Tema 3
O HUMILHANTE E CALAMITOSO ACORDO IMPOSTO À GRÉCIA
Os governos do Eurogrupo impuseram à Grécia um humilhante e calamitoso acordo de rendição. O 1º ministro grego, Alexis Tsipras, acabou por capitular, depois do seu povo lhe ter dado, em Janeiro, uma maioria no parlamento por ter prometido não aceitar mais «austeridade», e, em Julho, força e legitimidade muito acrescidas no referendo para poder resistir à pressão para aceitar o inaceitável.
Os mais benevolentes afirmam: «Tsipras não tinha outra opção diante da força bruta dos seus 18 "parceiros" da chamada zona Euro, apostados em mostrar que não há alternativa à chamada "austeridade". Fez tudo o que podia para resistir, mas acabou por ter de capitular para evitar o pior: a asfixia financeira do país e o caos que se lhe seguiria».
Mas também se pode dizer, com igual ou maior verdade, que Tsipras não esteve a altura das circunstâncias e que foi vítima das suas ilusões, grandes e funestas ilusões:
- nos « benefícios do euro» (uma moeda única que favorece principalmente a Alemanha)
- nas vantagens da « soberania partilhada » (uma folha de parra destinada a encobrir a nudez forte do facto de a « Europa » ser politica e economicamente comandada pela Alemanha),
- na « solidariedade europeia » (que existe, de facto, e é muito generosa, sempre que se trata de acudir aos interesses dos bancos e das empresas multinacionais à custa do erário público e dos direitos e proventos da maioria da população).
Estas ilusões explicam provavelmente por que razão Tsipras não preparou qualquer plano (como o seu ex-ministro das finanças lhe sugeriu) para a eventualidade de não conseguir a anuência da « zona euro » para uma reestruturação da dívida da Grécia que lhe permitisse sair da espiral do empobrecimento progressivo e infindável. Confiou, até ao fim, na boa vontade e na racionalidade dos seus "parceiros" europeus, cuja vontade única e único racional de actuação eram o de o fazer capitular, custasse o que custasse. As únicas divergências entre os 18 « parceiros » diziam respeito à dose de « austeridade » a aplicar, uma vez descartada a alternativa defendida pelo ministro alemão das finanças, o « democrata-cristão » Schäuble, de expulsar a Grécia da zona Euro (uma alternativa vetada por Merkel, Hollande e Renzi, que a consideraram como demasiado arriscada e mesmo aventureira) e só depois negociar o pacote de « austeridade ».
Tsipras meteu-se, assim, numa situação impossível. Trocou o seu moderado programa eleitoral (acabar com a « austeridade ») por mais austeridade, em nome da permanência no Euro e da promessa que terá, um dia, um alívio na dívida odiosa e ilegal que os políticos corruptos que o antecederam contraíram para salvar os bancos estrangeiros (alemães, franceses, etc.) e gregos e encher os bolsos da oligarquia grega e internacional. Sim, esse alívio na dívida acabará por chegar, um dia, quando o acordo tiver produzido os seus efeitos devastadores.
A maioria do povo grego, a acreditar nas sondagens, parece ter-lhe perdoado o facto de ter capitulado, atendendo às circunstâncias e ao modo como o fez. Mas não é plausível que essa magnanimidade possa durar.
Para já terá de governar contra uma parte importante dos deputados da sua coligação, que acabará por se esfrangalhar, e de se apoiar nos deputados dos partidos pró-austeridade que o povo grego derrotou nas eleições e no referendo para poder aprovar as medidas que se comprometeu a aplicar.
E terá de se haver sobretudo com o seu povo, agora que aceitou tudo: vender os portos e os aeroportos, privatizar a companhia pública da electricidade, acabar com o complemento solidário para os idosos com pensões muito baixas, cortar ainda mais nas pensões de aposentação, modificar ainda mais as leis laborais a favor do patronato, cortar ainda mais nos salários dos trabalhadores da função pública, reverter as medidas que tomou desde que foi eleito para fazer frente os efeitos da crise humanitária, adoptar legislação que contorne os acordãos do tribunal constitucional do seu país, subir o IVA de quase tudo, eliminar o factor de insularidade (as ajudas fiscais às ilhas para compensar o preço acrescido dos fretes) e vender ou hipotecar 50 mil milhões de euros em propriedades e bens do Estado grego (que parece não ter sequer património que valha metade desse valor) para pagar aos generosos prestamistas.
