Neste blogue discutiremos 4 temas: 1. A linguagem enganosa. 2 As estruturas e os processos de desumanização criados pelas oligocracias contra a democracia. 3. A economia política (e.g. Petty, Smith, Ricardo, Sismondi), remodelada e crismada (no fim do século XIX) de "economia matemática", a qual teria o direito de se proclamar "ciência económica" (Ingl. economics) — um direito que não lhe será reconhecido aqui. 4. A literatura imaginativa (prosa e poesia).

26 junho, 2025

 

O QUE VIRÁ DEPOIS DO FIM DA AGRESSÃO AMERICANO-SIONISTA AO IRÃO?

 

Uma declaração da “Iniciativa Um só Estado Democrático [*] 

26-06-2025

(Tradução de José Catarino Soares)


Muro que separa Israel da Cisjordânia, mandado construir por Ariel Sharon [1928-2014], primeiro-ministro de Israel de 2001 a 2006.


A agressão americano-sionista ao Irão terminou abruptamente, sem que a colónia [entender: Israel, n.d.t.] atingisse qualquer dos seus objectivos declarados: efectuar uma mudança de regime e acabar com o programa nuclear [do Irão]. O regime iraniano sofreu perdas, mas está longe de ter sido desestabilizado; e embora não se saiba ao certo que danos sofreram as instalações nucleares iranianas, elas ainda lá estão, juntamente com o urânio enriquecido e os conhecimentos científicos necessários para prosseguir com o programa nuclear. A busca de dominação incontestada por parte da colónia falhou até agora, mas a sua sede de dominação não. É por isso que é crucial que os palestinianos e os árabes, bem como os israelitas e o resto do mundo, aprendam com o que aconteceu e transformem esse conhecimento em acções políticas concretas.

OS PALESTINIANOS E OS ÁRABES, PARTICULARMENTE NA REGIÃO AL-SHAM, TÊM DE RECONHECER A NECESSIDADE DE UM PROGRAMA POLÍTICO PRÓPRIO

Temos de compreender que nem a República Islâmica do Irão nem ninguém se apressará a salvar-nos. A República Islâmica, que não se mexeu para impedir o genocídio [em Gaza, n.d.t.], mexeu-se para proteger os seus próprios interesses e depois manteve Gaza fora do acordo de cessar-fogo. É isto que os Estados fazem: procuram zelar pelos seus próprios interesses, não os dos outros. A colónia, o Irão, a Turquia e outros Estados têm programas políticos. Onde está o nosso programa?

Temos de reavivar o nosso programa e regressar à visão histórica de um só Estado palestiniano democrático. Isto não significa esperar que os dirigentes políticos existentes o façam, mas sim criar e aderir a organizações políticas libertadoras e democráticas que desafiem as direcções políticas existentes. Em Gaza, estas organizações desempenhariam um papel no “dia seguinte[à desocupação por Israel, n.d.t.]. Na Cisjordânia, trabalhariam para prevenir a próxima destruição étnica, talvez em linha com o documento “Palestinianos, previnam-se contra a ameaça de uma próxima Nakba!”. Na Palestina de 1948, teriam encontrado formas de desempenhar um papel fora da estrutura sionista.

Na diáspora, estas organizações desenvolveriam a capacidade política, mediática e organizacional para desafiar a hegemonia cultural sionista e participar em movimentos descolonizadores locais. E nos países vizinhos não estatais [entender: não soberanos, n.d.t.], como o Líbano, a Síria ou a Jordânia, é necessário juntar movimentos com um programa político para o estabelecimento de Estados que rompam com os actuais modelos identitários e coordenem esforços contra a normalização.

OS ISRAELITAS TÊM DE COMPREENDER QUE O SIONISMO FALHOU

A sua afirmação de que só abandonando as suas sociedades de origem e criando uma nova sociedade, “etnicamente pura”, com um Estado exclusivamente para eles, é que os judeus podem estar seguros, provou ser falsa. Não só o exército de ocupação israelita não conseguiu subjugar a resistência palestiniana numa pequena área sitiada, como também não conseguiu mantê-la a salvo dos mísseis iranianos e infligir quaisquer danos duradouros ao Irão.


Uma imagem com ar livre, céu, edifício, viagem

Os conteúdos gerados por IA podem estar incorretos.

Uma bandeira de Israel assinala a área onde foram construídas novas casas de um colonato israelita ilegal na Cisjordânia. 25/10/2021.Fonte: AP -Ariel


Que outra reacção se poderia esperar da colonização, do apartheid e do genocídio perpetrado pelos colonos [israelitas] na Palestina e na região? Serão os edifícios destruídos em toda a colónia a segurança que o sionismo prometeu? A dependência total do apoio dos Estados Unidos é a “auto-determinação judaica”? O que acontecerá quando, por qualquer razão, um governo americano decidir deixar de apoiar a colónia?


Muro que separa a Faixa de Gaza de Israel, mandado construir, em 2023, por Benjamim Netanyahu, actual primeiro-ministro de Israel


É tempo de os israelitas abandonarem o sionismo. Alguns estão a optar por deixar a Palestina neste momento, enquanto outros estão a optar por trabalhar com os palestinianos para desmantelar o Estado dos colonos e estabelecer a sua antítese: um só Estado palestiniano democrático onde os habitantes de todas as identidades [étnicas e religiosas, n.d.t.] possam viver juntos como faziam antes do sionismo. Quantos mais o fizerem e quanto mais cedo o fizerem, mais perto estaremos todos da verdadeira segurança — segurança baseada na descolonização, na justiça e na dignidade e não na opressão.

O RESTO DO MUNDO TEM DE COMPREENDER QUE A COLÓNIA É UM AMEAÇA PARA O MUNDO INTEIRO

 Não está apenas a cometer genocídio na Palestina e a destruir países vizinhos. Iniciou uma campanha de bombardeamento do Irão, que fica a 1.500 km de distância, sem ser provocada. Chegou mesmo a visar aliados, cortando o fornecimento de gás à Jordânia, e vozes sionistas pronunciaram-se recentemente a favor de acções militares contra o Egipto, o Paquistão, o Qatar e a Turquia.

O que impedirá a colónia de atacar Chipre, a Grécia ou outros países se sentir que estes representam uma ameaça para si, talvez até alargando o seu âmbito de agressão se se tornar mais forte nos próximos anos? O que acontecerá se recorrer à “opção Sansão” e utilizar as suas armas nucleares de forma preventiva caso se sinta ameaçada por uma ameaça militar convencional? Poderá o mundo dar-se ao luxo de tolerar a existência de um Estado tão desonesto?

As últimas semanas, anos e décadas mostraram que a colónia é uma ameaça para todos na Palestina, na região de Al-Sham e no mundo. A “Iniciativa Um Só Estado Democrático” apela a todos para irem além dos meios de protesto a que temos recorrido até agora e para se juntarem a organizações políticas que se unam em torno de uma visão que seja a antítese do projecto sionista: Uma visão de um só Estado democrático, do rio [Jordão] ao mar [Mediterrâneo], e de uma verdadeira democracia para além do rio e do mar.

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[*]Fonte: https://mobadara.ps/en/statements/what-comes-after-the-end-of-the-us-zionist-aggression-on-iran/

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[n.d.t.= nota do tradutor]

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