Temas 2 e 3
Três exemplos de interferência descarada da
União Europeia na expressão da vontade
popular: Geórgia, Roménia e Moldávia
Seguem-se quatro textos sobre este tema comum. O
primeiro é meu (JCS); os outros três são do major-general Raul Cunha, aqui republicados
com a devida vénia. O título do terceiro texto foi acrescentado por mim.
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Não votaram bem.
Temos de repetir a votação…
José Catarino Soares
Na Geórgia, os protestos contra o governo do partido “Sonho Georgiano” (recentemente reeleito, em 26 de
Outubro de 2024, com 53,93% dos votos
contra 37,79% de uma aliança de partidos da oposição) transformaram-se em
motins violentos, à semelhança do EuroMaidan em Kiev, em 2014, que precedeu o
golpe de Estado de 22 de Fevereiro de 2014 — a origem da primeira guerra na
Ucrânia: a que começou em 2 de Maio de 2014, até se fundir com a que começou em
24 de Fevereiro de 2022 e que se prolongou até hoje, sem fim à vista.
Um homem mascarado com uma bandeira da UE no meio de barricadas a arder; uma cena comum na Geórgia em Novembro e Dezembro de 2024. Foto de Daro Sulakauri. |
Qual é a razão dos protestos? A decisão da UE de
suspender indefinidamente o processo de pedido de adesão da Geórgia, devido à
aprovação, em Junho, de uma “lei da Transparência”
— entenda-se, uma lei sobre as organizações influenciadas e financiadas
pelo estrangeiro. A lei georgiana obriga a que todas as organizações não
governamentais ou meios de comunicação social do país que recebam pelo menos
20% do seu financiamento do estrangeiro se registem como grupos “ao serviço dos interesses de uma potência estrangeira”.
A hipocrisia e a russofobia da UE são patentes. Esta lei georgiana, que a UE diz ser inspirada numa lei russa de 2012 e ser contrária aos princípios e valores da UE, foi feita à semelhança de leis do mesmo teor que existem não apenas na Rússia, mas também em muitos outros países que a UE considera como campeões da liberdade e da democracia (“Lei dos agentes estrangeiros: ferramenta política usada dos EUA à Venezuela”, Público, 10 de Março de 2023).
É o caso, por exemplo, dos EUA, que têm uma lei
semelhante desde 1938, a Lei do Registo de Agentes
Estrangeiros (FARA, no acrónimo em inglês), que foi emendada nos anos
1960 para englobar grupos de influência e empresas que promovam interesses de
governos estrangeiros. É o caso também do Canadá e da Austrália, que têm leis semelhantes,
baseadas na lei americana.
Na União Europeia, países como a Hungria e a Bulgária
aprovaram leis semelhantes nos últimos cinco anos E, pasme-se, até Israel e a Ucrânia
(em 2018), que a UE considera como exemplos máximos do respeito pelos direitos humanos
(excepto, naturalmente, em Gaza, Cisjordânia, Lugansk, Donetsk, Zaporíjia, Quérson,
“territórios infestados de terroristas que têm de
ser exterminados”, como proclamam os seus dirigentes), têm também as suas
leis de registo de agentes estrangeiros.
Mas tudo isso pouco importa aos georgianos amotinados,
que culpam o governo georgiano ― que é declaradamente pró-UE, mas que se recusou
a adoptar sanções económicas contra a Rússia e que pretende manter boas
relações com ela ‒‒ pela decisão da UE de suspender o processo de adesão do
país a esta organização por causa dessa lei. Têm o apoio da presidente
cessante, Salome Zourabichvili, uma diplomata francesa [!] com uma carreira de
mais de 30 anos ao serviço do Estado francês, que muitos suspeitam que não
terminou com a sua eleição como presidente da Geórgia.
Esta senhora anunciou a sua recusa em abandonar o cargo, que termina este ano, enquanto não forem marcadas novas eleições legislativas no país, porque não lhe agradaram os resultados das que se efectuaram em Outubro de 2024. Belo exemplo de respeito pelo voto popular…Diz a senhora Salome que a Geórgia foi vítima da pressão de Moscovo contra a adesão à UE e instou os Estados Unidos e a UE a apoiarem os motins (!!). Ou seja, instou a UE e os EUA a fazerem… aquilo que acusa a Rússia de fazer: a interferência descarada nos assuntos internos da Geórgia!!
Acusação sem provas, convém acrescentar. Para que são
necessárias provas quando se trata de defender “a
ordem internacional baseada em regras” (ditadas pelos EUA), sobretudo
contra a Rússia? É óbvio que para os seus defensores vale tudo.
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Votar
até
que votem bem…
Raul Cunha
(in Facebook, 7-12-2024)
Na Roménia, o Ocidente deixou cair totalmente a máscara.
Quando um candidato anti-guerra ganhou a primeira volta das eleições
presidenciais, os gritos de indignação ouviram-se até Washington. Começaram logo a surgir ameaças de sanções —
porque, aparentemente, a democracia deixa de ser democrática quando não está
alinhada com os planos de guerra da OTAN. E só para que fique bem claro, o
tribunal constitucional da Roménia interveio dois dias antes da segunda volta,
declarando o processo inválido e determinando que fosse refeito.
E assim, anulou os resultados da primeira volta das
eleições presidenciais devido a uma alegada interferência russa ... através do
(atenção, que não dá para acreditar)... TikTok. 🤡
▪️Na prática, esta
decisão equivale a um golpe de Estado, só porque não gostaram do possível
vencedor.