A cara sempre sorridente de Tsipras agora é esta.
Não é caso para menos. Traíu o mandato que o povo lhe deu.
Não é caso para menos. Traíu o mandato que o povo lhe deu.
Segue o documento que o Eurogrupo o fez assinar, com as anotações de Yanis Varoufakis que descodificam a língua de pau em que está escrito. A tradução do documento é do Infogrécia. A tradução das anotações de Varoufakis é do autor deste blogue a partir do original. As notas foram também acrescentadas ao texto original pelo autor deste blogue.
23-07-2015
O
“acordo” de Bruxelas sobre a Grécia (anotado por Yanis Varoufakis)
15 Julho, 2015
O ex-ministro das Finanças grego decidiu dar a conhecer as suas notas
pessoais [a vermelho] sobre o texto que serviu de « acordo » do Eurogrupo com a Grécia e no qual, poucos dias
depois, já quase ninguém diz acreditar.
A Cimeira do Eurogrupo
sublinha a necessidade crucial de restabelecer a confiança com as autoridades gregas [i.e. o governo grego deve introduzir novas medidas de austeridade
severa dirigida contra os mais fracos, que já sofreram gravemente], como pré-requisito
para um eventual acordo futuro sobre um novo programa do Mecanismo Europeu de
Estabilidade (MEE) [i.e. para um novo
empréstimo-para-adiar-e-fazer-de-conta].
Neste contexto, é
fundamental que as autoridades gregas assumam as suas responsabilidades [i.e. o governo do Syriza deve assinar uma
declaração a dizer que passou a adoptar a “lógica” da troika] e que os compromissos
políticos sejam seguidos de uma aplicação bem sucedida.
Um Estado-Membro da
área do euro que solicite assistência financeira do MEE deverá apresentar,
sempre que possível, um pedido semelhante ao FMI. Esta é uma condição prévia
para o Eurogrupo chegar a acordo sobre um novo programa do MEE.
Consequentemente, a Grécia solicitará a assistência continuada do FMI
(acompanhamento e financiamento) a partir de março de 2016 [i.e. Berlim continua a acreditar que a
Comissão não é de confiança para fazer de “polícia” dos próprios programas de
“resgate” europeus].
Dada a necessidade de
restabelecer a confiança com a Grécia, a Cimeira do Euro saúda os compromissos
assumidos pelas autoridades gregas no sentido de legislarem sem demora sobre um
primeiro conjunto de medidas [i.e. a Grécia deve sujeitar-se ao sufoco
orçamental, mesmo antes de ser garantido algum financiamento]. As referidas
medidas basear-se-ão integralmente num acordo prévio com as Instituições e
incluirão:
até 15 de julho
– a racionalização do
sistema do IVA [i.e.
torná-lo mais recessivo através de aumentos de taxas que encorajam uma maior
evasão a este imposto] e o alargamento da base de tributação para aumentar as
receitas [i.e.
