -- como o major-general Carlos Branco (em Portugal) ou o major Scott Ritter (nos EUA) -- trataram de
apontar algumas suspeitas sobre a origem desse míssil que a senhora Helena
Ferro Gouveia e centenas de outros comentadores da sua igualha nunca
comtemplaram.
«Através
de imagens de videovigilância, soava estranho que as pessoas olhassem para o
som do projéctil que vinha da direcção da Ucrânia antes de rebentar no mercado.
Claro que o major-general [Carlos Branco], como
tantos outros, foram acusados, uma vez mais, de estarem a seguir a narrativa
russa apenas por desmentirem a versão ucraniana, que é tantas vezes repetida
cegamente pelos órgãos de comunicação social sem qualquer verificação» —
observou o jornalista independente português Bruno Amaral de Carvalho, sediado
na Donbass, no seu canal do Telegram (18 de Setembro 2023).
Nos dias seguintes, o
caso iria mudar radicalmente de figura, no sentido apontado pelo major-general
Carlos Branco e pelo major Scott Ritter (este no próprio dia do ataque). Seis jornalistas do New York Times estudaram relatos de
testemunhas oculares, recolheram fragmentos do míssil, observaram vestígios do
seu impacto no solo, examinaram as imagens das câmaras de vigilância e chegaram
a conclusões diametralmente opostas às da senhora Helena Ferro Gouveia e dos
seus émulos.
4. O New York Times vs. Helena Ferro
Gouveia
Segundo um artigo publicado no New York Times em 18 de Setembro, imagens de câmaras de vigilância mostram que o míssil atingiu Konstiantynivka vindo de território controlado pela Ucrânia, e não de áreas ocupadas pelo exército russo. Esta suposição baseia-se no facto de que, no momento da aproximação do míssil, pelo menos quatro transeuntes se voltam simultaneamente para a câmara, ou seja, na direcção do território controlado pela Ucrânia. Além disso, pouco antes da explosão, o reflexo do míssil é visível em dois carros estacionados, indicando a direcção de deslocamento do noroeste, tal como o major-general Carlos Branco já tinha sugerido.
New York Times, 18 de Novembro de 2023 |
As autoridades ucranianas
tentaram impedir que alguns dos jornalistas do New York Times autores da
investigação tivessem acesso aos destroços do míssil e à área de impacto, mas
os jornalistas acabaram por conseguir chegar ao local, entrevistar testemunhas e
recolher os restos das munições utilizadas. Segundo escrevem no seu artigo de
18 de Setembro de 2023, eles têm provas de que poucos minutos antes da explosão
no mercado, os militares ucranianos lançaram dois mísseis terra-ar em direção à
linha de frente a partir da cidade de Druzhkovka, situada a 15 quilómetros a
noroeste de Konstantynivka. Em Druzhkovka, havia repórteres do jornal que
ouviram sons de lançamentos de mísseis às 14h. A explosão em Konstantynivka
ocorreu quatro minutos após o lançamento dos mísseis. A informação sobre o
lançamento de dois mísseis foi confirmada em entrevista ao jornal por um
militar ucraniano que pediu o anonimato.
5. Na guerra, a verdade é sempre a primeira vítima
Em resumo, agora, é o
próprio New York Times que põe em causa a versão ucraniana e
admite ter sido um míssil ucraniano que falhou o seu alvo (russo) a atingir
letalmente o mercado de Kostiantynivka.
«Pontualmente,
ao contrário do primeiro ano da guerra, a imprensa norte-americana, por vezes
até bem mais do que a europeia, destapa as verdades incómodas de um conflito em
que não há inocentes. Será o New York Times também putinista?»,
pergunta Bruno Amaral de Carvalho no mesmo bilhete público.
É óbvio que não. Se o New
York Times pode ser apodado de alguma coisa relativamente às guerras na
Ucrânia será de “bidenista” ou “zelenskysta” ou coisa semelhante.
Será que a senhora Helena
Ferro Gouveia e os seus émulos se vão retractar e pedir desculpa aos
espectadores das suas acusações infundadas e caluniosas? É óbvio que não. São pessoas
como ela que mantêm vivo e sempre actual o aforismo que serve de título a esta
secção. Numa guerra, a verdade é a vítima de eleição de tais comentadores e a procura da verdade a
sua última preocupação.
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