▪️O que é
engraçado é que, por alguma estranha razão, esta gentalha sente-se no direito
de perorar sem parar e de dar palestras sobre Democracia.
▪️Pode ser vista
em seguida a primeira declaração de Călin Georgescu (o vencedor e suspeito de
ser pró-russo) após o cancelamento das eleições presidenciais:
“Neste mesmo dia, o Estado
romeno tomou a nossa democracia numa anedota e calcou-a (...) O sistema
corrupto na Roménia mostrou a sua verdadeira face e fez um pacto com o diabo.”
Antes de ser cancelada a 2ª volta das eleições, Georgescu
estava com uma vantagem de 63% nas sondagens contra 37% de Lasconi, portanto os
pró-Ocidente estavam prestes a perder e por isso mesmo tinham de impedir esse
facto [*].
A própria Elena Lasconi (à direita na foto), que ficou em segundo lugar na primeira volta das eleições presidenciais, protestou contra a sua anulação pelo Tribunal Constitucional da Roménia. |
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[*] Nota editorial (n.e). O argumento principal usado pelos seus adversários contra a inadmissibilidade da eleição de Georgescu, é o de que ele é um político de “extrema-direita”. Mas com esse argumento especioso, a porta fica aberta para banir (se necessário for com um golpe de Estado) todo e qualquer candidato eleito que não caiba no molde fabricado pelo “centrão”.
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Se
és Moldavo na diáspora podes votar,
mas
se viveres na Rússia não podes,
como compreenderás…
Raul Cunha
(in Facebook, 5-11-2024)
“Se disseres a verdade,
não tens de te lembrar de nada [“If you tell the truth, you don't have to
remember anything.”] ―Mark Twain.
A União Europeia foi cúmplice de uma fraude maciça nas
eleições que ocorreram na Moldávia, no referendo sobre a adesão à UE e na 1.ª e
2.ª voltas da eleição do Presidente.
No dia 3 de Novembro, ocorreu a segunda volta das
eleições presidenciais na Moldávia. De acordo com dados preliminares da
Comissão Eleitoral Central da Moldávia (controlada pela UE), a atual chefe de Estado
M. Sandu venceu, obtendo 55 % dos votos.
Não é exagero afirmar que esta foi a campanha eleitoral
mais antidemocrática em todos os anos da independência da Moldávia.
As suas características mais salientes foram:
― Uma repressão sem precedentes, por parte das
autoridades, contra a oposição e os meios de comunicação independentes, em
especial os de língua russa,
― Uma interferência descarada das lideranças ocidentais
no processo eleitoral, especialmente da Comissão Europeia e da Roménia,
― A utilização em larga escala de recursos
administrativos pelas autoridades, em favor da atual liderança do País.
Merece um especial destaque a discriminação oficial de Chisinau [capital da Moldávia, n.e.] contra os eleitores moldavos que vivem na Rússia. Para a diáspora moldava nesse país, cujo número, segundo várias estimativas, chega a 500 mil pessoas, apenas foram abertas duas assembleias de voto, tal como na primeira volta. Para efeitos de comparação, note-se que na Europa Ocidental e na América do Norte, onde também vivem cerca de 500 mil moldavos, foram formadas mais de 200 assembleias de voto e, em vários países, os cidadãos moldavos foram inclusivamente autorizados a votar pelo correio.
Os resultados da contagem dos votos permitem concluir
que, tal como nas últimas eleições presidenciais de 2020, a vitória de M. Sandu
foi assegurada pelos votos da diáspora moldava que vive nos países ocidentais,
enquanto a maioria dos residentes da própria Moldávia votou, de facto, contra a
atual presidente e o rumo enviesado e sectário das autoridades no poder.
Especialistas e cientistas políticos apontam inúmeras
violações e falsificações por parte das autoridades. Chamam a atenção para a
organização opaca do voto pelo correio, que abre oportunidades para fraudes.
As violações durante o processo eleitoral foram tão massivas e óbvias que mesmo a missão de observação da OSCE/ODIHR, conhecida pela sua parcialidade, não conseguiu fechar os olhos a tal facto nas suas conclusões preliminares. Foi flagrante o desrespeito de Chisinau pelas normas internacionais.
Votação no referendo sobre a adesão à UE, de 20 de Outubro de 2024, na Moldávia. |
Os resultados desta segunda volta das eleições
presidenciais confirmaram a existência de uma divisão profunda na sociedade
moldava, que se manifestou também durante a primeira volta e no referendo sobre
a adesão à UE.
Esta polarização foi provocada pelas políticas sectárias
da liderança do país e pela contínua interferência grosseira das lideranças
ocidentais nos processos políticos internos da Moldávia.
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Democracia
de fachada,
mas
controlo da verdade!
Raul Cunha
(in Facebook,
8-12-2024)
Moldávia. Roménia. Geórgia. É o mesmo guião, reescrito
para diferentes fases. O Ocidente adora a democracia, mas apenas quando esta
apresenta os resultados desejados. Quando o povo vota contra a narrativa
aprovada...? Caiem as máscaras e o mecanismo de coação entra em funcionamento:
bloqueios de estradas, tribunais, protestos, manifestações, sanções. Não
importa a vontade do povo; o que está em causa é a vontade de Bruxelas e de
Washington.
Isto é a democracia, ao estilo ocidental — uma roleta manipulada onde a casa ganha sempre. A Moldávia, a Roménia e a Geórgia são apenas os últimos nessa mesa, com a sua soberania vendida pela ilusão de escolha. A mensagem é clara: “Pode votar como quiser, mas se não escolher corretamente, nós escolheremos por si!”
Concordo na totalidade .
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