desferir um golpe profundo à única indústria em crescimento da Grécia – o
turismo];
– a adopção de medidas
imediatas para melhorar a sustentabilidade a longo prazo do sistema das
pensões, no âmbito de um vasto programa de reforma das pensões [i.e. reduzir as pensões mais baixas,
ignorando que a razia no capital dos fundos de pensões se deveu ao PSI * da troika em 2012 e aos efeitos nefastos
da queda no emprego e do trabalho não declarado];
– a garantia da total
independência jurídica do ELSTAT (autoridade estatística grega)[i.e. a troika exige controlo
absoluto sobre a forma como o equilíbrio orçamental é calculado, para assim
controlar por inteiro a magnitude da austeridade que impõe ao governo];
– a plena aplicação
das disposições pertinentes do Tratado sobre Estabilidade, Coordenação e
Governação na União Económica e Monetária, em particular, tornando o Conselho
Orçamental plenamente operacional antes da finalização do Memorando de
Entendimento e introduzindo cortes quase automáticos nas despesas no caso de
desvios em relação aos objectivos ambiciosos para o saldo primário, depois de
consultado o Conselho Orçamental e sob reserva de aprovação prévia pelas
Instituições [i.e. o
governo grego, que sabe que as metas orçamentais impostas nunca serão atingidas
com a austeridade imposta, deve comprometer-se a aplicar novas e automáticas
medidas de austeridade que resultem de novos falhanços da troika];
até 22 de julho
– a adopção do Código
de Processo Civil, que representa uma importante reformulação dos procedimentos
e disposições do sistema de justiça civil e pode acelerar significativamente o
processo judicial, bem como reduzir os custos [i.e. execuções de hipotecas, despejos e
liquidação de milhares de lares e de empresas que não estejam em condições de
continuar a pagar as suas hipotecas/ empréstimos];
– a transposição da Directiva Recuperação
e Resolução Bancárias, contando com o apoio da Comissão Europeia.
Somente após a
aplicação jurídica das primeiras quatro medidas supramencionadas e a aprovação
pelo Parlamento grego, bem como a verificação pelas Instituições e o Eurogrupo,
de todos os compromissos incluídos no presente documento se poderá tomar, de
forma imediata, a decisão de mandatar as Instituições para negociar um
Memorando de Entendimento [i.e. o governo do Syriza deve ser humilhado
tanto quanto lhe for pedido que o faça para impor uma dura austeridade como primeiro
passo para pedir outro empréstimo tóxico, do mesmo tipo dos que o Syriza ficou
internacionalmente famoso por combater].
A tomada dessa decisão
ficará sujeita à conclusão dos procedimentos nacionais e ao cumprimento das
condições prévias estabelecidas no artigo 13.º do Tratado MEE, com base na
avaliação a que se refere o n.º 1 desse artigo. Para que haja uma base para a
celebração bem-sucedida do Memorando de Entendimento, as medidas de reforma
propostas pela Grécia precisam de ser seriamente reforçadas para terem em conta
a situação económica e orçamental do país, que se deteriorou gravemente durante
o último ano [i.e. o
governo do Syriza deve aceitar a mentira de que foi ele, e não as tácticas de
estrangulamento dos credores, que causou a deterioração aguda da economia nos
últimos seis meses – ou seja, pede-se à vítima que assuma a culpa em lugar do agressor].
O Governo grego
precisa de se comprometer formalmente a reforçar as suas propostas [i.e. a torná-las mais recessivas e
desumanas] numa série de domínios
identificados pelas Instituições, com um calendário claro e satisfatório para a
adopção de legislação e a sua aplicação, incluindo marcos de referência
estruturais, etapas e marcos de referência quantitativos, a fim de haver
clareza quanto à orientação das políticas a médio prazo.
Em acordo com as Instituições, necessita
nomeadamente de:
– levar a cabo
ambiciosas reformas [i.e. cortes] das pensões e especificar políticas para
compensar integralmente o impacto orçamental da decisão do Tribunal
Constitucional sobre a reforma das pensões de 2012 [i.e. cancelar a decisão do Tribunal a
favor dos pensionistas] e implementar a cláusula de “défice
zero” [i.e.
cortar em 85% o complemento solidário para idosos que o governo do Syriza
defendeu com unhas e dentes nos últimos cinco meses] ou medidas
alternativas mutuamente aceitáveis [i.e. encontrar vítimas “equivalentes"] até outubro de 2015;
– adoptar reformas mais
ambiciosas para o mercado de produtos, com um calendário preciso para a
aplicação de todas as recomendações do Guia de Avaliação de Concorrência da
OCDE (volume 1) [i.e. as recomendações que a OCDE afastou após ter
redesenhado estas reformas em colaboração com o governo do Syriza], incluindo o comércio
ao domingo, as épocas de saldos, a propriedade das farmácias, o leite e as
padarias, com excepção dos produtos farmacêuticos não sujeitos a receita médica,
que serão incluídos numa próxima fase, bem como para a abertura de profissões
fechadas que são cruciais no plano macroeconómico (por exemplo, o transporte
por ferry). No seguimento do Guia de Avaliação da Concorrência da OCDE (volume
2), a indústria transformadora terá de ser incluída nas ações prévias;
– no que respeita aos
mercados da energia, prosseguir a privatização do operador da rede de
transporte de eletricidade (ADMIE) exceto se forem encontradas medidas de
substituição que tenham efeitos equivalentes na competitividade, conforme
acordado pelas Instituições [i.e. a ADMIE será vendida a interesses
instalados estrangeiros a mando das Instituições];
– no que respeita aos
mercados de trabalho, levar a cabo um reexame e uma modernização rigorosos da
negociação coletiva [i.e. assegurar que nenhuma negociação
colectiva será permitida], do direito à greve [i.e. que deve ser proíbida] e, em conformidade com
a directiva e as melhores práticas da UE nesta matéria, dos despedimentos colectivos [i.e. devem ser permitidos por capricho do patronato], em sintonia com o calendário e a abordagem acordados
com as Instituições [i.e. a troika decide].
Com base nestas
avaliações, as políticas do mercado de trabalho deverão ser alinhadas pelas
boas práticas internacionais e europeias, e não deverão passar pelo regresso a
políticas do passado que não são compatíveis com os objetivos da promoção do
crescimento sustentável e inclusivo [i.e. não pode haver mecanismos que o
trabalho assalariado possa usar para obter melhores condições por parte dos
empregadores];
– adoptar as medidas
necessárias para reforçar o sector financeiro, nomeadamente medidas decisivas
quanto aos empréstimos improdutivos [i.e. um tsunami de execuções fiscais está
iminente] e medidas para
reforçar a governação do Fundo Helénico de Estabilidade Financeira (HFSF na
sigla inglesa) e dos bancos [i.e. o povo grego que sustenta o HFSF e
os bancos não terá qualquer controlo sobre o HFSF e os bancos], eliminando, em particular,
qualquer possibilidade de ingerência política, sobretudo nos processos de
nomeação [i.e. à
excepção da interferência política da troika]. Além disso, as
autoridades gregas devem tomar as seguintes medidas:
– desenvolver um
programa de privatizações significativamente reforçado e com uma melhor
governação. Serão transferidos ativos gregos de valor para um fundo
independente que monetizará os ativos através de privatizações e de outros
meios [i.e.
um Treuhand à moda da Alemanha de leste deverá vender toda a propriedade
pública mas sem os investimentos equivalentes que a Alemanha Ocidental fez na
Alemanha Oriental em compensação pelo desastre do Treuhand **]. A monetização dos activos será uma das
fontes para proceder ao reembolso agendado do novo empréstimo do MEE, e gerar,
em todo o ciclo de vida do novo empréstimo, um total que se pretende que atinja os
50 mil milhões de EUROS, dos quais 25 mil milhões serão usados para o reembolso
da recapitalização dos bancos e outros ativos e 50% de cada euro remanescente
(ou seja, 50% de 25 mil milhões de EUROS) serão usados para reduzir o rácio
dívida/PIB e os restantes 50% serão usados para investimentos [i.e. a propriedade pública será vendida e
as magras receitas vão para o serviço de uma dívida impagável – nada sobrando
para o investimento público ou privado]. Este fundo será estabelecido na
Grécia e gerido pelas autoridades gregas sob a supervisão das Instituições
europeias pertinentes [i.e. ficará em nome da Grécia, mas, tal
como o HFSF e o Banco da Grécia, será controlado em absoluto pelos credores]. Mediante acordo com
as Instituições e com base nas melhores práticas internacionais, deverá ser
adoptado um quadro legislativo para garantir a transparência dos procedimentos e
a adequada fixação do preço de venda dos ativos, de acordo com os princípios e
normas da OCDE em matéria de gestão das empresas públicas [i.e. a Troika fará como
bem lhe aprouver];
– em consonância com
as ambições do Governo grego, modernizar e reforçar significativamente a
administração grega, e implementar um programa, sob os auspícios da Comissão
Europeia, para o reforço das capacidades e a despolitização da administração
grega [i.e.
tornar a Grécia numa zona onde a
democracia deixou de existir e passou a ser moldada em Bruxelas, uma
forma de governo alegadamente tecnocrático, que é politicamente tóxico e inepto
do ponto de vista macroeconómico]. Deverá ser apresentada uma primeira
proposta até 20 de julho, após os debates com as Instituições. O Governo grego
compromete-se a reduzir ainda mais os custos da administração grega [i.e. reduzir os salários mais baixos
enquanto aumenta um pouco os salários de alguns apparatchiks simpatizantes da
troika], em conformidade com o calendário acordado com as Instituições;
– normalizar
plenamente os métodos de trabalho com as Instituições, incluindo as necessárias
acções no terreno, em Atenas, a fim de melhorar a execução e o acompanhamento do
programa [i.e. a
troika contra-ataca e exige que o governo grego a convide a regressar a
Atenas como Conquistador – a “paz cartaginesa” em todo o seu esplendor]. O Governo precisa de
consultar as Instituições e acordar com estas em tempo útil todos os projectos
legislativos nos domínios relevantes antes de os submeter a consulta pública ou
de os apresentar ao Parlamento [i.e. o parlamento grego deve, uma vez
mais, após breves cinco meses de independência, ser um apêndice da troika –
aprovando leis traduzidas mecanicamente]. A Cimeira do Euro volta a realçar que a
execução é fundamental; nesse contexto, saúda a intenção das autoridades gregas
de lançar às Instituições e aos Estados-Membros, até 20 de julho, um pedido de
assistência técnica, e pede à Comissão Europeia que coordene este apoio da
Europa;
– com excepção da lei
da crise humanitária, o Governo grego reexaminará, tendo em vista a sua
alteração, a legislação introduzida que é contrária ao acordo de 20 de
fevereiro, voltando a alinhá-la pelos anteriores compromissos do programa, ou
identificará equivalentes compensatórios claros para os direitos adquiridos que
foram subsequentemente criados [i.e. para além de prometer que não voltará
a legislar de forma autónoma, o governo grego irá anular retroactivamente as
leis que aprovou nos últimos cinco meses].
Os compromissos acima
enumerados constituem os requisitos mínimos para encetar as negociações com as
autoridades gregas. No entanto, a Cimeira do Euro deixou bem claro que o início
das negociações não exclui um eventual acordo final sobre um novo programa do
MEE, que terá de basear-se numa decisão sobre a totalidade do pacote (incluindo
as necessidades de financiamento, a sustentabilidade da dívida e um eventual
financiamento intercalar) [i.e. autoflagelar-se, impor mais
austeridade a uma economia esmagada pela austeridade, e depois logo se vê se o
Eurogrupo nos enterrará com novos empréstimos tóxicos e insustentáveis].
A Cimeira do Euro toma
nota das possíveis necessidades de financiamento do programa, que oscilam entre
82 e 86 mil milhões de EUROS de acordo com a avaliação das Instituições [i.e. o Eurogrupo fez aparecer um número
gigantesco, bem maior que o necessário, para assinalar que a reestruturação da
dívida está afastada e que a escravidão da dívida ad infinitum
é a regra do jogo]. A Cimeira do Euro convida as
Instituições a explorar as possibilidades de reduzir o pacote de financiamento
através de uma via orçamental alternativa ou de um aumento das receitas das
privatizações [i.e.
pois sim, e até pode ser possível que os porcos consigam voar]. O restabelecimento do
acesso aos mercados, que constitui um objectivo de qualquer programa de
assistência financeira, reduz a necessidade de utilizar à totalidade do
envelope de financiamento [i.e. o que é algo que os credores farão
tudo para evitar, por exemplo assegurando que a Grécia só entrará no programa
de ‘quantitative easing’ do BCE em 2018, quando o ‘quantitative easing’*** chegar… ao fim].
A Cimeira do Euro toma
nota das prementes necessidades de financiamento da Grécia, que realçam a
necessidade de progredir muito rapidamente na obtenção de uma decisão sobre um
novo Memorando de Entendimento: de acordo com as estimativas, são necessários 7
mil milhões de EUROS até 20 de julho e mais 5 mil milhões de EUROS até meados de
agosto [i.e.
“adiar-e-fazer-de-conta”, aqui em nova versão]. A Cimeira do
Euro reconhece a importância de assegurar que o Estado soberano grego possa
pagar ao FMI e ao Banco da Grécia os montantes em atraso e honrar as suas
obrigações de dívida nas próximas semanas, a fim de criar condições que
permitam uma conclusão ordenada das negociações. Se as negociações não forem
concluídas rapidamente, será a Grécia a suportar todos os riscos [i.e. uma vez mais, pedem que a vítima
assuma a culpa em lugar do agressor]. A Cimeira do Euro convida o Eurogrupo a
debater urgentemente estas questões.
Atendendo aos graves
desafios com que se depara o sector financeiro grego, o pacote total de um
possível novo programa do MEE teria de incluir o estabelecimento de uma reserva
de 10 a 25 mil milhões de EUROS para o sector bancário a fim de responder às potenciais
necessidades de recapitalização bancária e aos custos de resolução, sendo que
10 mil milhões desse montante seriam disponibilizados imediatamente numa conta
separada no MEE [i.e. a troika admite que a recapitalização dos bancos
em 2013-2014, que, segundo ela, só necessitaria no máximo de uns 10 mil
milhões, foi insuficiente – mas, como é óbvio, deita as culpas… ao governo do
Syriza].
A Cimeira do Euro está
ciente de que uma rápida decisão sobre o novo programa é uma condição para
permitir a reabertura dos bancos, evitando assim um aumento do pacote de
financiamento total [i.e. A troika fechou os bancos da Grécia
para obrigar o governo do Syriza a capitular e agora clama pela sua reabertura]. O BCE/MUS procederá a
uma avaliação completa depois do verão. A reserva global permitirá suprir os
eventuais défices de capital na sequência da avaliação completa efetuada depois
de o quadro legal ter sido aplicado.
Existem graves
preocupações quanto à sustentabilidade da dívida grega [N.B. A sério? Ena!]. Isso deve-se ao
afrouxamento das políticas durante os últimos doze meses, o que resultou na
recente deterioração do enquadramento macroeconómico e financeiro a nível
interno [i.e.
não foram os “resgates” de adiar-e-fazer-de-conta de 2010 e 2012 que,
juntamente com a austeridade sabotadora do PIB, que levaram a dívida a escalar
para picos inimagináveis – foi a perspectiva, e a realidade, de um governo que
criticou os empréstimos dos “resgates” de adiar-e-fazer-de-conta que… levaram
à Insustentabilidade da Dívida!].
A Cimeira do Euro
recorda que os Estados-Membros da área do euro têm adoptado, ao longo dos
últimos anos, um considerável conjunto de medidas para apoiar a
sustentabilidade da dívida da Grécia, o que facilitou o serviço da dívida grega
e reduziu significativamente os custos [i.e. o 1º e 2º programas de “resgate”
fracassaram, a dívida disparou como não podia deixar de disparar, já que o
verdadeiro objectivo dos programas de “resgate” era transferir as perdas dos
bancos para os contribuintes europeus]. Sendo este o pano de fundo, no contexto
de um eventual programa futuro do MEE, e em consonância com o espírito da
declaração do Eurogrupo de novembro de 2012 [i.e. uma promessa de reestruturação da
dívida aos anteriores governos gregos que nunca foi cumprida pelos credores], o Eurogrupo
mantém-se disposto a ponderar, se necessário, possíveis medidas adicionais
(eventual alargamento dos períodos de carência e dos prazos de pagamento) a fim
de assegurar que as necessidades de financiamento brutas se mantenham a um
nível sustentável. Estas medidas ficarão dependentes da aplicação integral das
medidas a acordar num eventual novo programa, e serão ponderadas após a
primeira conclusão positiva da avaliação [i.e. Uma vez mais, a troika deixará o
governo grego trabalhar sob uma dívida impagável e quando, em consequência
disso, o programa falhar, a pobreza aumentar ainda mais e os rendimentos caírem
muito mais, então podemos cortar parte da dívida – como fez a troika em 2012].
A Cimeira do Euro salienta que não podem
ser efectuados cortes nominais da dívida [N.B. O governo do Syriza tem vindo a propor,
desde janeiro, uma reestruturação moderada da dívida, sem nenhum corte, tirando
o máximo partido das previsões do lucro actual líquido gerado pelos reembolsos da
Grécia aos credores – o que foi sempre recusado pela troika porque o seu
objectivo era, simplesmente, humilhar o Syriza]. As autoridades gregas
reiteram o seu inequívoco compromisso de honrar de forma integral e atempada as
obrigações financeiras que assumiram para com todos os seus credores [N.B. o que só poderá
acontecer após uma reestruturação substancial da dívida]. Desde que estejam
reunidas todas as condições necessárias contidas no presente documento, o
Eurogrupo e o Conselho de Governadores do MEE podem, em conformidade com o
artigo 13.º, n.º 2, do Tratado MEE, conferir mandato às Instituições para
negociar um novo programa do MEE, se estiverem reunidas as condições prévias do
artigo 13.º do Tratado MEE com base na avaliação referida no artigo 13.º, n.º
1. Para apoiar o crescimento e a criação de emprego na Grécia (nos próximos 3 a
5 anos) [N.B. Após destruírem o emprego e o crescimento nos últimos
cinco anos…], a Comissão trabalhará em
estreita colaboração com as autoridades gregas para mobilizar um montante que
poderá ascender a 35 mil milhões de euros (ao abrigo de vários programas da UE)
para financiar o investimento e a actividade económica, incluindo o investimento
nas PME [i.e. usará a mesma ordem de grandeza dos
fundos estruturais, mais algum dinheiro a fingir, como o que esteve disponível
em 2010-2014].
Como medida excepcional e atendendo à situação única da Grécia, a Comissão irá
propor um aumento de mil milhões de euros do nível de pré-financiamento para
dar um impulso imediato ao investimento, a analisar pelos colegisladores da
UE [i.e. dos tais 35 mil milhões anunciados,
considerem-se estes mil milhões como dinheiro a sério]. O Plano de Investimento
para a Europa**** também proporcionará oportunidades de
financiamento para a Grécia [i.e. o mesmo plano a que a
maioria dos ministros da zona euro chama um programa fantasma].
NOTAS
* PSI: acrónimo em inglês de « private
sector involvement » (“envolvimento do
sector privado”). Refere-se à intromissão dos mercados financeiros e outros interesses privados em assuntos de governo, como, por exemplo, as chamadas dívidas soberanas.
*** Quantitative easing (flexibilização
quantitativa) é um eufemismo escolhido para designar a política monetária
que os bancos centrais (como o Banco Central Europeu ou a Reserva
Federal Americana) adoptam quando decidem aumentar a oferta de dinheiro em circulação com dinheiro
“criado a partir do nada” – “creatio ex nihilo”−, usando-o para comprar
activos financeiros, nomeadamente dívida pública, aos bancos comerciais e outras
instituições financeiras (p.ex. seguradoras). Funciona desta forma:
Os bancos comerciais e
outras instituições financeiras detêm vários biliões de euros, dólares, etc., em
obrigações do Tesouro, bilhetes do Tesouro, etc., que seriam difíceis de vender na quantidade
que o banco central está disponível para comprar sem provocar uma queda
acentuada no seu preço (desvalorização desses activos), pelo que os bancos vão
mantendo essas obrigações em carteira.
Então, a dado momento, o
banco central, com dinheiro criado a partir do nada, compra essas obrigações e
esses títulos do Tesouro e esse dinheiro entra directamente nas contas dos
bancos comerciais e outras instituições financeiras em contrapartida pelas obrigações
vendidas.
Os bancos comerciais e
outras instituições financeiras, passam assim a dispor dessa liquidez, que se
espera que decidam usar para financiar as empresas e as famílias, de forma a
que possam investir ou a consumir mais, estimulando a economia como um todo.
****Plano de Investimento para a Europa, também conhecido por plano Juncker,